No curso de Engenharia Civil na Escola Politécnica (USP), o aluno, a partir do terceiro ano, deveria escolher entre quatro modalidades: Estruturas, Construções, Hidráulica e Transportes. Escolhi a primeira delas e, depois de formado, trabalhei por um ano como calculista. Mas logo é possível identificar que a prática profissional consiste, de início, na fase da concepção da estrutura, seguida por uma infindável imersão em operações aritméticas que, naqueles tempos, eram feitas com “réguas de cálculo”, máquinas de calcular mecânicas (à manivela), “tábuas de logaritmos” e tabelas trigonométricas.
Em trabalhos com construções pré-moldadas na Inglaterra, percebi que a essência da atuação do engenheiro residia na coordenação da obra, ou seja, no quase mágico encadeamento de eventos e atividades que permitiam que um enorme número de peças se transformasse em um todo, a obra completa. E nessa função me concentrei profissionalmente, buscando sempre posições de gestão e coordenação, em contrapartida às de execução. Essa atividade se constituía em outra modalidade de atuação, a do gerenciamento da implantação de empreendimentos.
O gerenciamento deveria ser parte das melhores práticas dentro da construção civil. Na incursão pelo varejo, recebi o desafio de implantar um grande número de filiais de uma rede por todo o Brasil. O diretor, administrador experiente, logo percebeu que a solução estava na maior terceirização possível de todas as atividades envolvidas, especialmente o gerenciamento da implantação – fugindo da tentação de criar uma pesada estrutura própria de engenharia, que resultaria em enormes gastos, perda de foco e difícil administração. Hoje, já são mais de setecentas e cinquenta lojas gerenciadas e entregues.
O mundo do varejo entrelaçado ao da gestão ensina algumas lições básicas sobre o desafio de, à melhor interação de custo, prazo e qualidade, chegar até o seu consumidor final e lhe proporcionar uma experiência singular:
Lição 1
Seja em obras isoladas, seja em uma grande quantidade de obras concomitantes, é o rigoroso planejamento e controle que permite que esses objetivos de custo, prazo e qualidade sejam alcançados.
Lição 2
As obras de uma rede de varejo podem ser semelhantes, mas nunca serão iguais entre si. Os terrenos variam de uma obra para outra, a mão de obra é regional, as exigências legais também o são. Cada obra é uma obra. Assim, a flexibilidade dos procedimentos é essencial.
Lição 3
Ao contrário de uma obra isolada, as pequenas obras que compõem uma rede de varejo não comportam uma equipe fixa de gestão da implantação. Assim, constituímos equipes móveis, o que nos deu flexibilidade, rapidez e ganho em escala.
Lição 4
Ao executar um número grande de obras semelhantes, simultaneamente, é essencial que se tenha um ferramental de acompanhamento ágil, permitindo a identificação rápida de desvios em relação ao planejado. O uso de aplicativos móveis de última geração de “workforce management” é altamente recomendado pela visão clara do andamento efetivo e capacidade de automação de processos repetitivos e de comparação. No nosso caso, os aplicativos estão instalados nos telefones celulares dos engenheiros, permitindo, inclusive, a emissão de relatórios de visita diretamente da obra para o cliente.
Lição 5
Apesar do crescimento óbvio e esperado de lojas virtuais, é certo que as lojas físicas não vão acabar, mas mudarão drasticamente. Uma farmácia, por exemplo, deixou de ser um lugar onde se vende remédios. Passou a ser local onde, além de medicamentos, são vendidos conceitos de beleza e bem-estar, atraindo um público sofisticado e exigente. Assim, o design da loja e sua dinâmica são de fundamental importância, o que exige que sejam atraentes, seguras, bem projetadas e bem executadas. E isso traz ainda maiores demandas ao gerenciador.
Tanto para o varejo em geral como para empresas franqueadoras, interessa uma implantação de loja rápida, bonita e dentro do custo. Com base em nossa experiencia, podemos garantir que isso é totalmente possível, desde que se obedeças às leis da boa gestão, se abandone o amadorismo e se acredite que a especialização traz grandes vantagens.
* Por Bertram Shayer, CEO da Tekton