Vivendo o pior momento da pandemia até agora no Brasil, muitas pessoas estão com a sensação de cansaço extremo, seja na vida pessoal ou na profissional. É sabido que o estresse contínuo e intenso é muito perigoso, e hoje vivemos em um cenário de muita preocupação, de luto coletivo, incerteza e da percepção de um tempo em suspenso.
Um convívio prolongado com uma pandemia acarreta exaustão emocional, a percepção de perda total de controle e a impossibilidade para investir e projetar-se no mundo.
Por outro lado, o trabalho remoto, adotado de forma repentina pelas empresas devido ao contexto pandêmico, hoje vem mostrando que, se não for bem administrado, pode levar, em casos mais extremos, à síndrome de burnout, que é um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema relacionada ao trabalho.
As reuniões em videochamadas, por exemplo, ilustram bem essa situação. O tema foi estudado por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que cunharam o termo “fadiga de zoom”. Segundo os pesquisadores, a exposição excessiva às videochamadas pode causar fadiga, dores de cabeça, depressão e crises de ansiedade.
Cansaço extremo: quando buscar ajuda profissional
Intensidade e frequência são excelentes termômetros de percepção para avaliar se uma pessoa chegou ao limite pois, nesse contexto pandêmico, todos estamos acometidos por muitos sintomas como angústia, ansiedade e medo, por exemplo.
Contudo, é preciso diferenciar aqueles indícios que são transitórios ou aquilo que denota um adoecimento. Para a psicóloga, psicoterapeuta e educadora parental Juliana Abulé, os sintomas transitórios oscilam, não são frequentes, são menos intensos e melhoram frente a uma notícia positiva, por exemplo, a vacinação.
Já o adoecimento acontece quando o sofrimento é constante e acaba atrapalhando a realização das tarefas diárias, sendo muito intenso e frequente. Esses são sinais de um sofrimento psíquico, de uma sobrecarga que pede uma pausa ou até mesmo uma ajuda profissional.
“Outro ponto de análise para saber se uma pessoa chegou no seu limite é perceber se está sempre com a corda esticada, sem conseguir afrouxar. Às vezes a gente deixa chegar num ponto tão extremo, que fica difícil a retomada e é preciso a intervenção de um profissional, então é preciso estar atento”, orienta a psicóloga.
Como encontrar o equilíbrio no trabalho?
Máscara de proteção, álcool gel para higienização e distanciamento social. Já sabemos de cor e salteado os protocolos de saúde para o combate ao coronavírus. Será que agora não é o momento também de falarmos dos protocolos emocionais?
Assim como o uso da máscara é uma obrigatoriedade, o cuidado psíquico também tem que ocupar esse lugar. É uma necessidade de oxigenação.
E a segunda onda desta pandemia está exigindo ainda mais cuidados com a saúde mental. Sim, estamos cansados, nervosos, preocupados, porém é possível treinar habilidades, criando alternativas e estratégias para que a gente possa lidar com isso.
“Esse tempo que a gente está vivendo não pode ficar em suspenso, em abreviação. Precisamos construir narrativas que deem sentido para tudo isso. Em tempos difíceis a gente sabe que se avança em pequenos passos, em doses homeopáticas. Então, faça o que se tem que fazer, pouco a pouco”, esclarece Juliana Abulé.
Existem ainda algumas dicas para que possamos nos munir de estratégias para garantir essa saúde mental. Confira algumas delas:
- Se atentar às notícias com muito cuidado, evitando ficar muito tempo exposto, focando excessivamente nas notícias ruins;
- Buscar informações confiáveis, pois as fake news trazem medos e ansiedades absolutamente evitáveis;
- Não criar tensões desnecessárias sobre aquilo que está fora do controle;
- Adequar expectativas;
- Fazer o gerenciamento de tempo, planejar-se.
E, no trabalho, por mais que a rotina esteja mais extenuante, é possível fazer pequenos planejamentos, permitindo ajustes de acordo com a realidade, vivendo o presente para dar conta desse momento e desse contexto que todos estamos vivendo.
A busca pelo bem-estar também é necessária
Nesse tempo de isolamento social, buscar sentidos nesse cotidiano e usar a criatividade no dia a dia é essencial, pois é ela que nos ajuda a passar bem nesse momento de pandemia.
Para Juliana Abulé, os pensamentos negativos consomem muita energia, então é preciso buscar atitudes simples e seguras que amenizem o sofrimento. Ela lista diversas atividades que ajudam a reduzir a ansiedade:
- Engajar em atividades que ajudem ao próximo e de sentido à vida;
- Conservar a saúde física, através de exercícios;
- Não relegar o lazer;
- Baixar aplicativos que ajudem a praticar a meditação;
- Não deixe de conversar. Nesse tempo de isolamento, por mais que precisemos nos distanciar, apostar na conversa com alguém que você goste, mesmo que seja de forma virtual, por telefone ou videochamada, é importante para manter o prazer dos relacionamentos sociais;
- Ocupe-se com um hobby. Reformas, decoração, jardinagem, praticar o que gosta e cozinhar são alguns exemplos;
- Faça novas experimentações, permita-se resgatar ou redescobrir vivências.
“Tempo para se cuidar e se permitir: eu acho que isso é fundamental. Tudo bem não estar bem, eu acho que a gente permitir e entender que muitas vezes não estaremos bem e que é preciso buscar ajuda, seja com essas dicas e com tantas possibilidades que façam sentido, se permitir não estar bem também é um passo importante de autocuidado”, esclarece a psicóloga.
Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco que chegou a ser prisioneiro em um campo de concentração nazista, descreve em seu livro “Em Busca de Sentido”, que, no campo de concentração, aqueles que tinham um propósito maior para sobreviver aguentavam condições adversas por mais tempo.
E isso traduz um pouco o fato de que quando uma pessoa percebe significado até no sofrimento, por ter um propósito, consegue suportar melhor a situação. E para você, qual é o seu propósito?
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