Nada como um dia após o outro, cheguei veterana na Altice Arena na segunda manhã de Web Summit, com olhos tranquilos por não ter de procurar placas e orientações, podendo apreciar o trajeto até o destino; as copas das árvores vão se vestindo tardia e lindamente do Outono. Os trabalhos começaram no palco Central com uma rodada de “breakout startups”, o que deu a tônica para a trilha deste segundo dia.
O poder deste evento mora no encontro e na costura
Nos pavilhões tudo se transforma, ainda que sejam um a extensão do outro. Do fundo de silêncio absoluto na grande abóboda, onde só se ouve a atração principal, direto para o ruído pesado e constante dos pavilhões onde passamos as horas num esforço quase inconsciente de focar nas falas e vozes escolhidas, esforço esse que se faz sentir ao final do dia, numa exaustão satisfeita que já toma conta de nós, física e cognitivamente. As ideias seguem fervilhando e o caldo vai engrossando, começamos a distinguir o que ficará conosco a fazer eco após o turbilhão. Termino o segundo dia mais certa de que o poder deste evento mora no encontro e na costura.
Costurando Startup University e Future Societies
Mais experiente, organizei uma agenda geo eficiente e andei meus dez mil passos do dia bastante concentrados no Pavilhão 3; agradeço aos organizadores que colocaram esses dois palcos tão próximos. Da evolução da Web ouvi: o que a Web2 fez bem foi ser fácil e segura, precisamos disso na web3, porém a Web1 era “fun” e na web2 ficamos muito sérios. Com a Web3 queremos resgatar este lado fun. O que conversa muito com o que ouvi no dia anterior: estamos na fase de tentar entender a Web3 e o metaverso, precisamos passar para as fases de usar e de sentir.
Especialmente para “creators” o convite parece sedutor. As palavras creator and criatividade andam por esses pavilhões todas alinhavadas com outras palavras fortes, tais como poder, propriedade, monetização. Essas, por sua vez, estão atreladas a outras que são chave, literalmente, para navegar bem pelos principais temas: ID, token, identidade per se. Da propriedade do NFT até a democracia, para resolver a situação dos indivíduos sem Estado ou para gerar lealdade a uma marca e se relacionar de forma personalizada, o segredo é ser capaz de identificar um creator, um customer, um usuário, um cidadão.
O segredo é ser capaz de identificar um creator, um customer, um usuário, um cidadão
Aqui uma pausa por uma causa: acessem os canais da Statefree, a fundadora, stateless ela mesma, fez uma apresentação inspiradora no palco Future Societies, personalizando tantos dos conceitos repetidos a lá mantra por aqui, para ficar só em dois deles: a obsessão por um problema a ser resolvido, e esse é o mindset das startup vencedoras, segundo as incubadoras; e a devolução de poder aos indivíduos, impensável para indivíduos que não tem direito sequer a uma certidão de nascimento). Podemos ajudar sua causa simplesmente curtindo e divulgando a existência da statefree.
Comunidades vão ditar o futuro on e off
O que me leva à ideia de comunidade. Outra chave para o futuro que estamos a tentar antecipar neste evento. Se a democracia depende da força da comunidade, também as empresas e marcas que serão capazes de melhor rentabilizar a web3 são aquelas que tem negocios hoje de baixa lucratividade porém com grandes comunidades de usuários. A ideia serve ainda para pensar mercados e investimentos. O futuro promete grandes oportunidades em África , onde a população de consumidores e de força de trabalho qualificada cresce acelerada. Outro continente , outro ponto de atenção: a Ásia já vive fortemente os superapps e há quem diga que essa é a tendência que veio para ficar e que vai conquistar mais e mais geografias no curto prazo.
Oscilando entre pautas de inovação e negócios e outras mais relacionadas a ética e filosofia, quando estava prestes a derivar para reflexões mais e mais profundas, minha agenda foi atravessada por uma masterclass. Outro formato, petit comitê, pragmatismo, conteúdo pronto e no ponto para dividir em breve com parceiros de negócios. “Preparing for a new generation of online shoppers”. Causas, meios de pagamento sem fricção, digital wallets, BNPL, cripto, personalização e marketplaces. Se a receita é para todos, não sei dizer, mas testar parece que será inevitável.
O dia de imersão vai terminando em uma bifurcação: de um lado reflexões mais e mais filosóficas sobre poder, identidade, arte, propriedade, democracia, de outro o pragmatimso dos negócios. Por sorte estamos na era da web3, do metaverso e do digital twin, talvez eu não precise escolher uma vereda só para percorrer. Pensando bem, começo a simpatizar com essa novidade toda. Não sou geração Z, mas talvez esse futuro seja pra mim também.
Epílogo
Levo ainda pra casa comigo um Pitch a que não assisti, sei de ouvir dizer que o rapaz se atrapalhou, ficou nervoso, saiu cabisbaixo de seus 10 minutos de oportunidade. Tenho imensa pena. Ele é uma pessoa entre 70mil a quem eu gostaria de dirigir uma palavra amiga hoje. Porque no final é sobre isso que estamos falando aqui , não? É sobre tecnologia e negócios e sobre fomentar ideias e sobre descentralização e sobre o poder nas mãos do consumidor, do user, do creator… mas que seja, sobretudo, sobre as pessoas.
*Andrea Pelagagi é head de Operações da Sponsorb
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