*Por Luis Fernando Guggenberger
As discussões sobre a importância da agenda ESG (Environmental, Social and Corporate Governance/ Governança Ambiental, Social e Corporativa) para os investidores e empresas ganharam destaque especialmente após o Fórum Econômico Mundial em 2020, que falava sobre a transição do modelo de capitalismo, saindo de shareholders para stakeholders, assim como também após a publicação da Carta de Larry Fink da BlackRock, no mesmo período. A chegada da pandemia então acelerou ainda mais o debate em diversos ambientes.
De lá para cá, inúmeras lives discutem a importância da agenda ESG para os negócios, para a sociedade e para o planeta. Acompanhamos um grande número de ações sociais solidárias realizadas por empresas e pessoas, buscando amenizar o sofrimento da população mais vulnerável, frente aos impactos provocados pela pandemia. O apoio aos hospitais para trazer melhores condições de trabalho, ao tratamento de pacientes e proteção aos profissionais da saúde também foi uma das frentes de atuação humanitária.
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Porém, ao longo do primeiro trimestre deste ano o volume de doações declinou, ao compararmos aos números de 2020. Um dos exemplos é o desafio assumido recentemente pelo grande empreendedor social Edu Lyra para mobilizar novamente a sociedade e as empresas a voltarem para o campo das doações. Há outros tantos líderes sociais e organizações que se uniram preocupados com o cenário atual. Logo, aqui fica a primeira reflexão para avaliarmos de fato quais são as companhias comprometidas com o S do ESG, e quais são aquelas que fizeram algo porque viram uma excelente oportunidade de projeção por meio dos veículos de imprensa e redes sociais.
Uma das reflexões que tenho feito nos últimos tempos tem sido a nova onda de junção entre inovação e sustentabilidade. Atuando no ecossistema de finanças sociais há algum tempo, sempre foi um sofrimento tentar convencer o mundo do que chamo de “empreendedorismo mainstreaming” sobre a agenda de negócios de impacto socioambiental. Parece que temos bolhas no ecossistema de startups, realizando inclusive eventos nichados apenas para startups de impacto, separados dos demais. Vemos também fundos criados sob a ótica dessa separação. De certo ponto está tudo bem, de algum modo foi, e ainda é, necessária a separação para colocar na pauta a agenda do impacto socioambiental. A intencionalidade dos negócios e dos fundos é o que nos permite identificar se são o que chamo de “inovawashing” ou não.
Falando em inovawashing, o que tem sido curioso é o bombardeio que temos recebido de atores do “ecossistema tradicional”, que da noite para o dia se tornaram especialistas em inovação sustentável, produzindo mapeamentos, relatórios de cenários e tendências do ESG e startups. Sem ao menos consultar de fato os atores que lutam e constroem esse ecossistema dos negócios de impacto socioambiental. São utilizados critérios rasos na definição de negócios que atendem essa agenda, na qual tudo passa a valer e caber. O pior é a venda de consultoria ou projetos para a implementação de estratégias de sustentabilidade aliadas à inovação, por empresas que se autointitulam autoridades no assunto, seja via programas de aceleração de startups, ou por meio de outras abordagens de mudança de mindset e cultura das organizações.
O fato é que assim como devemos estar cada vez mais atentos às organizações que praticam o greenwashing e o socialwashing para tornar suas marcas mais “antenadas” ao espírito do tempo, mais descoladas, agora temos que nos atentar aquelas que se dizem inovadoras à luz da sustentabilidade. Ou as que usam startups para dizerem que tem uma bela agenda de ESG, mas que têm uma profundidade de meio metro.
É preciso estar atento às empresas que investem há tempos, com intencionalidade, que entendem que os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) são alavancas importantes para a transformação do mundo. Ao mesmo tempo, são oportunidades para os negócios, pois como bem diz a Artemisia, aceleradora de negócios de impacto socioambiental: “entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois”. Por isso, cuidado. Nem todos entendem que a sustentabilidade de fato é uma oportunidade para a inovação.
*Luis Guggenberger é executivo de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Vedacit
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