Austin – EUA – O carro autônomo está aI. Vai dominar a paisagem e mudar totalmente a organização do tráfego nas cidades, modificar toda a realidade que foi moldada pelo século XX – o século do automóvel – e implodir modelos de negócio – estacionamentos, táxis, empresas de ônibus, montadoras e seguros.
Uma visão utópica? Talvez não, a julgar pela ênfase com que o SXSW 2016 aborda a temática. Um dos painéis – “Os veículos autônomos estão aqui. Estamos prontos para eles?”, reuniu David Strickland, Sócio da LLP, é uma das maiores autoridades em mobilidade urbana dos EUA, Sasha Moss, Conselheira do deputado Republicano Blake Farenthold (Texas), Jennifer Haroon, Head da unidade de carros autônomos do Google X, e Ian Adams, Senior Fellow do R Street Institute, a quem coube a moderação do debate.
Jennifer Haroon prontamente foi convidada a explicar os planos do Google para o carro autônomo. “Começamos a desenvolver o projeto há poucos anos e 23 estados impuseram diferentes legislações sobre o uso do carro autônomo. O Google trabalha pela autonomia total do carro. Ele vai ajudar fundamentalmente quem está limitado por diversos motivos a se locomover com o automóvel e tantas legislações diferentes podem tornar esses benefícios inviáveis”.
Strickland diz que o objetivo da discussão sobre uso dos carros autônomos implica em alinhar as diversas legislações para um padrão similar que não afete a liberdade de locomoção. Os carros autônomos podem levar o número de acidentes a zero. E estamos diante de uma oportunidade de proteger e salvar vidas.
Jennifer concorda. “O projeto do carro autônomo foi pensado para proteger as pessoas. Basta ver o número de pessoas vitimas por acidentes automobilísticos em nossas estradas ano passado. Há muito aprendizado nos pequenos acidentes provocado pelos testes dos carros autônomos. Nossos acidentes acontecem a menos de 5 km/h e os acidentes em geral, hoje, acontecem a mais de 50 km/h, e a maior parte, por erro humano e não de máquinas”.
Os congressistas de modo geral ainda não se preocuparam com o problema, são meio ignorantes no assunto, segundo Sasha Moss, conselheira do deputado Blake Farenthold. Strickland imediatamente enfatizou que o Congresso deveria abrir os olhos para o problema. “O número de erros humanos abrange 94% dos acidentes. Pensar em segurança significa sim pensar em carros autônomos, para além da conveniência, para levar pessoas de um lado a outro com segurança: crianças, avós, você, após o happy hour”.
Antes de pensar em um projeto de percentual de erro zero, é preciso ter em mente que os carros autônomos irão reduzir absurdamente os acidentes. Sasha Moss, contudo, levanta outra questão: como as comunidades pequenas vão encarar a presença de carros sem motorista? Jennifer, do Google, responde: “a surpresa será ver que o carro autônomo é um tédio. Porque dirigir será muito previsível. E acredito que isso terá aceitação do consumidor”.
Há detratores do projeto, que dizem que haverá invasão da privacidade, carros poderão ser hackeados, as indústrias de táxis serão devastadas, assim como as frotas de ônibus, pois o trânsito será mais eficiente. Ônibus elétricos sem motorista reduzirão dramaticamente os custos da mobilidade urbana. O mercado de seguros deverá ser totalmente redesenhado. Mas segundo Jennifer, “a privacidade é o maior dos problemas e estamos trabalhando fortemente nisso no Google”.
Strickland retomou a palavra para reafirmar que o carro sem motorista vale o investimento e a busca por uma regulação uniforme, federal (e até mundial). “Tudo gira em torno da segurança. Carros autônomos vão pedir novas formas de regulação e modelagem de seguros. Em caso de acidente, como definir de quem será a responsabilidade? Qual será a cobertura proporcionada pelos seguros em acidentes com potencial letal mínimo, insignificante? Estamos com receio de um sistema com diversas redundâncias, câmeras, links, mapas, rotas, sistemas de proximidade, velocidade, segurança. A promessa da automação no carro autônomo é redução de colisões, a níveis mínimos, com efeitos espantosos na redução da letalidade e substancial em custos hospitalares”.
Um ponto de consenso no debate foi que a automação veicular pode minimizar danos em colisões a um nível tão baixo que nenhuma outra pesquisa em curso sobre doenças que afetam as massas pode conceber.
Com relação às perspectivas da indústria e da legislação, Jennifer diz que os testes incessantes do Google são para justamente poderem trocar ideias com a comunidade e buscar novas perguntas sobre tudo o que cerca o trajeto de um carro como esse. Ela afirma taxativamente que não cabe ao Google produzir carros, mas sim fornecer a tecnologia que torna a automação veicular mais segura.
“Sim, os carros poderão se conectar com os celulares dos pedestres, criar notificações e avisos para que a harmonia no trânsito aconteça de fato. Você poderá usar seu celular no carro autônomo, mas jamais poderá fazê-lo dirigindo”, diz Strickland.
O painel ainda levantou outros tópicos relevantes para o cenário do carro sem motorista, por exemplo: como o carro autônomo e economia compartilhada afetam um ao outro? A questão está em aberto. Segundo os executivos, não há como saber se a maioria das pessoas irá optar por andar em carros compartilhados ou ter seu carro autônomo.
Com relação novamente à questão da legislação, Strickland concluiu: “é bem provável que o atual marco regulatório faça os EUA liderarem o processo. Os níveis de automação e de qualidade que prevalecerem no país provavelmente serão os standards no mundo em desenvolvimento”.
E você, leitor, já está preparado para ter o seu carro autônomo?
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Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.