A Trigg surgiu há um ano e meio, em março de 2017, para ser uma opção aos serviços de crédito no cartão, um dos tradicionalmente mais contestados pelo consumidor. A empresa começou apostando em pequenas ofertas de crédito no cartão e hoje já chama a atenção de grandes empresas, como a Visa, uma das maiores parceiras da startup.
Apesar da rápida ascensão da Trigg, em apenas um ano e meio de operação, o desenvolvimento da ideia foi algo trabalho com calma e durou cerca de dois anos até que fosse lançada no mercado. “A ideia já era criar um meio de pagamento totalmente diferente. Mas a gente olhava para o Nubank e pensava, o que a gente precisa fazer de diferente? Quando a gente olhava o perfil do nosso cliente, as demandas eram todas as que os bancos já ofereciam”, conta Marcela Miranda, head da Trigg.
Marcela conta que a empresa fez uma pesquisa de campo para poder entender de maneira mais completa o perfil do consumidor da Trigg. “Perguntamos aos millennials não o que queriam do seu cartão de crédito, mas o que eles queriam de maneira geral. Foram oito meses de pesquisa, contratamos antropólogos e fomos visitar nossos clientes nas casas deles, sem avisar”, conta a criadora da startup.
Ela afirma ainda que, quando o aplicativo foi colocado na rede, foi preciso pensar a usabilidade para além da ferramenta on-line. A primeira ideia da Trigg foi seu cartão vertical, que não foi bem recebido pelos varejistas por ser algo diferente do usual. Hoje, ainda, a empresa precisa bancar a inovação antes de o varejo aceitar. Os fundadores da empresa afirmaram, durante visita criativa na sede da empresa em uma das atividades do festival de inovação Whow!, que a Visa vem sendo um aliado importante no papel de convencimento dos lojistas sobre a necessidade de abrir espaço para o novo.
Marcela diz que a Trigg chamou a atenção do mercado ao se entender como um meio de pagamento capaz de ir além do que fazem as tradicionais empresas do setor. “No final das contas, somos uma empresa de cartão de crédito, como tantas outras tradicionais. Mas a gente vê o que pode ser feito no que diz respeito a melhorar a experiência do cliente”, completa.
Uma das soluções é a pulseira contactless, ainda em processo inicial de implementação, mas encarada pela equipe da Trigg como uma tecnologia potencial, em especial com as novas regras impostas às fornecedoras de maquininhas, que terão que oferecer, a partir de outubro deste ano, terminais capazes de realizar transações via essa tecnologia.
Outra solução na qual a empresa vem apostando é de pagamento sem que o consumidor precise de aparelho nenhum. A ideia é oferecer sistemas capazes de realizar transações exigindo do consumidor apenas seu CPF vinculado à uma conta da Trigg e uma senha, que ele digitará no terminal da loja para realizar o pagamento.
Enquanto essa tecnologia não ganha corpo, a Trigg também vem trabalhando com o sistema Samsung Pay, que garante unificar as contas dos consumidores em um único local. Com o Samsung Pay, ao trocar de cartão, o consumidor não precisa ter o trabalho de alterar suas senhas nos serviços que ele consome frequentemente na internet, como Netflix, Uber e Spotify. O sistema já atualiza as contas automaticamente, o que garante à Trigg um potencial ainda maior, já que a empresa ganha mercado especialmente em cima dos serviços tradicionais de cartão de crédito.
Inadimplência
A empresa também tem atuado forte na área de private label, criando cartões para empresas tradicionais do varejo, como a C&A. Além disso, tem um serviço de empréstimo pessoal via cartão, com um crédito liberado antecipadamente para uso cotidiano. A empresa garante que a taxa de inadimplência não foge à média do mercado e que foi a primeira no Brasil a fazer análise de crédito sem precisar do trabalho humano. Agora, uma nova plataforma de negociação on-line das dívidas no cartão está saindo do forno para facilitar a quitação das faturas em atraso.
A capacidade da Trigg de realizar o processo de análise de crédito abaixo do tempo das outras empresas se mostrou uma dificuldade para empresa, por incrível que possa parecer. O consumidor entranhava a velocidade e contestava a credibilidade do serviço. A estratégia foi atrasar um pouco a conclusão do processo, acompanhando os demais prazos do mercado.
A equipe da Trigg aponta que o mercado vem se mostrando receptivo para algumas inovações, como, entre outras coisas, poder fazer as compras pelo cartão antes de ele ter chegado em suas mãos, algo que a Trigg fez primeiro, segundo os fundadores. Por outro lado, algumas outras facilidades ainda encontram resistência por parte do consumidor, mas, em especial, por parte do varejista.
Para eles, o varejista pensava que a sua principal carência é o crédito, mas o mindset parece está mudando e que os lojistas começam a entender que é preciso identificar as novas formas de transação que a economia já contempla. Para a Trigg, o cartão físico tem seus dias contados.
Assim como a mudança do dinheiro para o cartão foi disruptivo e um tanto assustadora em seu primeiro momento, agora, a ausência de qualquer objeto ou aparelho de porte do consumidor também parece estranho. Mas, aparentemente, não por muito tempo. E assim que o consumidor absorver essa cultura, o varejo precisa se colocar pronto para mudar também.