A morte ainda é um grande tabu dos nossos tempos. E diversas são as maneiras pelas quais as sociedades, mundo afora, lidam com ela. Os mexicanos, por exemplo, acreditam que os mortos têm permissão divina para voltar e visitar os vivos e, por isso os recebem com flores, velas, comidas preferidas e festas. Já entre os judeus, é uma tradição fazer um rasgo na roupa em quem está de luto, como forma de desgarrar da dor e do sofrimento. As tradições do luto na China já variam de acordo com a idade, a causa do falecimento ou o status social e de relacionamento.
Agora, com a pandemia de Covid-19, um novo elemento foi inserido na maneira como se vê a morte: a tecnologia. E são os millennials que agora estão precisando encarar o assunto, já que os efeitos do novo coronavírus no corpo, como se sabe, não são graves apenas em pessoas mais velhas. Com a proximidade da morte para a geração que agora é a mais conectada do momento, ganham destaque as “end-of-life” startups, cujo negócio principal é cuidar dos processos burocráticos que envolvem o fim da vida.
Antes do isolamento social, estas startups vinham tendo um crescimento moderado. Entretanto, desde março de 2020 este número tem mudado, com empresas relatando aumento de mais de 120% de tráfego em seus canais. “Um dos efeitos desta crise sanitária é a redução dos tabus e estigmas sobre a morte”, disse Suelin Chen, co-fundadora da Cake (joincake.com) em entrevista ao New York Times. Sua plataforma online oferece serviços que vão desde o desenvolvimento de frases para lápides, passando por designar o mandatário das decisões finais após a morte do cliente, bem como redigir testamentos, fazer consultoria na divisão de bens e até deixar pronto um “tweet final” no perfil da pessoa.
Outra “end-of-life startup” que tem chamado a atenção é a Eterneva, que tem o serviço (um pouco controverso) de transformar as cinzas de quem morreu em diamante. Já a Lifeweb 360 busca na criação de um álbum de família a memória dos entes queridos. Outros serviços complementam esta lista de opções, que no caso desta startup foca mais em fornecer auxílios humanos e emocionais a quem a contrata. Ela possui até mesmo um conteúdo próprio focado em condolências que ampara a ausência da pessoa que se foi.
Parcerias para a vida após a morte
Com a pandemia de Covid-19 sem data para acabar, também tem crescido, segundo informações ainda do “The New York Times”, parcerias inusitadas entre essas startups. Criar e distribuir guias sobre o fim da vida para funcionários de empresas é uma delas: a ideia é ajudá-los a superar uma possível perda. Outro público-alvo são os médicos, que podem contratar vídeos explicativos para abordar a questão com seus pacientes.
Segundo Uri Levin, co-fundador da Janno, uma das empresas do gênero mais conhecidas aqui no Brasil, e coordenador da pesquisa “Plano de Vida & Legado”, os brasileiros ainda estão construindo o pensamento de se preocupar com a morte. A cada dez brasileiros, sete acham importante cuidar das documentações e processos do fim de vida, mas somente três efetivamente o fizeram. O mercado da finitude movimenta, no Brasil, mais de R$7 bilhões ao ano. As startups para o fim da vida devem se incorporar a essa volumosa área e para isso têm criado redes de apoio para seus negócios. Tudo com o objetivo de diminuir o estresse e o custo que se tem ao deixar esta vida e partir para outra (ou não).
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Afinal, que tipo de inovação o consumidor espera das empresas?