A arte, como a conhecemos, perdeu espaço de forma considerável nas últimas décadas – praticamente no último século. A forma como as pessoas se manifestam mudou consideravelmente. Instrumentos de expressão como quadros, sinfonias e desenhos perderam espaço. Ao mesmo tempo, a tecnologia se tornou cada vez mais relevante na vida das pessoas.
É com esse argumento que Jacques Meir, diretor-executivo de Conhecimento do Grupo Padrão, começa o painel Tecnologista: o espírito criativo do século XXI, do qual participam o associado e head do Copenhagen Institute for Futures Studies, Peter Kronstrom, e Luiz Alberto Di Genaro, poliglota visual e artista plástico do Atelier L.A. Di Genaro.
O tradicional, para Genaro, ainda é algo positivo: em todo o seu trabalho, com 30 anos de carreira artística, a conexão com esse formato foi uma realidade e ainda é o que leva pessoas ao se atelier. “Até mesmo softwares de design moderno contam com atividades tradicionais, como cortar, pintar, etc”, afirma.
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Kronstrom, porém, coloca um contraponto, ao citar a obra de Anthony Miller, Colliding Worlds, na qual, segundo o futurista, é feita uma análise de como o iluminismo fez uma separação entre ciência e arte. Porém, ele ressalta que isso tem mudado: “vemos o retorno dessa integração, artistas usando tecnologia para se expressar e estamos felizes por perceber isso”, diz. “É absurdo que a inovação não esteja vinculada a arte, porque a arte é sempre criativa, sempre dá vida a algo novo”, diz.
Genaro reforça essa ideia e explica que o século 18 promove uma ruptura ao desenvolver a ideia de autonomia da arte e deu origem às ideias de corrente estética. No momento atual, porém, ele julga que estamos caminhando de forma positiva. “Hoje estamos vivendo um processo de reintegração do universo artístico”, diz.
Por outro lado, unidos a um mundo tecnológico, estão os dados. Meir cita a forma como eles são utilizados pelas empresas: todas elas falam em data analytics, gestão de informações, entre outras estratégias semelhantes. Ao mesmo tempo, porém, é sentida a extrema necessidade de trazer mais humanização para os relacionamentos, ampliando a capacidade criativa e até mesmo a intuição.
Atenção à bolha
Nesse sentido, Kronstrom cita uma das grandes tendências identificadas pelo CIFS: a imaterialização. Costumamos pensar nela como a eliminação de produtos que são substituídos por serviços (como a relação entre o CD e o streaming). O futurista explica, contudo, que a imaterialização também é sobre valores imateriais, que estão ligados à tendência da polarização.
Questionado sobre a forma como a arte pode colaborar com a harmonização (contrária à polarização), Genaro afirma que na arte há possibilidades infinitas de harmonização. Como exemplo, cita a mistura entre amarelo e vermelho, que resultam em uma cor totalmente nova. “Agir de acordo com polaridades é o caminho mais fácil, condenando o pólo oposto” afirma. Apesar disso, precisamos estar de olhos abertos para o equilíbrio.
Naturalmente, a tecnologia tem o poder de unir e também de separar. Kronstrom, que é dinamarquês, conta que chegou à São Paulo durante um período de intensas manifestações. Na época, o Facebook era amado por permitir tal engajamento. Hoje, porém, a rede social é vista como um instrumento de separação, uma vez que seu algoritmo coloca as pessoas em bolhas, dando acesso apenas a conteúdo semelhantes.
“É essencial que haja ciência e arte”, diz. “Como futuristas, dizemos que não basta ter dados para ver o futuro, pois precisamos da imaginação, que é uma forma de arte”. Genaro concorda e reforça o caráter imaginativo da arte. “Ao historiador, cabe narrar os fatos; o poeta olha para o possível”.
Por fim, Meir conclui que é uma combinação de tecnologia, arte, inquietude e criatividade que definirão o futuro. “O espírito criativo do século XXI usa a tecnologia como meio e como fim, mas não abre mão do instinto que nos trouxe aqui”, defende.