Inovação, criatividade, colaboração, retenção de talentos, saúde organizacional mais sólida, gente mais feliz e melhor performance financeira: esses são alguns dos benefícios de se trabalhar a diversidade nas empresas.
Mas atenção, se você se animou com as promessas enumeradas nas primeiras linhas deste texto, volte duas casas – posicionado estrategicamente no fim do parágrafo – o verbo trabalhar, de mãos dadas com a palavra diversidade, dá o recado: é preciso empenhar-se para executar, para alcançar, como bem define o dicionário.
Em outras palavras, mais do que dizer-se diversa, é preciso que as organizações estabeleçam estratégias e programas que permitam a real inclusão de colaboradores de diferentes etnias, gêneros, crenças, idades, classes sociais e histórias de vida em suas equipes e, assim, possam explorar bem as contribuições de cada um.
Os benefícios de se trabalhar a diversidade
Quando o assunto é as contribuições da diversidade para as organizações, a matemática é simples: empresas que contam com a colaboração de funcionários de diferentes culturas, orientações sexuais, etnias, idades e classes sociais ganham em pluralidade de visões e soluções e por isso são mais inovadoras e criativas.
Além disso, por se sentirem ouvidas e valorizadas, as pessoas se reconhecem como parte importante de uma estrutura, trabalham mais felizes e trazem mais resultados, inclusive financeiros.
Uma ampla pesquisa publicada em 2020 pela McKinsey & Company, denominada Diversity Matters: América Latina, revelou dados que corroboram para o entendimento de que a diversidade importa nas organizações.
O estudo, que reuniu um conjunto de informações de 700 empresas de capital aberto da América Latina, entrevistou 3.900 funcionários, considerou dados do Índice de Saúde Organizacional (OHI, em inglês) e realizou entrevistas aprofundadas com mais de 30 executivos seniores de empresas líderes na América Latina, destaca a interconexão da diversidade com práticas de negócios positivas, comportamentos eficazes de liderança, saúde organizacional e performance do negócio.
De acordo com o relatório, funcionários de empresas que adotam a diversidade relatam níveis mais altos de colaboração e inovação e têm probabilidade 152% maior de afirmar que podem propor novas ideias e tentar novas formas de fazer as coisas se comparados com empresas que não prezam pela diversidade.
Além disso, o levantamento da McKinsey destaca que o comprometimento das empresas com a diversidade está intimamente relacionado à capacidade de seus líderes de criarem equipes confiáveis e de alta performance. No estudo, funcionários de empresas percebidas como comprometidas com a diversidade apresentam probabilidade 80% maior de concordar que seus líderes promovem a confiança e o diálogo aberto e probabilidade 73% maior de afirmar que a liderança valoriza a equipe.
Por fim, a pesquisa revela ainda que, nas empresas que buscam trabalhar a diversidade, 63% dos funcionários indicam que estão felizes, em comparação com 31% das empresas que não são percebidas como comprometidas com a diversidade.
A importância da igualdade de gênero
Outro dado interessante revelado pelo estudo da McKinsey é o impacto da igualdade de gênero na performance financeira das organizações. Segundo a pesquisa, empresas percebidas pelos funcionários como tendo diversidade de gênero têm probabilidade 93% maior de superar a performance financeira de concorrentes de mercado.
“A diversidade e a inclusão no local de trabalho aumentam o engajamento, a capacidade de inovação e o desempenho das equipes e seus resultados. A igualdade de gênero está contida em uma questão muito maior, a sustentabilidade dos negócios. Neste sentido, destaco que os participantes dos mercados financeiro e de capitais têm papel essencial nesse debate. As empresas que têm igualdade de gênero são mais produtivas e mais atrativas aos investidores, ou seja, são mais lucrativas!”, defende Carolina Cavenaghi, co-fundadora e CEO da Fin4she, empresa que trabalha a equidade de gênero para impulsionar negócios para mulheres e marcas do país.
“A equidade de gênero não é somente a coisa certa a se fazer. É, principalmente, a mais inteligente”, finaliza.
Para funcionar, diversidade precisa se transformar em inclusão
O estudo da McKinsey é apenas um entre tantos que trazem números e que comprovam as contribuições da diversidade para o sucesso das organizações contemporâneas, porém, mais do que afirmar-se diversa, é preciso que as empresas desenvolvam estratégias e formulem ações para transformar a diversidade em inclusão.
“Quando falamos em diversidade dentro de uma organização podemos pensar em um ambiente capaz de criar uma cultura de pertencimento para todos os seus funcionários. Precisamos destacar a importância do diálogo para reforçarmos a urgência da inclusão, do acolhimento e da empatia”, pontua Carolina Cavenaghi.
