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É o caos? É a moda? É a revolução? Não, é a Inteligência Artificial

É o caos? É a moda? É a revolução? Não, é a Inteligência Artificial

O assunto que domina conversas, angústias e atenção: como lidar com um mundo onde a Inteligência Artificial ocupa espaços, tem ideias e toma decisões?

Há exatamente um ano, o mundo foi revirado de cabeça para baixo. O lançamento do ChatGPT 3.5 (e a versão paga, GPT-4) mostraram um sistema realmente capaz de conversar fluentemente em diversas línguas, com simulação cognitiva humana, sobre praticamente qualquer assunto e com habilidades espantosas. Temores sobre o futuro da humanidade ganharam páginas de jornais, consumiram o pensamento dos especialistas e atraíram a atenção desenfreada dos reguladores. Qual é o futuro da humanidade agora que Inteligências Artificiais (IAs) claramente multifuncionais convivem conosco?

A amplitude de alcance das IAs generativas parece ilimitado. Elas podem acelerar a velocidade de execução de tarefas anteriormente consideradas intelectuais com precisão surpreendente. Enquadram-se no conceito que Clayton Christensen elaborou em “Dilema da Inovação”: basta ser boa o suficiente para confrontar o incumbente. E aí falamos de uma série de atividades e profissionais que ascenderam sob o manto de “habilidades e talentos”: atividades ligadas ao uso de comunicação: agentes de relacionamento, advogados e petições iniciais e jurisprudências, jornalistas e relatos imparciais, produção de artigos, organização de conteúdos, classificação e sistematização de planos, produção de apresentações, diagnósticos e assim por diante.

Mas essas atividades corriqueiras – relevantes -, com alto grau de predição e sistematização, podem aprimorar a qualidade do trabalho humano. A colaboração entre humanos e IAs, definidos GuardRails eficientes para mitigar adoção e desenvolvimento de vieses é possibilidade real e traz ganhos ainda não mensurados para a produtividade e a liberação da capacidade humana para atuar sobre o imprevisto, o aleatório e o desconhecido. Aí, novamente, acelerando pesquisas e testes, será possível observar uma segunda dimensão da atividade das Inteligências Artificiais.

Todas essas questões estão permeando as discussões profissionais, acadêmicas e políticas no mundo. Eventos dedicados a explorar o alcance da IA se multiplicam na velocidade de uma resposta do Google. O Web Summit, conferência anual e global de tecnologia e inovação, não fugiu da corrente – ao contrário. Ele a incorporou com voracidade. O evento, que ocorre em Lisboa anualmente (e agora com edições no Qatar, em fevereiro, e no Rio de Janeiro, em abril), dedicou um palco e muitos outros conteúdos espalhadas pelas trilhas de palestras durante esta semana. E o que os especialistas, analistas e profissionais repercutiram? Houve espaço para clichês, perplexidades e bons insights.

A amplitude de uso da IA ainda é desconhecida

Paixões e emoções à parte, é necessário aterrissar a discussão para patamares mais lógicos e mais condizentes com a realidade dos fatos. Inteligências Artificiais são um instrumento poderoso para desenvolver estratégias, produtos e serviços, estabelecendo o passo a passo de cada etapa de processos até então limitados por serem naturalmente humanos. Identificar dores, enquadrar problemas, reunir times multidisciplinares são parte das habilidades humanas, mas definir quais os melhores caminhos para gerar a informação que seja a mais relevante é uma tarefa que pode ser realizada por IAs generativas, com mínimo consumo de tempo e refinamento frequente.

Plataformas estão intimamente relacionadas a comunicação. E qual o impacto do ChatGPT nos modelos de negócio, considerando sua já estabelecida dominância, principalmente agora, unido ao Bing da Microsoft? De que forma o uso intensivo de IA irá comprometer ou aprimorar nossa capacidade de comunicação, adoção já acelerada (representada por 40% dos usuários da ferramenta)? Quais os maiores riscos e custos de oportunidade associados à adoção da IA? Investir nela ou os impactos limitadores das IAs? Vale a pena lembrar, nesse caso, que, no início das atividades, a OpenAI solicitou apoio governamental, até para propor os GuardRails e limites necessários.

Pois bem, após as negativas do governo dos EUA, a OpenAI migrou para um modelo de financiamento privado. e, como resultado, hoje a empresa integra o ecossistema da Microsoft. Assim, os gerentes e executivos de empresas agora têm de se dedicar intensamente para causar choques de produtividade a partir da IA. Não, os empregos não estão salvos – pelos menos não a partir das atividades corriqueiras do momento em que vivemos.

O que será do meu (e do seu) emprego?

De maneira geral, o que temos? Muita ênfase no jogo de soma zero, pouca, pouquíssima reflexão sobre que tipo de evolução poderemos, iremos ter a partir das IAs. A maior parte das predições, normalmente céticas e incompletas, verificadas no Web Summit, indica perdas para as pessoas, riscos demasiados, ganhos localizados de produtividade e eficiência, mas não traz nenhum score em cima de questões realmente decisivas: teremos condições de tomar melhores decisões? Administraremos melhor nossas emoções, iremos propor novos formatos de entendimento e solução de problemas? A eficiência e a produtividade devem ser vistas sob a referência atual ou com base em uma realidade laboral diferente? Queremos um mercado laboral mais inclusivo? Queremos repensar a tomada de decisões? Queremos uma experiência do cliente superior? São questões que demandam reflexão e o melhor do talento humano, além de colaboração com Inteligências Artificiais. No entanto, um apanhado do que foi discutido durante o Web Summit traz visões pouco maduras e bastante convencionais.

