O Plano Real, lançado em julho de 1994, foi um marco na história econômica do Brasil e decisivo para moldar os novos hábitos de consumo. Trinta anos após a implementação do plano, muita coisa evoluiu e se transformou, e, claro, no centro de todas essas mudanças está o consumidor.
Entender os impactos das últimas três décadas e os eventos que mudaram os paradigmas no comportamento do consumidor e o consumo não linear é a proposta do recente estudo da NielsenIQ, que buscou entender as nuances do comportamento de consumo no país nos últimos 30 anos e como as marcas podem se posicionar para capturar essas novas oportunidades.
Para contextualizar, antes do Plano Real, o Brasil enfrentava uma inflação que corroía o poder de compra da população. A estabilização econômica trazida pelo plano permitiu que os brasileiros recuperassem sua capacidade de planejamento financeiro e o acesso ao crédito foi ampliado, permitindo que milhões de brasileiros tivessem acesso à classe média. Isso porque produtos que antes eram considerados inacessíveis passaram a fazer parte do dia a dia de muitas famílias.
Marcos da transformação econômica
Três aspectos importantes marcaram as transformações econômicas e sociais no Brasil apontadas no relatório da NielsenIQ nas últimas três décadas: estabilidade econômica, acesso ao crédito e aquisição de bens consolidados. Mas outros aspectos também foram responsáveis por contribuir com a mudança dos comportamentos dos consumidores brasileiros.
Estabilidade Econômica
Nas últimas décadas, o Brasil passou por mudanças em sua economia, especialmente no controle da inflação. No passado, a inflação foi um dos maiores desafios econômicos do país, gerando incerteza e instabilidade. Contudo, com políticas econômicas mais rigorosas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu.
Em 2024, o IPCA registrou uma taxa de 3,69%, um marco importante, embora ainda um ponto de atenção para consumidores. Essa redução na inflação trouxe um ambiente econômico mais previsível, facilitando o planejamento tanto para empresas quanto para consumidores.
Acesso ao Crédito
O acesso ao crédito foi outro fator transformador na economia brasileira. Entre 2003 e 2008, o país viu mais de 32 milhões de brasileiros ascendendo na classe média. Esse crescimento foi um reflexo direto das políticas de inclusão financeira e do aumento da oferta de crédito. Em 2012, a classe média representava 53% da população, um aumento em comparação aos 38% em 2002.
De acordo com o relatório, a classe média representa atualmente 47% da população. Essa expansão teve um impacto profundo no poder de compra e na qualidade de vida da população.
Aumento na posse de bens duráveis
O aumento no acesso ao crédito e à estabilidade econômica desenvolvida foi determinante para que os brasileiros pudessem adquirir bens consolidados.
O relatório destaca que houve um crescimento notável na posse de itens como geladeiras, TVs e máquinas de lavar roupa nos domicílios brasileiros. Vale lembrar que esses bens, antes considerados luxos para muitas famílias, tornaram-se mais acessíveis, melhorando as condições de vida e facilitando o dia a dia de milhões de pessoas.
Mudanças de paradigmas do consumidor
A última década foi marcada por uma série de crises econômicas, políticas e sanitárias, que impactaram profundamente o comportamento do consumidor brasileiro. A preocupação com as mudanças climáticas e o bem-estar tornou-se central, influenciando diretamente as decisões de compra.
Redes sociais
O impacto das redes sociais nas decisões de compra tornou-se inegável. De acordo com os dados do relatório, 56% dos consumidores brasileiros afirmam que as redes sociais influenciam suas decisões de compra.
O que chama atenção nesses dados é o poder da viralização online e a importância de uma presença digital para as marcas. Plataformas como Instagram, Facebook e TikTok além de promover produtos, marcas e serviços também estão moldando as percepções e comportamentos por meio de influenciadores digitais e conteúdo patrocinado.
