Vivenciamos uma mudança de foco nas lideranças para um ambiente de trabalho que prioriza o bem-estar integral, que engloba saúde física, mental e emocional – sem deixar de lado seus objetivos profissionais.
Uma pesquisa recente da Deloitte revela que 61% dos executivos consideram o bem-estar como um valor central para esse equilíbrio. Além disso, 84% deles afirmaram que priorizar a saúde mental e física é uma das suas principais metas.
Esses dados refletem a preocupação em manter uma relação harmoniosa com vida pessoal, saúde e com a carreira. Para Andrea Eboli, executiva e estrategista de negócios com mais de 25 anos de experiência, com doutorado em Negócios pela Swiss Business School e especializações em marketing por Harvard e NYU, é importante que os líderes se permitam desenvolver interesses fora do ambiente de trabalho. “Dedicar tempo a hobbies ou atividades paralelas enriquece sua perspectiva e contribui para um bem-estar mais completo. Esses líderes também criam uma cultura mais acolhedora e produtiva nas empresas”, avalia.
Vale destacar também que a economia do bem-estar, ramo da economia que avalia atividades econômicas que impactam o bem-estar dos indivíduos, pode chegar a US$ 8,9 trilhões até 2028, segundo dados do Global Wellness Institute (GWI).
O que você faz para “desacelerar”?
Sem dúvida, encontrar uma atividade que proporcione uma pausa em tempos tão acelerados é mais importante do que nunca para nossa saúde e bem-estar. E para entender como alguns executivos brasileiros estão “desacelerando” e encontrando esse equilíbrio entre carreira e vida pessoal, ouvimos algumas perspectivas sobre esse objetivo. Além disso, questionamos como essas mudanças os tornaram profissionais melhores.
Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para a América Latina
“Eu tento desacelerar por meio de meditação, escutando algumas músicas mais tranquilas para me desconectar principalmente durante voos”, conta Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para a América Latina. “Aproveito para ter um momento de silêncio, sem interferência de e-mails e reuniões. Também leio alguns livros que trazem ensinamentos de como se comportar em situações que testam o nosso nível de tolerância. Tenho um sobrinho que é professor de yoga, então ele também me ensina muito algumas técnicas de respiração”.
Além disso, Marcio tem praticado boxe. “O principal para mim não é nem a luta em si, mas os ensinamentos sobre concentração, postura e o conjunto de atividades coordenadas para poder ser efetivo no golpe. Nem tudo é força, e sim técnica. Ser impulsivo é normal do ser humano, mas no boxe, assim como na vida profissional, não é a força que vai gerar sucesso e sim a habilidade de se concentrar, estudar o posicionamento do seu adversário… Você deve estudar a necessidade do seu cliente para que você possa ter sucesso. Enfim, tudo isso me mantém mais produtivo e relevante para a nossa corporação e para cuidar da minha saúde”.
Celia Nishio, diretora de Consumer and Market Insights (CMI) na Nestlé Brasil
“Pode parecer contraintuitivo, mas para desacelerar, eu acabo acelerando (risos)”, compartilha Celia Nishio, diretora de Consumer and Market Insights da Nestlé Brasil. “Gosto de praticar esportes ao ar livre, e isso me ajuda muito a encontrar equilíbrio. Correr por trilhas, pedalar – tanto no road quanto no mountain bike – e nadar são atividades que me permitem desconectar, recarregar as energias. Meu trabalho exige alta concentração por bastante tempo e pedalar, por exemplo, é um exercício que treina a mente para estar sempre atenta para não me machucar. Isso treina a minha capacidade de concentração na rotina profissional. Da mesma forma também, quando estou tão focada nas trilhas ‘limpo os pensamentos’ e isso me ajuda a pensar de forma diferente quando volto ao trabalho. Isso tudo me auxilia de tantas maneiras… Se eu estou mais em paz comigo mesma, é mais fácil lidar com os desafios e a pressão de conduzir um time. Os esportes me ajudam a manter a calma e, no dia a dia, me permitem liderar de maneira mais fluída”.
Laurent Delache, CEO da Foundever
“A posição de liderança tem muita pressão. Para poder lidar bem com isso e manter a sanidade, eu coloco o esporte como ponto fundamental da minha jornada. Eu começo todos os dias fazendo exercícios. Com isso eu preparo meu corpo, minha alma e meu espírito para lidar com a pressão. Faço bicicleta, natação e jogo tênis e basquete com minhas filhas. Na bicicleta e natação eu reflito para as decisões que tenho que tomar, e tenho um tempo de solicitude, alimentando também a minha alma. Também tenho passeios de bike com amigos, fortalecendo nossos vínculos e tendo momentos de lazer. E no tênis e basquete me conecto ainda mais com minhas filhas. Ao colocar o exercício na minha agenda eu me tornei uma pessoa melhor e um profissional melhor. Procuro liderar pelo exemplo e sendo alguém que tem um comportamento saudável, uma vida equilibrada, que cuida da saúde, da alimentação e do sono, acredito que esses hábitos convidam os outros a fazer o mesmo. Então, fazer exercícios me leva a ter disposição na posição de liderança, me faz mais disciplinado, mais otimista e consigo me dar bem com as pessoas ao meu redor”.
*Foto de Steven Lelham na Unsplash.