Os presidentes dos maiores bancos em atividade no Brasil debateram na FEBRABAN TECH a nova realidade global e a transformação acelerada. A conversa contou com a presença dos CEOs de alguns dos principais bancos privados do país.
No debate, Fabio Alberto Amorosino (Banco Alfa), Mario Leão (Santander Brasil), Milton Maluhy Filho (Itaú Unibanco) e Roberto Sallouti (BTG Pactual) discutiram a desglobalização, formas de trabalhar ESG nos bancos e na sociedade e as perspectivas do mercado financeiro para 2023.
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Oportunidades para o Brasil no cenário global
O primeiro tema da agenda foi a desglobalização, movimento que se intensificou após o começo do conflito entre Ucrânia e Rússia, no início deste ano. Todos se mostraram otimistas com o horizonte para o ano que vem, e com as possibilidades que o aumento do preço das commodities pode trazer para o país, mesmo que a situação tenha criado uma pressão inflacionária.
Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú-Unibanco lembrou que o tema já estava em pauta desde o último encontro de Davos. A avaliação é que essa desglobalização, com a diminuição das transações internacionais, teve um benefício para o Brasil com a valorização das commodities, mas um malefício para o processo inflacionário, tanto aqui quanto no resto do mundo.
“É uma oportunidade enorme para que o Brasil se torne mais um hub para multinacionais, para ser polo mais relevante. Para isso o país tem que avançar com as reformas: administrativa e tributária”, enfatizou Maluhy Filho.
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Roberto Sallouti acredita que a neutralidade do Brasil diante dos conflitos internacionais só tem a beneficiar o país e sua capacidade de estar na cadeia de suprimentos de Ásia, América do Norte e Europa. O presidente do BTG Pactual pontuou, assim como Maluhy Filho, que para isso o país precisa desregulamentar.
A opinião foi compartilhada por Mario Leão, CEO do Santander Brasil, que avaliou também que o país já passou por vários ciclos semelhantes ao desse momento do cenário mundial. Leão, que assumiu a presidência do Santander no Brasil no início deste ano, avaliou que o país sentiu mais cedo a crise internacional, mas também vai se recuperar antes.
“A gente conseguiu entrar mais cedo e sair mais cedo, como no ciclo de juros. Agora podemos voltar a fomentar a economia mais cedo que outros mercados”.
Papel dos bancos no ESG
Mediada por João Borges da Febraban, o painel com os CEOs dos principais bancos brasileiros, se voltou para a agenda ESG. A sigla em inglês, Environmental, social and corporate governance, que significa governança ambiental, social e corporativa, ligam três aspectos que se tornaram estratégicos na gestão das empresas.
Para Fabio Amorosino, CEO do Banco Alfa, o Brasil ainda vive um descompasso social muito grande em todo esse processo. Segundo ele, é necessário pensar em quanto vale alocar energia e projeto no E, no S, e no G por trás da sigla.
“Cabe a todos nós, não somente do setor financeiro, mas da indústria, a conscientização da importância da inclusão social, para uma sociedade mais justa, com geração de oportunidade”.
No aspecto ambiental, Leão refletiu que a indústria financeira é uma espécie de conduíte, e explicou que o Santander tem investido na descarbonização de agências, mas que o ponto mais estratégico para uma mudança efetiva é olhar as cadeias financiadas através dos bancos.
“Nós temos que pensar, enquanto mercado financeiro, como podemos agir de forma coordenada, e a Febraban é o melhor fórum para isso, e para pensar em como trazer o governo e outros atores para poder fazer isso num cronograma aceitável, porque não adianta a gente delegar isso para as próximas gerações”.
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Questão ambiental é consenso
Tanto Leão como Maluhy destacaram a importância de o mercado financiarem da forma antiga. O presidente do Itaú explicou que um dos compromissos já assumidos pelo banco é não operar com setores que contribuem atividade com a destruição ambiental ou que não respeitam as regulamentações ambientais.
“Os bancos não devem ter postura policialesca. Nosso papel é de ajudar os clientes a fazer essa transição”, refletiu Maluhy.
O tema ESG entrou no topo da lista das informações relevantes dos bancos, praticamente na mesma medida que os demonstrativos financeiros. Para Sallouti, dentre as abordagens possíveis ao tema, é necessário ser pragmático para que uma transformação muito acelerada não seja feita sem consistência, e também não seja um approach burocrático que não promova mudanças estruturais.
