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The Circle, da Netflix, é um reflexo de como vivemos

The Circle, da Netflix, é um reflexo de como vivemos

Seriam os reality shows uma mera demonstração do que somos como sociedade?

Vivemos em um mundo onde cada vez mais, o entretenimento funciona como escapismo da realidade. O consumo de séries, podcasts, filmes e tudo mais, nunca foi tão grande. Mas pouco paramos para pensar na nova ascensão do reality show. Categoria que teve sua queda acentuada na década passada, que teve seu auge na retrasada e volta a surfar na crista agora, nos anos 20 do século XXI. A Netflix, por exemplo, investiu pesado no gênero, o catálogo antes ocupado por séries, tem agora grande parte de sua interface dedicada aos realities dos mais diversos lugares do mundo.

Uma das investidas da plataforma foi o “The Circle“, um hit que traz um híbrido de socialização e mídias sociais. O confinamento tradicional de diversos formatos está ali, diversos participantes são confinados em um prédio cada um com seu apartamento e, não interagem entre si cara-a-cara, ao invés disso, as smart homes onde habitam traz o Circle, um assistente virtual integrado a uma rede social que conecta cada participante. Por ali, eles interagem via chat, publicam fotos e moldam a imagem pública que cada um terá do outro. Em todos os episódios, um ranking de avaliação geral define quem será o influenciador e quem serão os “bloqueados”, eliminados da vez.

A narrativa de viver por likes e aprovação externa que muito é atribuída as redes sociais está ali presente, alguns participantes entram usando “fakes”, no exterior mais conhecido como Catfishes. Nesse caso, usam fotos de outras pessoas e interagem em forma de outra persona. Tudo com o intuito de ser mais popular, sociável e aceito. No fim, o modo como o integrante “se vende” e interage na rede social, define seu status no jogo e sua continuidade.

“A versão pós-moderna do teatro grego aparece destituída da profundidade do drama e do impacto da tragédia. As experiências humanas ficam reduzidas a uma gama de pequenos conflitos que retratam a superficialidade e o caráter fugidio das relações sociais. O que se vê é a pulverização dos relacionamentos em atitudes impulsivas, intrigas e falas desarticuladas, denotando manifestações emocionais caricatas e previsíveis”, Marília Pereira Bueno Milan, Prof. adjunto da Universidade Paulista – UNIP, Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo em seu artigo “Reality Shows – uma Abordagem Psicossocial”

Uma caracteristica visivel do reality é que ao contrário dos outros modelos de confinamento, ali, o jogador sente tudo, menos solidão, o que reflete como vivemos, talvez? Hoje, devido as tensões atuais de pandemia e vidas cada vez mais digitalizadas, acabamos ficando mais em casa e vivendo por meio das redes sociais, ou seja, não pensamos em quão sozinho estamos e sobre como não interagimos pessoalmente. Um reflexo bizarro sobre como tornamos as relações humanas em algo liquido, fugaz e efêmero.

O seriado que é um sucesso na plataforma de streaming chega em meio a um boom dos realities, que cada vez mais refletem a lógica da vida que vendemos nas rede sociais. É preciso dizer que tem, que é, e o que faz para que se possa adquirir respeito e afeto. No mundo dos programas de “realidade” digitalizados, trazemos uma falsa sensação de vida normal com tokens que já utilizamos na vida real, na palma de nossas mãos, em nossos celulares. Hoje, um negócio só vive para ver a luz do dia, caso sua avaliação nas plataformas digitais esteja acima de 4 estrelas. É louco pensar que vivemos à base de impressões rápidas e interpretação de carácteres. E é isso que The Circle traz à tona.

Na luta por US$ 150 mil dólares, é visível que qualquer participante que adentrar ao game, já traz de fora suas habilidades sociais e emocionais, que obviamente são treinadas dia-a-dia por meio das mídias sociais. Afinal, pare pra pensar: os nossos “digital influencers” são pessoas que chegaram a tal status pela atratividade de sua vida editada por meio de fotos, vídeos e outros parâmetros, como interage com o público e o que ali produz, com isso, o algoritmo entende certas características e entrega com muito mais efetividade suas postagens que logo são convertidas em seguidores e número de likes. O fim da história? Um selo azul de verificação, manutenção de persona e discursos polidos. Um passo fora da curva? Uma chuva de “blocks”, linchamento virtual e bem-vindo à cultura do cancelamento.

Em estudo publicado pela WGSN em 2019, o instituto de tendências apresenta as necessidades das novas gerações em suas relações interpessoais, com base nisso se define a “Geração Nós” e a “Geração Eu”, nomeadas como Gen-We e Gen-Me:

O streaming e feed sem fim alimenta a eterna necessidade da “Gen-Me” de conteúdo e com todo seu tempo direcionado para a Internet, não há dúvidas da razão pela qual essa geração se sente emocionalmente exausta. O resultado? Eles se auto submergem em um oceano de mídias sociais.

“Nós não temos uma escolha sobre as mídias sociais, a questão é sobre como a usamos. As mídias sociais me fazem sentir como se eu tivesse olhos quadrados e não me dá mais a possibilidade de uma vida normal” diz Paris, de 15 anos, que vive em Brisbane, na Australia em depoimento ao estudo da WGSN.

Como parte de sua obsessão com as mídias sociais, a Gen-Me vive conscientemente em vidas duplas; sua real identidade emerge pessoalmente, e sua persona fabricada e filtrada é exibida em todos seus canais digitais.

Estudo: The Gen Z Equation, A WGSN Project, 2019

O reality foi rapidamente reproduzido pela Netflix em diversos países, há inclusive uma versão brasileira do programa que já é sucesso e tem uma segunda temporada prometida. Mas o objetivo aqui não é o sucesso do programa que é inerente a questão. É importante analisarmos como um simples programa de entretenimento reflete tanto uma situação de isolamento social, interações virtuais e um futuro onde o home office será de grande disseminação e dependeremos exclusivamente de assistentes de voz, chats e videochamadas.

Podemos nos alertar sobre como avaliamos uns aos outros, como interpretamos caráter via mensagens de texto e outros aspectos simplistas que não entregam veracidade ao que talvez queiramos dizer. Esse é um futuro próximo e provável sobre como lidaremos um com os outros e que ainda estamos a tempo de adaptarmos. Podemos pensar que esse na verdade, será o olhar futuro sobre como lidamos um com o outro: o equilíbrio das relações digitais e o que devemos considerar ou não.


 

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