A bioeconomia foi tema da abertura desta edição da Febraban Tech. Responsabilidade ambiental e a agenda ESG se tornaram temas corriqueiros no debate corporativo, e no sistema financeiro há duas abordagens que se complementam: atuação própria em prol de mudanças na cultura dos bancos, com ações efetivas de mitigação das emissões de carbono e atitudes mais sustentáveis e, ainda, a virada de chave para que ações ambientais – de recuperação e neutralização – virem assets para investidores, promovendo assim rentabilidade associada à ações efetivas para combater a crise climática.
Os presidentes e CEOs dos principais bancos do país, Octavio de Lazari Junior, diretor-presidente do Bradesco; Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú-Unibanco; Maria Rita Serrano, presidente da Caixa; Mario Leão, CEO do Santander Brasil e Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual conversaram sobre as ações e iniciativas de suas empresas, e também quais medidas estão apostando e investindo para uma mudança de mentalidade que seja transversal, e apoiada pela tecnologia.
Sustentabilidade para bancos
A Caixa acabou de fazer um novo planejamento estratégico e a sustentabilidade ocupa lugar de destaque. “A Caixa tem função principal de atendimento aos programas sociais e foco no desenvolvimento social”, destaca Maria Rita Serrano, presidente da Caixa.
O compromisso do banco, público, é diversificar soluções financeiras com resiliência, e elas incluem zerar as emissões de carbono ao fim da pobreza. “Não existe dicotomia e sustentabilidade e investimento na bioeconomia. Os compromissos com descarbonização são convergentes com o desenvolvimento”, avalia.
Todos somos sócios do mesmo problema, bancos, pessoas e empresas, defende Milton Maluhy, CEO do Itaú-Unibanco. “É muito importante entender que para avançar nessa agenda não basta iniciativas isoladas, mas remar na mesma velocidade”.
As corporações estão se movimentando nesse sentido, acredita. E o sistema financeiro tem um papel a cumprir de apoiar a transição dos clientes, “mas não queremos ter uma abordagem policialesca”, alerta Maluhy, ao destacar ao foco atual do Itaú no escopo 3 no Net0Alliance, que está pautada no endurecimento das regras de financiamento de clientes que emitem carbono.
O Bradesco está muito motivado com o potencial da agenda ambiental, revela o diretor-presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. O Bradesco tem investido em neutralizar as emissões de carbono de seu ecossistema. “Todas nossas empresas já estão atualizadas nos escopos 1 e 2, e temos o desafio de trabalhar o escopo 3 com nossos clientes. Vemos o cenário com otimismo e com possibilidades, por isso lançamos recentemente o crédito neutro de carbono 2050”.
Mario Leão, CEO do Santander, também acredita que a responsabilidade ambiental precisa estar imbuída na cultura corporativa, na pessoa física e na jurídica, e não ser um tema isolado de um setor específico dentro do banco, mas que participa transversalmente das decisões de negócios.
“Somos concorrentes, mas temos causas em comum, a agenda climática é uma delas. A indústria agarrou esse tema, e nós somos aliados, em prol dos nossos clientes e da sociedade, com muito olhar de advsory para o investidor e tendo a contribuição da tecnologia”, afirma.
A visão do BTG Pactual é de que a agenda ambiental vai virar um custo normal dos negócios. “O que estamos procurando neste momento é entender como ir além e usar esses valores para ajudar a sociedade”, explica o CEO, Roberto Sallouti.
O banco é o segundo maior gestor de florestas do mundo, em parcerias com a Nature Conservative e Conservation International, para financiamento de iniciativas na América do Norte e na América Latina.
O fundo de reflorestamento tem uma meta ambiciosa, de captar US$ 1 bilhão para reflorestar 280 mil hectares de pasto degradado: metade nativo e metade floresta comercial, usada para atividades que estoquem carbono definitivamente, como construção civil e mobiliário.
“Isso mostra como nós, do mercado financeiro, se botarmos nossa capacidade de originação e distribuição para alocar serviços eficientes, conseguimos combinar rentabilidade para os investidores com benefícios para o meio ambiente, o Brasil e o mundo”, elogia Sallouti.
