A tecnologia conhecida como Blockchain frequentemente é associada com bitcoins e meios de pagamento. Apesar da vasta literatura a respeito, empresas e sociedade ainda guardam receios e incertezas sobre o impacto da mais avançada criptografia de dados já criada.
Com esse propósito, Thomas Muller, diretor de design e inovação da Accenture Interactive para a Europa, América Latina e África, mostrou, no Cannes Lions, todo o leque de oportunidades disponibilizadas pela adição do blockchain nos negócios. Em um mundo no qual a veracidade da informação e sua autenticidade são cada vez mais questionados, a consequente reputação, indispensável para o ambiente de confiança nos negócios e interações, acaba sendo severamente prejudicada.
O blockchain, a tecnologia que originou a criação dos bitcoins, representa a mais segura e confiável central de armazenamento de dados para registrar transações entre as diversas partes de forma eficiente, permanente e autenticada. Com ela, a reputação da informação que circula na internet pode sim ser restaurada e restabelecida, justamente por permitir reconhecer a origem de cada pedaço da informação. Com o seu uso no mercado financeiro, ainda que no volátil mercado de criptomoedas, o blockchain fez sua prova de conceito, e sua adoção em grande escala será o próximo passo. Por isso, vale a pena que empresas dos mas diversos segmentos estejam preparadas.
No mundo digital e conectado em que vivemos, é complexo julgar o que é autêntico, de quem partiu a informação e quem a manipulou. O Blockchain pode resgatar essa confiança abalada fazendo pontos de contato tornarem-se para pontos de confiança.
Alguns exemplos de aplicação atual de blockchain pelo mundo:
• Para votação, nas eleições: Serra Leoa se tornou a primeira nação do mundo a usar blockchain durante as suas eleições.
• Democracia líquida. Por este sistema/plataforma, um eleitor pode selecionar o seu representante que se torna a autoridade responsável pelo seu voto. Esta ‘procuração’ pode mudar, sempre que o interesse do eleitor mudar.
• Contratos inteligentes. Esses contratos com blockchain ajudam na troca de dinheiro, propriedades, ações, ou qualquer tipo de valores de forma transparente, sem conflitos e sem intermediários. Uma soluções com esse nível de segurança e consistência poderia representar uma disrupção bem-vinda em mercados onde existam cartórios. Se o leitor pensou no Brasil, captou a ideia.
• Cidades inteligentes. A Nokia está disponibilizando um vasto portfólio de serviços para cidades inteligentes, com tecnologia analítica para proteger o meio ambiente e prevenir incidentes como incêndios com lixo ou construções ilegais. Com efeito, as cidades inteligentes unirão o melhor dos mundos da tecnologia. Carros conectados, indústrias conectadas, varejo conectado, agricultura conectada, além de uma série de serviços públicos como energia elétrica, água, gás, saúde, transportes, etc.
• Ingressos inteligentes. O Protocolo Aventus usado em criptomoedas como o Bitcoin, permitirá que organizadores de eventos possam conectar cada ingresso a uma única identidade que é ligada diretamente ao seu usuário ou proprietário.
• App de consentimento de relações sexuais conectado ao movimento #metoo! A bem da verdade, até mesmo o sexo casual será facilitado com uma possível adoção de um ‘consentimento contratual’ legalizando a suposta relação… Visualize a mensagem: “consentimento sexual, assegurado por blockchain”! Relacionamentos devidamente consentidos para quem procurar parceiros no Tinder, por exemplo.
• O Spotify adquiriu o controle da startup Mediachain. Com isso, várias infrações de direito autoral poderão ser minimizadas e os devidos royalties pagos. Sim, a pirataria corre risco de disrupção também.
• Proteção para imagens e storytellers. A Kodak voltou a ter relevância com a tecnologia KodakOne, que usa a tecnologia de blockchain para gestão de direitos de uso de imagens.
• Gestão da cadeia de suprimentos em uma única plataforma. Uma nova joint venture entre a Maersk e uma empresa líder global de tecnologia está viabilizando a primeira plataforma aberta com escala considerável para o compartilhamento de informações e o desenvolvimento de produtos digitais para o comércio de produtos e serviços.
Imagine toda a cadeia de suprimentos integrada do transporte, logística, distribuição, bancos, autoridades, terminais portuários, fretes, alfândegas e afins!
• A soja se tornou a primeira commodity agrícola a ser comprada e negociada por bitcoins. Por conta da segurança e verificação instantânea proporcionada pelo blockchain, foi permitida a desintermediação de bancos e governos. Como consequência, menor preço final.
• Blockchain para a revitalização do algodão no Haiti. Após o colapso da indústria de algodão nos anos 70, por conta da nefasta corrupção no governo do país, a péssima gestão e um embargo norte-americano, a introdução do blockchain permitiu que milhares de pequenos agricultores pudessem se reerguer. O projeto também conta com a participação da Timberland.
Como recomendações específicas da Fjord, a unidade da Accenture Interactive, temos o necessário senso de urgência para a assimilação da tecnologia e seu desdobramento nos negócios e desintermediação; o desenho de novos modelos de serviços que podem ser criados se tivermos um ambiente de maior confiança nos mais diversos pontos de contato e a imprescindível colaboração com parceiros estratégicos para maximizar o uso e retorno da adoção da plataforma blockchain.
As experiências estão em curso e podem acelerar melhorias no padrão de vida, desintermediação, desburocratização, redução da corrupção (blockchain aplicado a pregões públicos e contratos de obras) e melhoria da representatividade dos cidadãos, além de protocolos de segurança indispensáveis à construção de ambientes de negócios mais seguros. Tudo o que um país como o Brasil precisa para ganhar protagonismo e abrir oportunidades de crescimento. Conseguiremos aproveitar mais chance ou nos dedicaremos a desperdiçá-la como nos acostumamos ao longo da história?