Para ela, o segredo está em entender que a diversidade é um tema pertinente a todos os integrantes de uma organização, além de estar claramente relacionado à estratégia da empresa.
“Estabelecer valores e uma cultura que apoie o tema é fundamental. Todos dentro da empresa precisam se sentir confortáveis com isso. É importante ter claro que as soluções são diversas – o relevante é o olhar atento a essas individualidades”, avalia.
Para isso, a CEO da Fin4she sugere a promoção de fóruns e debates sobre o tema diversidade, além da necessidade de as pessoas e as empresas assumirem o protagonismo na luta pela causa. “O assunto não pode ser um tabu, é importante que as empresas assumam o papel de protagonistas, assim como todos os seus funcionários. Nós, pessoas, somos uma extensão das empresas e precisamos entender a relevância da nossa transformação e responsabilidade. O mais importante é trabalhar uma cultura de pertencimento”, reforça.
Como trabalhar a diversidade para atingir resultados esperados
1. Garantir a diversificação dos talentos desde a abertura do processo seletivo
Garantir, desde o momento do processo seletivo, a diversificação dos talentos é um dos primeiros passos para as empresas que desejam trabalhar a diversidade. Para isso, é preciso estabelecer metas de diversidade e alinhá-las à estratégia de negócios da empresa.
Um exemplo é a parceria entre a Fin4she e a konect.me, plataforma especializada em conectar pessoas com jobs. A ideia é facilitar o processo de contratação de profissionais seguindo os critérios da diversidade de gênero, atenuando a dificuldade que algumas empresas tinham em encontrar profissionais mulheres para ocupar determinados cargos.
“Nosso objetivo não é apenas conectar profissionais e empresas, mas também promover discussões de temas, causas, pautas e movimentos que ajudam a qualificar e transformar o mercado. Parcerias como essa, com a Fin4she, são essenciais na construção de uma sociedade mais justa”, afirma Celio Ashcar Jr., cofounder & partner da plataforma.
Outro ponto que merece destaque durante o processo de contratação, segundo Carolina Cavenaghi é que a descrição para a vaga seja feita através de comunicação clara e transparente, sem adjetivos masculinos e que ao menos 30% dos currículos avaliados sejam de mulheres para realização de entrevistas.
“Também é importante que líderes mulheres façam parte do processo de entrevista e seleção e, se possível, mulheres que ocupem a mesma posição hierárquica da vaga”, explica ela, que destaca que essas práticas, inclusive, devem ser consideradas como metas para líderes de Recursos Humanos.
2. Desenvolver a inclusão como competência das lideranças
Investir na formação de líderes com olhar atento para as diversidades é outra forma de trabalhar a diversidade com o objetivo de alcançar os resultados esperados.
Para isso, o relatório da McKinsey sugere que a liderança inclusiva seja mensurada em avaliações e apoiada por meio de iniciativas de capacitação. A criação de painéis de controle de metas de inclusão, visíveis para toda a empresa, também pode ser uma estratégia.
À lista, a CEO da Fin4she acrescenta a criação de programas de mentorias, com homens e mulheres, em todos os níveis da organização para potenciais talentos, além de planos de carreira para as colaboradoras, principalmente as de média gerência.
3. Assegurar a igualdade e a equidade de oportunidades
Criar políticas para viabilizar a igualdade e a equidade de oportunidades, com remunerações e promoções justas e transparentes também deve ser um dos objetivos das empresas que buscam trabalhar a diversidade.
“É preciso incluir a equidade de gênero no plano estratégico das organizações, com objetivo de monitorar o tema nas promoções e linhas de sucessão. Além disso, também é necessário incluir metas de diversidade de promoção no sênior management/diretoria da empresa e programas internos para estimular o desenvolvimento da carreira de mulheres”, reforça Carolina Cavenaghi.
4. Criar regras para combater a discriminação
Promover o combate a microagressões, incluindo regras rígidas relacionadas a assédio e discriminação é uma das orientações do documento elaborado pela McKinsey para promover a diversidade nas organizações, que reforça a importância de que a empresa seja um espaço aberto para discussões sobre assuntos difíceis e também para que funcionários compartilhem feedback a respeito do comportamento de seus superiores em relação ao tema.
5. Diversidade na prática
Para que a diversidade traga contribuições relevantes para o sucesso organizacional é preciso saber extrair o melhor que cada indivíduo pode oferecer e isso inclui, é claro, as diferenças e particularidades de cada sujeito. Por isso, dar liberdade para que as pessoas “sejam quem elas de fato são”, valorizando seus pontos fortes e incentivando a diversificação de talentos é superimportante.
Além disso, a CEO da Fin4she defende a implementação de modelos de trabalho flexíveis para todos os colaboradores e políticas claras de licença parental para homens e mulheres.
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