Tecnologia como vetor para bioeconomia e crescimento
A tecnologia tem oferecido mais e melhores serviços, que envolvem agilidade, comodidade, segurança cibernética. Uma pesquisa da Febraban indica que os investimentos em tecnologia e inovação devem passar, neste ano, de R$ 40 bilhões.
Octavio de Lazari Junior, diretor-presidente do Bradesco, se empolga com o tema. O banco já tem feito testes com IA generativa e está atento ao desenvolvimento de soluções de computação quântica.
“Estamos nos preparando através do InovaBra – um ecossistema de empreendedorismo de aprendizado, de teste. Não se pode ter medo de errar, para quando acertar, aplicar na nossa vida”.
Ele deu o exemplo da Bia, a assistente virtual do Bradesco, lançada em 2008, que levou cinco anos de treinamento, e hoje é responsável por 60% dos mais de 1,2 de interações dos clientes com o Bradesco.
“Foram anos para chegar aonde estamos hoje. Imagine a capacidade que teríamos se a Bia usasse desde o início tecnologias como o ChatGPT, aquilo que levamos cinco anos hoje leva poucas semanas. Já fizemos testes com a inteligência de dados para avaliar comunicados, mas elas podem acelerar processos de busca e avaliação, assim como a qualidade da relação com os clientes”, conta Lazari Junior.
O benefício das tecnologias à serviço dos clientes é uma das forças motrizes do Itaú, ressalta Maluhy. “A tecnologia empoderou o consumidor, pode tomar mais decisões e na hora que for mais conveniente. Ela deixou de ser uma área de apoio para se tornar central”, afirma o CEO.
“A transformação tecnológica acontece há anos, o que mudou foi a velocidade. Os bancos não perderam o sex appeal. A tecnologia nos ajudou a fazer mudanças também na forma de trabalho e na produção, para oferecer uma experiência fluida e de alta satisfação”, explica Maluhy.
E ainda, promoveu no Itaú-Unibanco uma mudança de mindset significativa na cultura da empresa, com trabalhos ágeis em squads e a mudança de cultura dentro da empresa, destaca Maluhy.
Com essa perspectiva em mente o Itaú modernizou já dois terços de seus sistemas legados com a integração plena com novas ferramentas em uma nova plataforma. “Abraçamos a inovação tecnológica tendo em mente que novidades se tornam legados. E tendo equipes engajadas, conseguimos promover a experiência do cliente tendo a tecnologia como ferramenta”.
“Tivemos uma mudança sutil no slogan, que diz muito sobre a mudança de pensamento: de feito para você para feito com você. É preciso ter a cultura centrada no cliente para potencializar o uso da tecnologia, pois é a forma com que você trabalha e transforma em cima da tecnologia que muda a experiência”.
A tecnologia deve promover inclusão, defende Maria Rita. A pandemia é um exemplo, a Caixa teve como desafio criar em tempo recorde um aplicativo que desse conta de atender 50 milhões de brasileiros.
“Ficamos na linha de frente da pandemia e provou seu DNA de função pública. O CaixaTem promoveu inclusão de 40 milhões de brasileiros que estavam fora do sistema financeiro. Nosso papel como sistema financeiro não é só sobre intermediação, na ampliação do crédito, nos negócios sustentáveis e em novas modalidades de empreendedorismo que gerem emprego e renda”.
O BTG Pactual tem um outro histórico, em comparação com outras entidades centenárias. Nascido como banco de investimento que não tinha capilaridade. “A revolução digital veio como oportunidade de fechar esse gap competitivo. Não tivemos que fazer uma revolução tecnológica, mas cultural, e colocar a tecnologia no centro do negócio”, diz Sallouti.
A tecnologia virou área transversal dentro do BTG. As decisões de negócio estratégicas são tomadas a partir da viabilidade de tecnologia. Essa mudança de mindset, de posicionamento também impactou as o perfil de pessoas que trabalham no BTG Pactual.
“Praticamente não há nenhuma decisão estratégica de negócio hoje sem a turma da tecnologia na mesa, para dizer se é possível, qual é o custo e qual é o tempo necessário”, explica. “Com a tecnologia saímos de centenas para milhões de clientes – e quem se beneficia com a evolução tecnologia e a concorrência é o consumidor – que paga menos por transação, por spread”, finaliza Sallouti.
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