Imagine que você está assistindo a um vídeo no YouTube. O criador de conteúdo que você acompanha há meses finalmente vai revelar uma surpresa aguardada. Ou, depois de muita expectativa, um casal se beija em um momento de clímax. E então, bem nesse instante de envolvimento máximo, aparece um anúncio. Coincidência? Nem um pouco.
Esse é o propósito do Peak Points, nova ferramenta apresentada pelo YouTube durante o evento Brandcast 2025, em Nova York. Desenvolvida com base na IA generativa Gemini, do Google, a tecnologia analisa os vídeos para detectar os chamados “pontos de pico”, ou melhor, momentos de maior engajamento do público, e insere anúncios logo após essas cenas. A proposta é simples: usar Inteligência Artificial para entender o engajamento emocional do público e vender anúncios.
Estamos, de fato, entrando na era da IA emocional, uma fase em que algoritmos não apenas entendem o que você vê, mas também como você se sente. E isso abre caminho para uma nova relação entre marcas e consumidores.
Com o Peak Points, o YouTube chega a explorar precisamente os momentos em que o espectador está mais engajado em um determinado momento do vídeo. A lógica é clara: quando estamos mais conectados a uma história, estamos também mais abertos a estímulos externos, inclusive publicitários.
Segundo a plataforma, a ferramenta está em fase piloto e será implementada gradualmente ao longo do ano. Em um dos exemplos apresentados, o YouTube posiciona um anúncio logo após um pedido de casamento.
E a experiência do usuário?
Para muitos, pode ser visto como uma forma invasiva de monetização emocional, um uso frio de dados para interromper momentos de calor humano. Por outro lado, do ponto de vista das marcas, trata-se de uma oportunidade única de estar presente quando o público está mais receptivo. A emoção, afinal, é um dos gatilhos mais potentes para o consumo.
Quem quiser escapar dessa abordagem tem duas opções: assinar o YouTube Premium por R$ 26,90 mensais, ou recorrer a bloqueadores de anúncios, o que fere os termos de uso da plataforma e pode gerar limitações na navegação.
No fim das contas, a pergunta que fica é: até que ponto estamos dispostos a negociar nossos sentimentos por conveniência digital? A inteligência artificial emocional está entre nós, e ela não apenas nos entende. Ela sabe exatamente quando nos vender algo.