Foram muitas viagens pelo interior de São Paulo e Minas Gerais na infância. Os queijos maturados de pequenos produtores nas cidadezinhas do interior dos dois Estados eram a paixão do então garoto Fernando de Oliveira. Desde o tradicional processo de tirar o leite das vacas à maturação, ele viveu a cultura do queijo como lazer e hobby. Tomado pelo saudosismo, após pouco mais de 20 anos da morte de seu avô, Oliveira resolveu voltar às origens e vendeu seu primeiro queijo em 2008 – negócio que originaria na loja A Queijaria.
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Atualmente, mais de 300 queijos diferentes passam pelo processo de maturação, feito em um sítio da família na cidade de Morungaba, no interior de São Paulo. De lá, boa parte dos produtos vai para a loja no bairro da Vila Madalena, na capital paulista.
Em uma casa charmosa de esquina, o ambiente respira fazenda. Os queijos – dispostos em diversas prateleiras de madeiras, cestas de palha e em um balcão para degustação – remontam a um cenário bucólico. Ao fundo da loja, encontra-se outra gama de produtos, complementares ao consumo do queijo, como vinhos, cachaças, pimentas, geleias e pães. “Não somos uma mercearia”, alerta Oliveira.
“Eu conheço os produtores de todas as mercadorias. Não comercializo para meus clientes se não conheço de onde os produtos vêm. Se tem um vinho ali à venda é porque eu fui pessoalmente e experimentei na vinícola”, diz o empresário. E foi com esse pilar que o projeto foi construído.
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Origens
A história da Queijaria começou com a visão do empreendedor de que havia uma demanda não atendida no mercado. Ao perceber uma oferta em demasia de queijos frescos e industrializados, em detrimento de uma grande lacuna dos maturados, ele viu uma oportunidade de nicho aparecer na sua frente.
O proprietário conta que, desde a morte do avô, não tinha mais acesso aos queijos maturados. “O mercado tinha mudado muito, com todo mundo comendo queijo fresco. As pessoas começaram a não se importar com a tradição, muito menos com o sabor. E todo mundo começou a vender queijo muito fresco, por peso mesmo, ter estoque”, afirma.
A partir desse comportamento, Oliveira viu uma oportunidade. Com ela, também veio a vontade de oferecer um queijo de boa qualidade, de fato maturado – como aquele que fez parte dos anos de sua infância. Com o negócio, o empreendedor quer criar uma cultura queijeira pelo Brasil.
“Quando eu falo de queijos maturados eu estou falando de tempo. De virar e cuidar desse queijo por 20, 30 dias. E dependendo do queijo e da forma que você quer fazer é que você vai entender que esse queijo tem um sabor, uma textura, um aroma. É diferente da lógica da indústria”, explica.
Para construir o negócio, o empreendedor pesquisou sobre a cultura do queijo no Brasil. Viajou por várias fazendas do interior de São Paulo e Minas Gerais, refazendo os roteiros do seu avô, e identificou problemas na cadeia produtiva dos queijos maturados. O primeiro lugar que revisitou foi a Serra da Canastra (MG).
“Eu comecei a entender a dramaticidade dos produtores. As pessoas que faziam os queijos e que viviam disso nas últimas três gerações estavam desvalorizadas. O queijo que se vendia em larga escala era o branco, então, por essa lógica, não tinha mais por que vender um queijo maturado como antigamente”, conta Oliveira.
Em São Roque de Minas, conheceu a propriedade do Zé Mario, um dos únicos fazendeiros na época que ainda fazia, metodicamente, o processo de maturação. Fernando resolveu comprar do produtor e levar aos familiares. A aprovação foi tanta que começou a vender na plataforma Queijo Artesanal. “As pessoas enlouqueceram, começaram a pedir esse queijo. E naturalmente acabou virando um negócio”.
Hoje, Oliveira trabalha com 50 pequenos produtores interioranos, de 17 Estados, que trabalham com queijo maturado, mas que não tinham estrutura nem ambiente de negócios para se sustentar. Ele os ajuda a profissionalizar e a rentabilizar seus empreendimentos.