O processo de transformação digital passa diretamente pelo posicionamento dos CEOs das empresas. É o que pensam os líderes do Banco Carrefour, da Sky, da Porto Seguro e da Pernambucanas, que participaram nesta quarta-feira de um painel no CONAREC 2022. Os executivos destacaram os desafios dessa transformação desde a identificação dos benefícios que ela vai trazer para a própria empresa e para os clientes, até a dificuldade de mudar a mentalidade de gestão baseada na cadeia de comando e controle.
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Para Carlos Mauad, CEO do Banco Carrefour, o grande aprendizado da transformação digital é que cada empresa terá o seu próprio processo. Não há uma receita única, infalível, apesar de terem fundamentos importantes de serem seguidos. Carlos reforça que incorporar todas essas mudanças não é uma tarefa simples e que por isso, o CEO precisa puxar para ele a responsabilidade de fazer acontecer.
“É um processo muito duro com as pessoas, se a liderança não tiver coragem de empurrar isso para frente com energia, o resultado não chega na outra ponta. De início, o CEO já tem que assumir o papel de inverter a cadeia de comando e controle. Precisa deixar o lugar de ser servido e passar a servir a companhia”, enfatizou Mauad.
Roberto Santos, CEO da Porto Seguro, incorporou esse papel. “Eu trouxe para mim como CEO da holding a responsabilidade de encabeçar o processo de transformação digital. Criar um um setor de digitalização para isso, é criar um inimigo para as outras equipes”, contou. Roberto defende que só o próprio CEO é capaz de evangelizar, disseminar a cultura da transformação digital dando a autonomia necessária para que os times executem as missões.
Nessa mesma linha, Sérgio Borriello, CEO da Pernambucanas, defendeu que o CEO precisa ser o exemplo, aquele que gera a crença: “Nada produz resultado de imediato, a inovação não é lucrativa, ela se torna lucrativa. Por isso, somos nós que temos que ter a obstinação de investir e acreditar no novo”.
Já Raphael Denadai, presidente da Sky, foi além. Para ele, fora de servir e puxar para si a responsabilidade pelo processo, o CEO precisa saber comunicar, criar um fluxo de comunicação contínuo e simples que chegue em todas as pontas.
“É fundamental ter a consciência de que dentro de uma área administrativa você pode inovar. Cada área da companhia faz parte de um todo. O CEO precisa levar essa mensagem para a equipe para melhorar a entrega. A gente dentro da SKY está conseguindo avançar nisso a partir da escuta, da interação com os nossos colaboradores”, explicou Denadai.
O presidente da Sky completou afirmando que o papel do CEO no processo de digitalização é servir, em primeiro lugar, prover as condições necessárias de trabalho para os times, saber comunicar e direcionar a equipe para que a transformação aconteça.
Alocação de recursos
Líderes sempre trabalham com a lógica de reduzir custos. Diante disso, a recomendação dos debatedores em relação à alocação de recursos foi separar aquilo que deverá ser investido em transformação digital. Raphael Denadai explicou que trabalhar com recursos reduzidos ajuda não só a dar mais lucro, mas principalmente a realocar recursos para novos produtos e serviços para melhor atender os clientes.
Na Porto Seguro foi criada uma estrutura para fazer uma governança vertical da empresa, com um olhar geral sobre a companhia capaz de identificar o que existe de interessante em uma área e poder aplicar em outras.
Para o CEO da holding, Roberto Santos, ao contrário do que pode parecer inicialmente, a transformação digital é sinônimo de eficiência operacional e ajuda na redução de custos. Roberto deu o exemplo do atendimento por Whatsapp: “Tivemos o desafio de entender como digitalizar o nosso atendimento que sempre foi feito com muito cuidado e carinho por telefone. Mas hoje, 40% de todas as nossas interações acontecem via Whatsapp e já vemos resultados positivos. Estamos oferecendo um serviço melhor a um custo reduzido”.
Mudança de mentalidade e cultura
Outro tópico tratado no debate foi a dificuldade de promover a mudança de mentalidade e cultura dentro da empresa. Carlos Muad, CEO do Banco Carrefour, acredita que o tópico “pessoas” é mais difícil de ser administrado.
Segundo ele, a transformação digital faz com que o líder deixe de ser reconhecido pela quantidade de pessoas que estão “embaixo do seu guarda-chuva” e passe a ser recompensado pela capacidade de acabar com impedimentos para que os times possam avançar. Mas, o processo para que todos na empresa embarquem nessa nova cultura é desafiador.
“Existem aqueles que precisam da ajuda da companhia porque não conseguem fazer essa mudança de mentalidade de maneira orgânica, apesar de tentarem, e aquelas pessoas que contaminam o processo. Estas últimas precisam ser tiradas para que não virem âncoras, impedindo que a transformação aconteça”, descreveu o CEO.
Para conseguir efetivar esse processo de mudança de mentalidade a Sky apostou em reduzir a hierarquização, disseminando a mentalidade de que quando um vence, o time vence e quando o time vence, vence a empresa.
“Dar voz às pessoas, escutar, manter um fluxo de informação constante, isso tudo gera alinhamento estratégico e resultados positivos para a empresa. Na medida em que todos estão cientes das decisões tomadas, mesmo das mais duras, o ruído diminui, você acaba com esse grupo de pessoas que funcionam como âncoras e todos passam a trabalhar na mesma direção”, afirmou Raphael Denadai.
Importância da inclusão
Sérgio Borriello contou que recentemente um funcionário da Pernambucanas comemorou 60 anos de empresa e fez com que ele refletisse sobre a importância dos líderes não esquecerem que as empresas são construídas por pessoas, que devem ser consideradas em todos os processos de transformação.
“Transformar significa evoluir a cultura e não necessariamente fazer uma revolução. É importante valorizar quem está ali, no dia a dia, do mais novo funcionário, ao mais experiente. Todos vão ter um papel importante nesse processo. E digo mais, a inclusão de todas as idades, raças, gêneros gera cada vez mais oportunidades de transformar”, analisou o CEO da Pernambucanas, que lembrou que a empresa tem 114 anos.
O que vem pela frente?
Perguntados sobre o futuro, sobre o Metaverso por exempl, os líderes do Banco Carrefour, da Sky, da Porto Seguro e da Pernambucanas foram unânimes em dizer que não se assustam. Carlos Mauad foi categórico e resumiu:
“A beleza do processo de transformação é que ele entrega para a companhia a capacidade de evoluir e estar sempre posicionada na fronteira de crescimento. O grande legado que a gente como CEO pode deixar para o futuro da empresa é esse grau de liberdade para que ela consiga se movimentar com o mercado e vá evoluindo conforme for sendo atravessada pela tecnologia”.
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