Milena Berry, cofundadora e CEO de uma empresa chamada PowertoFly, questionou se o uso do ChatGPT permite conversas mais inclusivas entre empresas e pessoas. A executiva, que se define como “queer”, imigrante búlgara residente nos EUA, empreendedora, “Woman in Tech”, mãe de quatro crianças, reconhece o poder da inovação trazida pelo ChatGPT para os negócios e o quanto seu uso instiga a pensar além da otimização de tarefas administrativas, para explorar e aproveitar a oportunidade gerada pela crise econômica em uma indústria fragmentada.

Para Daniela Braga, CEO da Defined.ai trouxe uma visão menos “ativista” da problemática envolvendo IA. Para ela, “a IA vai se tornar uma commodity que qualquer pessoa poderá usar para ter superpoderes. E, recentemente, um relatório da consultoria BCG mostrou que os funcionários que utilizam a IA generativa são 40% mais eficientes em suas apresentações e suas habilidades são 40% melhores do que os demais. Não se trata de substituí-los, mas de aprimorá-los. Alexander de Vrie, na mesma linha, defendeu que “qualquer conclusão que você tire é que a IA não é mágica, é uma ciência. A IA não vai tirar seus empregos, mas beneficiar aqueles capazes de usá-la nas tarefas diárias. No final das contas, precisamos que todos se envolvam no uso da IA para diversificar os dados e obter resultados inclusivos, acessíveis e representativos. Você acha que a IA é trapaça? Ou acha que está trapaceando ao usar a IA?”

Um painel, denominado, “Abraçar a Revolução da IA” dispôs que analistas financeiros, economistas, banqueiros de investimento, consultores de gestão, engenheiros de software, enfim, empregos que pagam mais de US$100.000 por ano agora estão vulneráveis à disrupção. Como já analisamos, profissões supostamente identificadas como de capital intelectual elevado, são e serão duramente afetadas pela ascensão das IAs. Moeda Akin, CEO de uma startups de IA, D14.AI, observou que entre 30% e 50% da força de trabalho será afetada de alguma forma, à medida que as economias do G7 se movem para uma economia de serviços, mais vulnerável à disrupção da IA. Isso tem implicações profundas tanto para as empresas quanto para governos e sociedades. No lado empresarial, CEOs estão anunciando planos para substituir parte significativa da força de trabalho por IA. E as empresas que não estão avaliando essa possibilidade, ficarão para trás. Isso também tem implicações preocupantes para a sociedade, pois se todos adotarem essa abordagem, quem terá emprego?

Uma ideia realmente original veio desse mesmo painel, enfocando a janela de oportunidades de uma geração (duas, no máximo), para que a sociedade se mobilize e reveja, requalifique a força de trabalho para lidar com os desdobramentos, habilidades e exigências da IA. E aí, as empresas assumem um papel fundamental. Será delas a responsabilidade por acelerar essa curva de aprendizado para que não sejam engolidas por um tsunami de competidores mais eficientes, rápidos e que irão oferecer omnicanalidade e experiência do cliente em patamares ainda mais elevados.

As grandes questões e o grande medo oculto

Com a concentração de debates focados em empregos, geração de valor, construção de novos processos, ressignificação de políticas públicas, renovação de mercados, processos de produção e apoio à uma nova mentalidade de tomada de decisões foi praticamente ignorada. O medo oculto, ao se enfatizar tanto a questão laboral, está situado justamente na incapacidade de “opinionistas”, “especialistas”, “palpiteiros” e profissionais de discurso bonito e resultados intangíveis de encontrarem espaço em uma sociedade mais eficiente, potencializada pela união colaborativo real entre profissionais humanos e máquinas.

Logo, para facilitar a compreensão geral do debate sobre IA, que na Europa ganha contornos de um receio de “colonização” pelos sistemas (medo que aparentemente não se encontra tão evidente no Sul global), propomos 4 critérios para avaliar o alcance da IA..

São eles:

• RELEVÂNCIA – a Inteligência Artificial Generativa é uma inovação profundamente disruptiva e, portanto, de imensa relevância. Ela se desloca para o campo da eficiência de processos, mas não tem totais condições de ser uma ferramenta de apoio à boas decisões, prevendo ações equivocadas e redefinindo variáveis, hipóteses e valores.

• APLICAÇÃO E IMPACTO – as aplicações são exponenciais. Qualquer atividade, da coleta de lixo à construção de estações de metrô, da gestão de processos até a produção de conteúdo, tudo pode receber aplicações de IA, com impactos desconcertantes em processos, produtos, servições, lideranças, trabalho, experiência do cliente e além.

• ESCALA – ganhos de escala são um dos motores de aceleração do uso de IA. Praticamente qualquer atividade intelectual, de diagnósticos médicos a desenhos estratégicos, de elaboração de feedbacks a mecanismos de seleção de pessoal, ganham exponencialização com IA.

• TENDÊNCIA DOMINANTE – Não é uma, mas várias. A auto-otimização digital, anteriormente vinculada a ingestão de dopamina e alimentos, cosméticos e medicamentos que melhorem nossa autoimagem, agora ganham uma nova versão, a partir da liberação de tarefas intelectualmente pouco desafiadoras e com alto grau de previsibilidade, a partir da interação com Inteligências Artificiais. A velocidade de construção de insights e ideias originais para enfocar problemas foi potencializada com IAs generativas. Finalmente, a IA fundamenta uma nova tendência, Disrupção orgânica, ou seja a capacidade de gerar confrontos e repensaremos de qualquer modelo de negócio em velocidade estonteante.



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