2020. No ano em que professores e alunos tiveram de dar um show de improviso, as mesas das cozinhas viraram carteiras escolares. Notebooks, tablets e celulares, a lousa dos cursos que outrora viviam das atividades presenciais.
Se a realidade do ensino mudou a rotina de pais e alunos, todo o setor da educação sentiu na pele o que foi ter de se adaptar ao “novo normal” às pressas a fim de evitar maiores danos na educação de todo o Brasil.
Segundo dados da pesquisa Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), já contamos com mais alunos matriculados em cursos online, que presenciais – com aumento de mais de 20% nas matrículas em instituições que oferecem ensino à distância.
Entre tantas incertezas e transformações, há um nicho que hoje, se sente mais acuado com a normalização do EAD – as organizações pagas de renome do ensino superior, com seus enormes campos, bibliotecas, laboratórios e especialmente: as mensalidades!
Agora que faculdades de diferentes gabaritos em todo o mundo passaram a usar o Zoom, como manter a competitividade? O brasileiro bilíngüe – que ao longo da vida ostentou o privilégio do ir e vir entre pontes aéreas de diferentes continentes – terá o mesmo interesse na pós-graduação do país, ou vai preferir a opção pelo EAD do mesmo curso em Harvard?
O Consumidor Moderno conversou com o especialista em EAD e gestor da SPDS (São Paulo Digital School), Carlos Medina. O executivo dividiu conosco as perspectivas para o setor e foi enfático quanto ao futuro do modelo: “Não vai ter retorno. A modalidade veio para ficar”.
Unidas pelo Zoom
O gestor projeta que entidades de pós-graduação famosas entre as classes mais favorecidas da sociedade, perderão espaço para instituições estrangeiras que agora também fazem o uso do Zoom.
“A pandemia estabeleceu um nível de igualdade no acesso à educação. No Brasil, temos a prevalência do português como um desafio. A penetração de pessoas que falam bem o inglês representa um percentual razoavelmente pequeno. Mas, as instituições que praticam altos valores terão de concorrer com uma Harvard, Stanford, por exemplo, que são, sem dúvida, muito mais estruturadas”, afirma.
Para sermos mais exatos. Apenas 5% da população brasileira dominam a língua inglesa, sendo 1% fluente de acordo com pesquisa do British Council e do Instituto de Pesquisa Data Popular.
Na ‘queda de braços’ prevista, ele faz uma comparação pertinente. “A conta é simples. Se uma pós-graduação de renome requer um investimento de R$ 8 mil, o usuário bilíngüe mais atento fará o investimento de U$ 2 mil em Harvard porque sabe que o certificado terá peso muito maior em seu currículo”.
Normalização da cultura
Dados da pesquisa Educa Insights – promovida entre 30/03 a 05/04 deste ano, com 1.112 estudantes de 17 a 50 anos, das classes ABCD – dão conta de que 72% dos estudantes com intenção de migrar para o EAD em universidades particulares brasileiras, têm como motivação as mensalidades mais baixas, se comparadas com os cursos presenciais.
Segundo o estudo, divulgado pela ABMES (Associação Brasileiras das Mantenedoras de Ensino Superior) – entidade que reúne 2.500 universidades particulares – em média, a mensalidade de um curso presencial gira em torno de R$ 730, enquanto na modalidade EAD esse valor cai para a faixa de R$ 205 e R$ 250.
“Em 2010, universidades norte-americanas já previam que em 2030 as estruturas físicas seriam menores e, em alguns casos, deixariam de existir devido aos impactos das soluções tecnológicas na educação. A pandemia fez, na verdade, esse processo acelerar em 10 anos”, observa.
Sem a necessidade de estruturas físicas complexas para a presença de alunos, a boa notícia é que os valores pelo ensino online – independente do nível – terão queda. O que representa oportunidade de aprendizado a mais pessoas.
“100% das escolas – do fundamental ao doutorado e cursos livres – tiveram que adotar o e-learning, em todo o mundo. Hoje, há cursos que ensinam até a fazer manutenção de bicicleta pela internet. É certo que no momento pós-pandêmico alguns retornarão em formato híbrido por suas próprias características, a exemplo das áreas gastronômicas e médicas. Mas os segmentos executivos, de administração, marketing, tecnologia e muitos outros, entraram em um caminho sem volta, com ofertas para diferentes perfis de consumidores”, reitera.
Livres
O executivo aposta em novos formatos de ensino com opções segmentadas por ”status”. Tal fator deverá determinar os valores praticados, de acordo com o suporte que o estudante queira receber.
“Alguns cursos virão com características Premium, com acompanhamento mais aproximado de professores, seja no modelo EAD ou, híbrido”, explica. “O C-level (termo que designa o grupo restrito de executivos que ocupam o alto escalão das organizações) também deverá entrar em modalidades que buscam por maior exclusividade nas relações do aprendizado”, finaliza.
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