Há meses, o Sudeste, tendo São Paulo como foco, está passando por uma crise no abastecimento de água. Na ponta da questão das torneiras secas, despressurização na distribuição (para muitos, o quase sempre negado racionamento) e políticas públicas que acusam as mudanças climáticas como causa e efeito da situação, temos a população, ora mostrando-se indignada e cada vez mais preocupada, ora flagrada em cenas de desperdício e pouco caso com o problema. Neste momento a pergunta mais frequente é: ?o que faremos se a água acabar??.
Segundo Dr. Jô Furlan, pesquisador na área da Neurociência do Comportamento, a delicadeza do momento social está mobilizando todos e este é só o começo de uma longa reflexão sobre nossos instintos primitivos. ?Debater o tema tornou-se comum entre as rodas de amigos, o que é bom, pois estamos discutindo mais a política feita em nosso país. Porém, pouco vejo a questão histórica, de que os povos como um todo sempre batalharam por terra e água de maneira parasita, sendo discutida. Por exemplo, ainda não percebemos que o desespero só está acontecendo agora porque sugamos todas as fontes ao máximo, seja por parte da população ou dos representantes políticos. Por exemplo, viajando por todo o Brasil ainda reconheço aquele indivíduo que não muda o seu comportamento e continua agindo como se não estivéssemos vulneráveis ao extremo com a hipótese mais temida da humanidade. Esses esqueceram que a água é a base de nossa sobrevivência. Sem ela as pessoas podem perder os filtros sociais e agir como na Era das Cavernas, em que a luta pela vida era muito mais acirrada?, completa.
Para ele, se a crise não for remediada e as consequências de uma possível seca tornarem-se reais, pode haver uma mobilização social como ainda não vimos no país. ?Será a primeira vez que veremos, de maneira explícita, como o ?jeitinho brasileiro? não funciona para tudo e estaremos expostos a situações extremas, que terão causas com a mesma proporção. Pensemos. Por muito menos as pessoas sentem-se no direito de destruir o patrimônio público e alheio, de invadir terrenos e outros atos considerados desumanos. Imagine quando nossos recursos naturais estiverem em locais bem específicos e nas mãos de poucos. Para alguns, será a oportunidade de elevar preços de produtos essenciais e enriquecer às custas do momento, enquanto para outros será o green card para a algazarra, pois o respeito à necessidade do outro estará cada vez mais esquecido. Devemos estar preparados para tudo, pois uma vez que este instinto animal preso dentro de nós aflorar, não haverá regra ou padrão de comportamento que o segure. Será a banalização do conflito?, completa.
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