Em fins de 2021, o mundo foi tomado de assalto por uma onda chamada metaverso. O tsunami acerca das possibilidades dessa inovação foi incontrolável. Até o Facebook de Mark Zuckerberg mudou de nome para “Meta”. Mas logo a busca do metaverso refluiu e ganhou um espaço no rodapé das grandes ideias sem utilidade. Ou não? Será que o metaverso obedece às leis da exponencialização e vive a fase do desencanto?
O fato é que o metaverso é muito mais que a evolução natural da internet: ele representa a desmaterialização do mundo, onde os indivíduos podem se envolver em tempo real com ambientes ilimitados. Isso porque queremos liberar dopamina vivendo histórias como avatares e personagens de outras histórias que nos envolvem. Agora, imagine combinar o metaverso com o cinema?
No SXSW 2023, pudemos assistir à essa tendência se materializando. Os cineastas também terão novas ferramentas que lhes permitirão interagir com o público de novas maneiras – já vemos isso na produção virtual, na recente explosão da IA e na influência dos jogos. Mas logo todas essas tecnologias irão convergir. Mas como abraçamos essas mudanças, ao mesmo tempo em que celebramos o cinema que conhecemos e amamos?
Uma nova linguagem em formação, com novas ferramentas, capazes de permitir a coexistência entre histórias criadas em ambientes diferentes e combinadas de forma única
A fusão cinema e metaverso
Daniela Eistner, Diretora-executiva da Unifrance, Brian Newman, Fundador da Sub-genre Media e Diana Williams, CEO e Co-fundadora da Kinetic Energy Entertainment conversaram sobre essa fusão que promete ser revolucionária.
A Unifrance é uma espécie de precursora das experiências com filmes digitais. A empresa criou um festival de filmes digital há 13 anos, com grande pioneirismo. Sob o comando de Daniela, a Unifrance vende mais de 800 filmes em catálogo para diferentes mercados globais com grande reconhecimento de crítica e presença ativas nos festivais de cinema pelo mundo.
Já Diana foi desenvolvedora criativa e produtora da franquia Star Wars na LucasFilm e fundou um laboratório de entretenimento imersivo e realidades combinadas. Suas experiências incluem atividades no Minecraft, um jogo, que pela sua natureza, está constantemente em construção (um dos jogos mais populares no Brasil).
Essas experiências visam levar o cinema para o ambiente do game, procurando criar a tecnologia que permita transmitir um filme dentro do ambiente do Minecraft. Por enquanto, isso significa que os gamers deveriam assistir ao filme dentro do ambiente do jogo, utilizando seus avatares e, posteriormente, conversar e interagir com os atores e diretores da obra.
A premissa é que não há muita distância entre a linguagem do cinema e a dos games. Mas como será a experiência imersiva das pessoas em assistirem filmes no metaverso? Estamos falando da Web3, como uma nova linguagem em formação, com novas ferramentas, capazes de permitir a coexistência entre histórias criadas em ambientes diferentes e combinadas de forma única.
Utilizar o poder do game para criar uma familiaridade com a linguagem do cinema, a partir de exercícios cinematográficos curtos, sintéticos e compactos, parece fazer sentido para as novas gerações
Segundo Diana Williams, a combinação do cinema com o metaverso pode abrir uma frente de conversação e interação entre audiências e criadores de conteúdo, com os próprios conteúdos na verdade. No centro dessa estratégia reside a necessidade de atingir e engajar as gerações mais jovens, com formatos mais interativos e diversificados. Novamente, a Unifrance vem avançando nesses testes, a partir de uma plataforma que permite a interação em mais de 10 línguas.
O metaverso representa uma maneira de explorar novas fronteiras de linguagem, novas histórias mais atrativas e, porque não, mais educativas. Utilizar o poder do game para criar uma familiaridade com a linguagem do cinema, a partir de exercícios cinematográficos curtos, sintéticos e compactos parece fazer sentido para as novas gerações.
Mas assim como no game ou na produção hollywoodiana, o primeiro passo é contar com uma boa história. A história é a base de tudo. Ainda é a melhor maneira de explorar novas ferramentas para impactar audiência e diferentes comunidades.
Explorando as Realidades Aumentada e Virtual
A exploração do metaverso pressupõe a imersão em experiências baseadas em Realidade Virtual. Imaginem participar de um filme da Marvel, como Dr. Estranho nos multímetros da loucura e realmente vivenciar aqueles cenários, aquelas dinâmicas e viagens interdimensionais?
Isso é possível combinando e transcendendo a narrativa do cinema para o metaverso. Agora, combine essa imersão com coleções de NFTs, que podem ser adquiriras durante a imersão, e tudo isso proporcionará uma experiência ainda mais enriquecedora.
Hoje, quando um estúdio compra um roteio, uma ideia ou uma história, ele compra todo o pacote envolvendo licenças, games e personagens, afirma Diana Williams: “A propriedade é muito importante como parte da missão Kinetic, em educar os criadores para entender o que você pode fazer para tentar reforçar sua propriedade, se você simplesmente chega em um estúdio dizendo: Sim, você pode ter filme, mas não pode jogar. Você pode fazer um jogo?”
A convergência, filme, jogo e NFT, imersão no filme, que será exibido no cinema, e que terá uma versão para o metaverso, traz especificidades, mas, sobretudo, novas formas de explorar uma boa história – e é fundamental pensar que a boa história vai vencer. A história precisa responder às perguntas: por que você iria ao cinema ver o filme? Por que você jogaria o game? Por que você gostaria de comprar os personagens deste filme em versões digital ou física? É possível atrair pessoas para o jogo e para o filme, ou existem públicos diferentes para ambos os formatos? E como a audiência vai receber a combinação desses formatos?
Na visão de Daniela Eistner, a história é apenas “um conteúdo que podemos gostar e espalhar da mesma forma em todos os lugares”. “Eu acho que é uma espécie de experimentação. Isso nos leva a parar de pensar em caixas nas quais vivemos, em nossas zonas de conforto e, então, temos que pensar diferente. Eu acho que para isso também precisamos desse tipo de experimentação, de explorar novos formatos”, avalia Daniela.
Finalmente, como financiar ou criar linhas de financiamento para produção dessas “metaproduções”? Uma coisa é utilizar plataformas prontas, como o próprio Minecraft e o Roblox ou o Fortnite. Outra é criar um ambiente do zero para o cinema, que pode elevar os custos de produção a níveis estratosféricos, talvez, inviáveis diante da expectativa de público.
No caso da Unifrance, há subsídio do governo para viabilizar as produções, mas em outros países provavelmente será necessário criar essas fontes robustas de financiamento. A premissa para viabilizar essas produções também passa pela análise de dados, de tal maneira que se possa entender o que terá atratividade para fãs de games e cinema de forma independente e combinada. Logo, quem sabe podemos aguardar: “Em breve, nos cinemas, PCs, Tótens e Consoles de Jogos, “Dr. Estranho no Metaverso”, ou ainda, “Avatar, no caminho do Metaverso”… Quem sabe?
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