Tempos de crise
Mesmo diante de uma inflação crescente e recessão econômica, produtos de indulgência como salgadinhos e creme de chocolate mantiveram um crescimento em volume. A pandemia da COVID-19 acentuou essa tendência, com consumidores buscando pequenas compreensões como forma de equilibrar as adversidades econômicas e emocionais. Até porque, esses produtos oferecem uma sensação de conforto e prazer, desempenhando um papel importante no bem-estar emocional dos consumidores durante períodos de incerteza.
Endividamento e consumo racionalizado
Outro ponto destacado na análise, mostra que a classe C, mais afetada pelo endividamento, adaptou seu comportamento de consumo de maneira significativa. Para maximizar o custo-benefício, muitos consumidores da classe social reduziram o volume de consumo, optando por produtos mais baratos e embalagens maiores.
O consumidor multiverso/Não-linear
O relatório Full View da NielsenIQ introduz o conceito do consumidor multiverso, um perfil multifacetado que revela novas dimensões de desejos e necessidades. De acordo com o estudo, este consumidor navega entre diferentes categorias de produtos e canais de venda, sendo altamente influenciado pelas redes sociais e pela viralização online.
Na análise do relatório, as escolhas de consumo são complexas e não lineares, exigindo das marcas uma compreensão aprofundada e estratégias diferenciadas para capturar oportunidades de mercado.
- Geração Z e Millennials: a Geração Z passa mais tempo em pesquisas online, e 56% desses jovens dizem ser influenciados pelas redes sociais nas decisões de compra. Sites de busca, comparadores de preço e redes sociais são os principais canais utilizados;
- Elasticidade e estratégias de preço: marcas premium e econômicas (High e Low) crescem 50% acima do mainstream, mostrando a importância de uma estratégia de diferenciação para capturar o consumidor.
Cenário restritivo
Após duas décadas de estabilidade trazida pelo Plano Real, o comprador brasileiro passou a enfrentar um cenário mais restritivo a partir de 2013, com os efeitos da crise econômica e política. A situação econômica adversa resultou em um aumento do endividamento e uma aceleração da inflação, que chegou aos dois dígitos no ano seguinte, impactando diretamente o poder de compra da população.
Para manter o bem-estar adquirido nos anos de estabilidade, os consumidores adotaram diversas estratégias de adaptação. Entre as principais mudanças no comportamento de compra, destacam-se:
- Redução do consumo fora do lar e de supérfluos: os consumidores começaram a evitar gastos desnecessários e a priorizar produtos essenciais;
- Diversificação de canais de compra: buscando melhor custo-benefício, os brasileiros passaram a explorar diferentes canais de venda, incluindo mercados locais e plataformas online;
- Diminuição das idas aos pontos de venda: adotando a prática da “compra do mês”, os consumidores reduziram a frequência de visitas aos pontos de venda, preferindo realizar compras maiores e menos frequentes para aproveitar promoções e descontos;
- Busca por embalagens econômicas: a procura por opções de produtos com embalagens maiores ou promocionais se intensificou, permitindo um desembolso mais eficiente e econômico;
- Troca de marcas por opções mais baratas: em busca de economia, muitos consumidores trocaram marcas tradicionais por alternativas mais acessíveis, sem abrir mão da qualidade essencial;
- Redução do volume de compras: racionar as compras e controlar o volume de produtos adquiridos tornou-se uma prática comum para manter o orçamento sob controle.
Por outro lado, o relatório constatou que o hábito de compras online cresceu e muito. A expansão do e-commerce, como categorias de FMCG (Fast-Moving Consumer Goods, em tradução livre, bens de consumo rápido) estão ganhando espaço nos carrinhos de compra online, com destaque para alimentos e bebidas, cosméticos e saúde.
De acordo com os dados, o faturamento dos canais de vendas do Brasil chega a R$ 1,4 trilhões. Sendo que 35% dos lares declararam ter comprado em algum aplicativo no último ano.
De fato, as transformações no cenário econômico e social brasileiro moldaram um consumidor muito mais exigente, informado e consciente. A influência das redes sociais, a racionalização no consumo devido ao endividamento e o hábito de compras online estão redesenhando o panorama do consumo no Brasil.
CCX
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