Conhecida por ser um grande exportador de petróleo, a Arábia Saudita está embarcando em uma ambiciosa corrida para se reinventar como um hub global de tecnologia. E a Inteligência Artificial (IA) está no epicentro dessa estratégia. Sob a liderança do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o país está investindo cerca de US$ 100 bilhões em IA e outras tecnologias, como parte de sua estratégia Vision 2030.
A Vision 2030 é mais do que uma mudança econômica: trata-se de um reposicionamento estratégico em nível global. Com foco em diversificar sua economia, a Arábia Saudita busca reduzir sua dependência no petróleo, explorando novos setores como turismo, varejo de luxo e serviços financeiros. Mas é com a Inteligência Artificial que está a expectativa para liderar, sustentar o crescimento e projetar o país como uma potência tecnológica emergente.
Um dos pilares dessa estratégia é o Project Transcendence, que destina recursos bilionários à construção de data centers de ponta, suporte a startups e desenvolvimento de infraestrutura de IA. A meta é impulsionar a competitividade e se posicionar entre os líderes mundiais do setor, desafiando potências como Estados Unidos e China, Emirados Árabes Unidos e até mesmo o Vale do Silício, para ficar entre os 15 melhores do mundo em Inteligência Artificial até o final da década.
Parcerias estratégicas e atração de investimentos
Para atingir essa ambição, o reino tem buscado alianças com gigantes da tecnologia. A parceria com o Google para criar um centro avançado de IA é um exemplo, na qual a big tech investiu, por meio do projeto, cerca de US$ 10 bilhões. A Oracle anunciou US$ 1,5 bilhão para lançar novas áreas de nuvem. A Huawei investiu US$ 400 milhões em infraestrutura de nuvem para seus serviços no Reino, enquanto a Zoom fez uma parceria com a Aramco para lançar uma área de nuvem na Arábia Saudita.
Além disso, a realização de eventos globais sobre IA em solo saudita está ajudando a atrair atenção e talentos internacionais. No começo do ano, uma conferência mundial de tecnologia que ocorreu em Riad, capital da Arabia Saudita, reuniu líderes de empresas como Microsoft, NVIDIA, Amazon e outras gigantes, sinalizando o compromisso do governo com a inovação.
Competição global de IA
Apesar do otimismo, a Arábia Saudita enfrenta desafios para alcançar sua visão. A competição com grandes players globais, como Estados Unidos e China, exige muito mais que infraestrutura e capital, e sim uma força de trabalho qualificada e uma cultura de inovação complexa, ao mesmo tempo, gigante.
Em 2017, por exemplo, o Partido Comunista Chinês declarou a intenção do país em superar os Estados Unidos na liderança de Inteligência Artificial até 2030. São ecossistemas como Alibaba – dona de negócios como AliExpress e AliPay –, Tencent – controladora do WeChat – e Baidu que estão investindo bilhões para otimizar suas iniciativas em IA. Já entre as big techs dos Estados Unidos, como Microsoft, Amazon, Alphabet e Meta, os gastos em IA estão previstos para alcançar US$ 240 bilhões em 2024.
Nesse sentido, o governo saudita tem investido em programas de capacitação, com foco em alfabetização em IA e treinamentos especializados. Além disso, outro ponto importante será a criação de um ambiente regulatório que incentive o desenvolvimento ético e seguro da IA.
A aposta da Arábia Saudita em IA é uma tentativa de reposicionar o Oriente Médio como uma região de liderança tecnológica. Se bem-sucedido, o país poderá definir padrões globais em IA e inovação. Os próximos anos serão decisivos para saber se o país conseguirá transformar sua visão ambiciosa em uma realidade sustentável, se tornando como um dos principais atores na corrida global pela supremacia tecnológica.