O Jornalista, faminto, entra em uma das quase 40 lojas da rede Pret A Manger em Nova York exatos 13 minutos antes do ponto de venda encerrar as operações do dia. Tempo mais que suficiente para escolher uma bandeja bem fornida com peito de frango, um pouco de queijo e salada, um pote de iogurte orgânico com blueberries e uma salada de frutas. Muito saudável, mas combinando pouco com a temperatura de 6 graus abaixo de zero.
O que combina menos ainda com a temperatura é o sem-teto que, nesse frio todo, está do lado de fora da loja tentando se acomodar em um cobertor. Nesse momento, o Jornalista acabou de ler o guardanapo da rede de produtos orgânicos e naturais, que traz uma mensagem ousada:
?Fazemos hoje, e vai embora hoje ? todas as noites nós doamos nossos alimentos frescos para quem tem fome, em vez de vender no dia seguinte. Essa é a coisa certa a fazer?.
O sem-teto entra na loja e vai até o caixa conversar com Helen, uma simpática funcionária hispânica que parece bastante contente com seu trabalho. Ele pede algo, ela diz que não, mas oferece um café, que ele aceita. Sai da loja e logo pega suas coisas para procurar outro lugar.
Enquanto faz sua refeição, o Jornalista observa a movimentação do encerramento do expediente na loja. Helen fecha o caixa e se dirige às gôndolas de perecíveis. Separa as saladas, sanduíches e wraps e coloca em dois grandes sacos transparentes, antes de cuidadosamente limpar as prateleiras e deixar o lugar em ordem para a abertura do PDV no dia seguinte.
A salada, o iogurte e as frutas acabam, mas a curiosidade é infinita. O Jornalista vai até ela e pergunta o que o sem-teto queria, já imaginando a resposta: comida. ?Ele queria comida grátis, que não posso dar?, conta Helen. ?Corta o coração, mas se eu fizer isso, no dia seguinte tem um monte de pessoas como ele aqui, e isso é ruim para os negócios?, comenta.
Mas e a declaração ousada do guardanapo? Como fica?
?Esses alimentos que eu separei vão para a City Harvest, que é uma ONG aqui de Nova York. Eles estão distribuem para quem precisa?, explica. Em 2014, foram quase 200 toneladas de alimentos, que fizeram da Pret A Manger uma das 10 maiores doadoras da entidade. Com ações semelhantes em Boston, Washington e Chicago e também no Reino Unido e em Hong Kong, a rede doou no ano passado 1,7 milhão de alimentos. Como aponta a rede em seu website, ?é melhor que nossos alimentos cheguem até quem precisa do que parem no cesto de lixo?.
A City Harvest, por sua vez, recebe anualmente 25 milhões de toneladas de alimentos que iriam parar no lixo, mas acabam ajudando a alimentar 1,4 milhão de pessoas na região de Nova York, por meio de mais de 500 programas comunitários.
O Jornalista sai da loja, de volta para o frio glacial. Varejo é um negócio de centavos, mas sempre há espaço para se fazer a diferença.