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Banksy: o marketing do anonimato

Banksy: o marketing do anonimato

Em novo artigo, Natanael Sena analisa a importância de Bansky e compartilha a conversa que teve com o responsável pela maior exposição já feita sobre o artista

Na contramão do que a maioria das pessoas definem por sucesso (ter seu rosto e nome conhecidos mundialmente), o artista britânico Banksy foge dos holofotes. Seu trabalho é reconhecido mundialmente há décadas, mas até hoje sua verdadeira identidade permanece no anonimato.

Banksy faz com maestria e muita criatividade uma forte crítica ao modelo social que estamos inseridos. A leitura de sua obra (seja pintura ou escultura) transcende gerações, classes sociais e culturas. Mesmo um outsider do mundo da arte compreende a mensagem que o artista quer transmitir.

O anonimato do artista gera uma enorme repercussão sempre que uma nova exposição dele (autorizada ou não) é anunciada. A conta @banksyny, criada para sua exposição em Nova Iorque (em 2013), chegou a 200 mil seguidores em três semanas. Ela teve apenas 17 publicações enquanto esteve ativa e todas com milhares de curtidas. Assim que acabou a exposição a conta foi deletada.

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“Space Girl and Bird”, de Banksy

Banksy entende a regra básica do marketing: gerar desejo. Além da regra básica da comunicação: falar de uma forma que as pessoas entendam.

Seus quadros são comercializados (quando disponíveis) por valores bem expressivos. A tela “Space Girl and Bird” foi vendida, em 2007, por R$ 1 milhão de reais, aproximadamente.

Após a exposição em NY, sem nenhuma identificação, Banksy montou uma pequena lona no Central Park (a poucos metros do espaço onde seus quadros estavam expostos). Nela, colocou quadros de sua autoria (originais) a venda por US$ 50. Após muita negociação, ele vendeu sete quadros, sendo que um deles o comprador só comprou após o artista desconhecido conceder 50% de desconto. A ação foi toda registrada e depois viralizou na mídia.

Mais uma vez, ele nos dá uma aula de como fazer uma ação de marketing bem feita. Banksy trafega em diversos níveis e deixa todos aguardando sua próxima intervenção como uma grande oportunidade.

Atualmente em Toronto, a The Arf of Banksy é a maior exposição já feita sobre o artista. Avaliada em US$ 35 milhões, a mostra conta com 80 obras (pinturas, serigrafia, esculturas). O número de ingressos vendidos a US$ 35 já ultrapassa a casa dos 50 mil.

De forma muito controversa, quando seu trabalho chega a cifras milionárias, ele acaba se esbarrando em suas próprias críticas, e Banksy sabe disso:

E de forma mais curiosa ainda, sua obra “Trolley Hunters”, que retrata homens em um campo apontando lanças para carrinhos de supermercado vazios, avaliada em US$ 35 mil, foi roubada.

 

 

Mais uma vez, a máxima de Oscar Wilde, que nasceu em 1985, se faz presente: “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”.

 

“Trolley Hunters”, de Banksy: a obra foi roubada em Toronto este ano

Corey Ross é o nome por trás de grandes eventos de sucesso na América do Norte (Cats, Potted Potter, Alicia Keys), responsável pela The Arf of Banksy. Conversamos sobre diversos assuntos, entre eles os detalhes por trás da exposição. Confira:

Natanael Sena: Corey, por que o Banksy e por que Toronto?

Corey Ross: Eu vi esta exposição enquanto estava de férias, no verão passado, com minha família, em Amsterdã. Eu sempre fui intrigado com Banksy, mas sinceramente não sabia muito sobre ele. Eu fui com minha esposa e minha filha, que tinha 13 anos de idade. Depois de ver a exposição, passamos a tarde em um café falando sobre como as imagens de Banksy são arrebatadoras, qual era o significado político do trabalho e como nos sentíamos a respeito. Percebi que qualquer exibição que nos mantivesse falando, muito tempo depois de termos visto, seria fascinante de se envolver e eu sou sempre um jogador para projetos fascinantes!

