O anywhere office, ou seja, o escritório de qualquer lugar, vem ganhando força. E não é para menos, afinal, depois da pandemia de covid-19, as organizações adotaram novas formas de trabalho, e houve um consenso em favor da jornada híbrida. Assim, são alguns dias de trabalho presencial e outros remotos.
Dessa forma, muitas pessoas, para não ficarem em casa, sempre no mesmo ambiente, consideram ir até um café, padaria ou restaurante para dar uma “arejada” e, ao mesmo tempo, trabalhar. E assim o anywhere office vai ficando popular. Alguns estabelecimentos até estão se valendo da ideia para lucrar. Disponibilizando mesas com tomadas, são negócios que estão investindo em refeições, bebidas, espaço e internet para trabalhar. A ideia, antes restrita a Starbucks, vem ganhando adeptos nas cidades brasileiras.
Mas, não é todo estabelecimento comercial que comunga do movimento anywhere office. Tem quem acredite que a prática acostuma mal certos consumidores, que querem transformar os locais em verdadeiros escritórios particulares. Entre as queixas de alguns proprietários, está o fato de clientes que retém mesas por tempo excessivo, e, muitas das vezes, sem consumo equivalente. Ademais, tem quem acredite que a conduta impede a rotatividade de outros consumidores que desejam se alimentar. Esse é o pensamento de um dono de uma padaria em Barueri (SP), na Grande São Paulo.
Brigas devido ao anywhere office
Em síntese, o homem causou polêmica após um vídeo seu, bem agressivo, viralizar nas redes sociais. Nas imagens, o proprietário da padaria aparece irritado, ameaçando e tentando agredir um cliente que estava utilizando um notebook em seu estabelecimento enquanto consumia alimentos.
A discussão vem gerando um debate sobre o comportamento do dono do estabelecimento e a liberdade do cliente em utilizar seus próprios dispositivos eletrônicos no local.
Será que essa situação acaba prejudicando mesmo a experiência dos demais consumidores, que frequentam esses estabelecimentos com o objetivo de desfrutar de uma refeição rápida ou simplesmente descontrair enquanto tomam um café? Ou, a prática de transformar esses locais em escritórios particulares acaba sobrecarregando a equipe de atendimento, uma vez que são necessários mais recursos para atender a demanda prolongada desses clientes?
Código de Defesa do Consumidor
Mas, afinal, o que diz o Código de Defesa do Consumidor (CDC) sobre?
Os comerciantes têm sim o direito de criar regras que autorizam ou proíbem a utilização de equipamentos como notebooks e tablets em seus estabelecimentos. Todavia, é fundamental que quaisquer restrições sejam claramente comunicadas antes de os clientes ocuparem mesas ou realizarem pedidos.
Ademais, se houver restrições, é recomendável que os comerciantes forneçam justificativas plausíveis, a fim de evitar possíveis mal-entendidos ou insatisfação por parte dos consumidores. Isso pode ser feito através da inclusão dessas informações em cardápios ou da criação de placas informativas visíveis. Outra ideia é postar um comunicado no site ou nas redes sociais do estabelecimento.
Nesse ínterim, vale estabelecer políticas em relação ao tempo de permanência nas mesas. Pode-se, por exemplo, limitar o tempo máximo de ocupação ou até mesmo cobrar uma taxa adicional caso esse limite seja ultrapassado. Essas medidas não apenas garantem a rotatividade de consumidores, como também incentivam o uso desses estabelecimentos de forma mais consciente.
Políticas internas x Legislação vigente
É importante ressaltar que as normas estabelecidas devem estar alinhadas com as políticas internas do comércio, bem como com a legislação vigente. Por exemplo, em locais onde existam restrições para uso de dispositivos eletrônicos por questões de segurança, é fundamental que essas informações sejam devidamente divulgadas.
Ao comunicar as proibições de forma clara, os comerciantes demonstram transparência e respeito pelo consumidor, permitindo que ele tome uma decisão informada antes de frequentar o estabelecimento. Ademais, uma comunicação eficiente sempre contribui para uma experiência satisfatória tanto para os clientes quanto para os próprios comerciantes.
Cabe ressaltar que, embora as empresas tenham o direito de estabelecer tais normas, é adequado que sejam razoáveis e proporcionais à natureza do negócio. Proibições excessivamente rígidas ou arbitrárias podem gerar insatisfação por parte dos consumidores, podendo impactar negativamente a reputação do estabelecimento.
Por fim, embora seja compreensível que muitos clientes desejem transformar locais de alimentação em escritórios particulares, é essencial promover a rotatividade de mesas para atender às demandas de outros consumidores. Implementar políticas claras e comunicá-las de forma profissional e cortês é a chave para encontrar um equilíbrio entre as necessidades dos clientes e a experiência como um todo.