A última palestra do maior evento de varejo da América Latina, o BR Week, levantou a urgência de se pensar o varejo como design, o que pressupõe criar conexões e vínculos entre marcas e pessoas. Criar significados além da transação.
O que tínhamos como modelo de sucesso no varejo precisa ser revisto. Em contrapartida, é exatamente desta forma que ele vem crescendo. Quase 70 marcas entraram no país nos últimos anos, um exemplo disso é a Forever 21 que tem como estratégia para os próximos dez anos abrir cerca de 90 lojas por ano.
Indo de encontro ao que acontece nos Estados Unidos.?Carlos Ferreirinha, presidente da MCF Consultoria e Conhecimento, foi mediador da palestra Insights e Inspirações, falou sobre a interferência do design, moda e fashion, tornando os espaços interativos. Neste cenário, ele cita exemplos como a Kate Spade Saturday, ?onde você compra pela vitrine com a loja fechada?.
Para Tenny Pinheiro, CEO da Livework, o varejo, no geral, tem uma visão muito pouco relacional. O que importa é chegar na transação. ?O varejo precisa deixar de ser transacional e virar relacional?, enfatiza.
Mesmo no canal online, relembra, o empresário enxerga o e-commerce e a loja, mas esquece das jornadas pelas quais as pessoas passam para chegar nesse ponto. Não tem significância. ?Vendo o design thinking de um ponto de vista mais amplo, ele não é a beleza das coisas, mas a forma como elas funcionam. É uma série de engrenagens?, explica Pinheiro. Quando questionado sobre a resistência ligada à aceitação do relacional, o executivo lembra que essa é uma característica que deve ser feita de baixo para cima, uma melhor forma de pensar. ?Para entender as mudanças do velho e do novo, temos que entender as mudanças sociais, acompanhar?. Não dá para segmentar horários de lojas nos públicos de maior poder aquisitivo, por exemplo, mantendo o funcionamento das 10h às 18h. ?Esse é um pensamento de 1908?.
Aproveitando a presença de Miguel Vives, Sênior VP Country Manager Walt Disney Company Brasil, Ferreirinha afirma que vivemos a ?era da experiência, das sensações, criada e ensaiada pela Disney há anos?. Tendo o brasileiro como terceiro maior público consumidor de seus produtos, a estratégia da empresa no Brasil é de firmar parcerias. ?Nós não precisamos ter uma loja, mas espaços Disney que mantenham a magia dos produtos oferecidos?, afirma Vives.
Na visão de Adriana Trussardi, diretora da Trosseau, a loja continua sendo o elemento fundamental da marca. Inserida no ramo de cama, mesa e banho, a executiva recorda como é importante o contato do cliente com os produtos, a experiência física. Mesmo assim, as vendas online da marca tiveram alta de 40% e representam 15% dos resultados gerais.
A consultora de moda Cristiane Tamer comentou sobre essa tendência dos últimos anos de todos sentirem-se empoderados e habilitados para opinar sobre tudo. Ela fala também do fenômeno que atingiu as marcas populares recentemente, de fechar parcerias com estilistas famosos. ?Agora é legal para o consumidor dizer que está usando Cavalli para C&A, Lagerfeld para Havaianas. O certo e o errado não existe mais no varejo tradicional. E, mais que isso, todos queremos ser únicos. Essas coleções ajudam o cliente a se sentir assim?, fala.
Nesse mesmo raciocínio, o consultor Thiago Costa Rego conta que o ?grande lance? das marcas fashions de sucesso é fazer com que o conteúdo lifestyle crie desejo em torno da marca, até para as pessoas que não tem condição de acesso a ela. ?O cliente entra numa belíssima loja da Hermés e se encanta. Ele quer levar um pouco dela para sua casa. Então se não tem possibilidade de comprar uma peça de roupa, compra um baralho. É um pouco do luxo para cada um?, exemplifica.
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