“Queremos fazer a transição energética, mas tem que ter um processo de transição coordenada, para que não cause impacte custo social”, opinou o CEO do BTG.
Transformação tecnológica
A transformação digital dos bancos, principalmente no varejo, tem se acelerado. E dois processos, apresentados pelo Banco Central nos últimos anos, foram essenciais para a mudança da relação dos clientes com os bancos: Pix e Open Finance.
A digitalização obrigou os bancos a se reinventarem. Além dos grandes bancos com agências em todo o país, o avanço tecnológico que começou com o uso de smartphones trouxe novos players para o mercado. Bancos de atacado, fintechs e agências passaram a oferecer opções para os clientes de varejo – as pessoas físicas. A concorrência aumentou, o que beneficiou diretamente clientes com mais opções, melhores taxas e novos serviços.
“Na agenda de competitividade, o Brasil é um dos melhores do mundo: o maior beneficiado foram os clientes”, destacou Sallouti, do BTG, o maior banco de investimentos da América Latina que recentemente passou a oferecer a modalidade de contas digitais para seus clientes.
Desafios e oportunidades
Dentre os desafios e oportunidades que as novas tecnologias trouxeram, Fabio Amorosino, do Banco Alpha, também valorizou a criação de novos produtos, mais ágeis, mais personalizados e mais baratos. Mas pontuou o desafio de garantir a segurança de dados com sistema abertos e compartilhados como o Open Finance.
“O Banco Central fez o impulso transformacional no open bank para facilitar outras cadeias produtivas do que nós entendemos que será o futuro: open economy”, lembrou Amorosino.
Tanto Leão, do Santander, quanto Maluhy, do Itaú-Unibanco, os dois maiores bancos privados do Brasil, acreditam que essas mudanças, como o Pix – que trouxe interoperabilidade – e o Open Finance – em que os clientes podem decidir compartilhar seus dados de outras instituições, mexeram com o core bancário, desde os processos à chegada de novos players.
O Santander aposta que esta construção está convergindo, e o caminho agora é a tokenização de alguns elementos, para trazer mais eficiência para os processos, e os bancos precisarão encontrar outras formas de resultado.
“Cada um do seu jeito abraçou essas novidades. O Open Finance ainda está em construção, e está convergindo para onde tem que convergir”, destacou Leão.
Para o Itaú, o momento é de descobrir quais as melhores formas de estarem em dia com os avanços tecnológicos, e trazer benefícios para os clientes, que se tornam cada vez mais donos da decisão do que fazer com seus dados e informações.
“É natural que tenham impactos operacionais, estamos todos tentando se organizar, mas as instituições financeiras vão sair fortalecida, e a gente vê isso como oportunidade”, refletiu Maluhy.
2023: consolidação das transformações pós-pandemia
Apesar de este ano ser um ano de volatilidade, ano de eleição e com pouca clareza sobre o cenário internacional, todos os CEOs que participaram do painel da FEBRABAN TECH sobre a nova realidade global são otimistas em relação a 2023. Com um cenário consolidado de pós-pandemia e a retomada do crescimento econômico, os olhares do mercado financeiro estão no horizonte de reformas, especialmente administrativa e tributária, que consideram necessárias para estabelecer as bases de um crescimento consistente.
Amorosino, do Alpha, acredita que há muitas oportunidades que vão ser desenhadas. E no caso do mercado financeiro, o foco estará em disponibilizar produtos e serviços na medida dos desejos dos clientes. “Teremos um banco mais simples, mais ágil, mais engajado, que seja parceiro nessa experiência do cliente”.
Para Sallouti, do BTG, “qualquer que seja o resultado da eleição a âncora fiscal vai ser reestabelecida, que regula expectativa de inflação e juros”.
Leão, do Santander, se definiu como um otimista de plantão. Apesar das turbulências comuns ano eleitoral, “2023 será um no de focar na agenda, fazer planos”.
Maluhy, do Itaú, acredita o cenário macroeconômico mundial indica que ano que vem será a oportunidade do Brasil decolar e possivelmente sair mais cedo do ciclo de aperto. Mas o CEO destacou que a meta devem ser as reformas. E no dia a dia, “estar presente de forma mais humana para cada cliente”.
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