A BYD – fabricante chinesa de carros elétricos e híbridos – superou as vendas globais da Tesla, que por sua vez apenas produz carros elétricos. Em 2023, a organização de Elon Musk vendeu 1,8 milhão de unidades, número que representa um avanço de 38% em relação ao ano interior. Já a BYD vendeu 1,57 milhões e veículos elétricos e 1,44 milhão de carros híbridos, mostrando que a marca está pronta para competir pela liderança de um mercado que cresce em número de players.
A Volvo, por exemplo, tem a meta global de comercializar apenas carros elétricos até 2030. Em 2021, a BMW também anunciou que, a partir de 2025, pretende aumentar a participação de veículos elétricos em 50% com seu modelo Neue Klasse, enquanto também reduz a pegada de carbono em todo o ciclo de vida dos seus automóveis. Já em 2023, a expectativa é oferece uma dúzia de modelos 100% elétricos.
Por outro lado, a Ford anunciou o adiamento do investimento de US$ 12 bilhões na produção de veículos elétricos. Já a General Motors (GM) deixou de lado o objetivo de produzir 400 mil carros elétricos em meados de 2024. Por fim, a Volkswagen cancelou a construção de uma fábrica de veículos movidos a bateria na Alemanha, a um valor de US$ 2 bilhões.
Ritmo mais lento para veículos elétricos
No Brasil, as vendas cresceram 91% na comparação com 2022, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Por outro lado, o ritmo de crescimento das vendas globais de carros elétricos diminuiu em 2023 na comparação com os anos anteriores. Há alguns motivos para isso, como o valor mais alto dos veículos elétricos em relação a modelos a combustão, uma rede de abastecimento ainda limitada, e até mesmo um desconhecimento sobre o funcionamento desses automóveis e preocupações relacionadas à quilometragem rodada pela bateria.
No Brasil, por exemplo, o Governo Federal definiu um imposto de importação entre 10% e 12% para veículos a bateria e híbridos plug-in, com aumento escalonado até atingir 35% em julho de 2026. Já nos Estados Unidos, há uma taxa de importação de 27,5% para veículos chineses. Na Europa, a tarifa é de 10%, apesar de oferecer benefícios de tributação para carros elétricos e híbridos. Além disso, o preço da gasolina – que foi um forte motivador para consumidores adquirirem um carro movido a uma fonte de energia mais barata – diminuiu em todo o mundo.
Agora que o hemisfério norte passa pela temporada de inverno, diversos donos de veículos elétricos reportaram menor eficiência das baterias dos carros, que estão durando menos do que em outras estações do ano. Segundo a American Automobile Association (AAA), quando as temperaturas atingem abaixo de 20 °F – aproximadamente menos 6 °C – e o ar-condicionado está funcionando, as baterias de lítio dos carros elétricos perdem uma média de 41% de sua capacidade.
Há também uma rede de recarga elétrica ainda insuficiente para a demanda esperada. No Brasil, o mês de maio de 2023 fechou com 3.200 pontos de recarga. Segundo a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), a previsão é que o país amplie essa rede para 80 mil pontos até 2030.
O dilema da sustentabilidade
Por mais que o ritmo das vendas de carros elétricos tenha diminuído em todo o mundo, organizações e governos ainda dão sinais de que pretendem investir na tecnologia e alavancar o consumo. A ABVE prevê que, somente em 2024, 150 mil unidades de veículos elétricos serão emplacados no Brasil. Já o governo de Joe Biden, nos Estados Unidos, colocou como meta que, até 2030, metade de todas as novas vendas de veículos em todo o país seja elétrica. A iniciativa faz parte do esforço para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, que tem boa parte de sua origem no setor de transportes.
No entanto, para zerar as emissões e tornar a produção e o consumo de veículos elétricos verdadeiramente sustentáveis, ainda há desafios a serem superados. Por mais que não ocorra a queima de combustíveis, como diesel e gasolina, o produto ainda deixa uma longa pegada de carbono na produção das baterias. Os veículos levam minérios como cobalto, níquel, lítio e manganês em seu processo de fabricação. Uma vez que a demanda por veículos elétricos deverá crescer ao longo dos próximos anos, também crescerá a busca por esses minérios – que são finitos.
O problema é que nem sempre a origem dessas matérias-primas são rastreáveis. Em 2016, a Anistia Internacional publicou um relatório sobre os abusos contra os direitos humanos na extração de cobalto na República Democrática do Congo, que conta com uma grande reserva do minério. Lá, foram identificadas condições de trabalho precárias, trabalho infantil, além de mortes de trabalhadores nas minas de extração.
Além disso, produzir as baterias de lítio gera boa parte das emissões de gases de efeito estufa embutidas em carros e caminhões elétricos – entre 40% e 60% das emissões de toda a produção dos veículos, segundo relatório da McKinsey.
Estradas para os carros elétricos
A boa notícia é que algumas soluções podem ser tomadas para mitigar os impactos sobre as condições de trabalho nas minas em todo o mundo, assim como sobre a pegada de carbono: a reciclagem.
Ainda segundo o estudo da McKinsey, a pegada de carbono dos materiais reciclados de bateria é, em média, quatro vezes menor do que o uso primário. A Apple anunciou em abril de 2023 que, até 2025, usará apenas cobalto 100% reciclado nas baterias de seus dispositivos como iPhone, Macbook e iPad. Não só isso como os imãs de aparelhos e placas de circuito impresso serão também fabricados a partir de minérios totalmente reutilizados.
Mas ainda é difícil prever como as baterias que hoje estão em uso nos veículos elétricos estão sendo reciclados ou reutilizadas, como aponta artigo da Universidade de Campinas (Unicamp). A análise também aponta que, hoje, os carros híbridos movidos tanto a energia elétrica quanto a biocombustível possuem uma emissão de gases de efeito estufa menor do que carros totalmente elétricos, tanto no Brasil quanto na Europa. Uma vez que o Brasil conta com uma matriz energética muito limpa com a distribuição de etanol e biometano, os veículos movidos por esses combustíveis acabam sendo menos poluentes do que carros elétricos utilizados na Europa.
Ainda há desafios para os veículos elétricos triunfarem – não só entre os consumidores, mas também em relação à diminuição da pegada de carbono gerada pela fabricação. As mudanças não acontecerão da noite para o dia, mas o caminho já está traçado para as organizações levarem seus produtos muito adiante.