Já sobre a escolha de Toronto, foi por duas razões: primeiro porque temos um público fabuloso para exposições e depois porque a Galeria de Arte de Toronto teve um enorme sucesso com a exposição Kusama, no início deste ano. Algo me disse que Toronto estava pronta para Banksy.

NS: Como você vê as críticas que Bansky retrata em seu trabalho?

CR: Banksy toca em tantos tópicos políticos. Algumas de suas posições eu concordo; com outras, me oponho. Ainda acho que ele é um artista importante por causa de como a política informa sua arte, e sua arte faz um show incrível porque é instigante.

NS: No Brasil, temos empresas que apoiam jovens artistas, como a Notiluca. O Brasil exporta nomes como Thiago Toes, Giovani Caramello, Andrey Rossi, Nário Barbosa e outros diversos artistas que estão cada vez mais ganhando repercussão internacional. Mas ainda não temos um cenário em que iniciativa privada e iniciativa pública andem de mãos dadas com leis expressivas para incentivar a cultura. Como é trabalhar com grandes eventos culturais na América do Norte?

CR: Eu trabalho em todos os campos das artes visuais, concertos e principalmente mundos de teatros ao vivo. Eu não trabalhei no Brasil ainda, mas trabalhei extensivamente no Canadá, nos EUA e no México. Cada país tem sua própria abordagem para parcerias privadas e públicas nas artes. O México tem um fabuloso circuito de festivais financiado pelo governo com o qual trabalhamos há muitos anos, enquanto no Canadá e nos EUA nossos espetáculos teatrais foram realizados em locais sem fins lucrativos e de propriedade do governo. Acho que há benefícios para o financiamento cultural na América do Norte, mas ainda acho que há muito a ser feito nessa área.

NS: você é um dos grandes influenciadores culturais da América do Norte, qual é o próximo evento depois da exposição Banksy?

CR: Continuamos a turnê do nosso show de sucesso Potted Potter (todos os sete livros de Harry Potter em sete Hilarious Minutes). Também produzimos o show Wow, no Rio Hotel, em Las Vegas. Eu estou olhando para uma peça da Broadway sobre a banda punk Ramones e um musical baseado no filme “Bend It Like Beckham”, mas nenhum desses projetos está confirmado ainda. Ficaria feliz em levar alguns shows para o Brasil!

NS: Corey, o que o público pode esperar desta exposição?

CR: Esta é a maior exposição do mundo de Banksy Art, então, primeiro, o público deve esperar ver uma coleção maravilhosa, que vai de gravuras a pinturas e esculturas. Também temos o benefício de ter Steve Lazarides, que por uma década fez parte da equipe de Banksy, como nosso curador, então suas fotos privadas de Banksy no trabalho e o guia de áudio no qual ele conta histórias dos bastidores de Banksy são oportunidades únicas de ver mais do misterioso artista. Acima de tudo, eu acho o trabalho instigante, então aqueles que veem a exposição devem esperar ter discussões maravilhosas depois.

NS: a publicidade desta exposição de Banksy está espalhada por toda a cidade (pontos de ônibus, etc). Como foi planejada as ações de marketing dessa exposição?

CR: Temos uma incrível equipe de marketing e certamente nos beneficiamos das incríveis imagens de Banksy. Sabíamos que a publicidade fora de casa seria a chave para alcançar a conscientização e comunicar nossa mensagem, então nos concentramos nesse meio. Nossa parceria com a Bell Media nos permitiu ampliar o alcance de nossa campanha. No final do dia, determinamos que 100% das pessoas em Toronto teriam conhecimento da exposição e tenho certeza de que conseguimos isso.

Trabalhar com Bansky possibilita isso, cobertura de 100% das pessoas em Toronto (isso é incrível e um número extremamente expressivo para profissionais de marketing). Engajamento, política, liderança. Tudo se resume em inspiração.

*Natanael Sena é fundador do Vai de Fusca e está em uma temporada no Canadá

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