Criar unicórnios não é exatamente corriqueiro. Ser o criador de duas empresas que atingem valor superior a US$ 1 bilhão é praticamente um milagre. Mas Uri Levine conseguiu. No SXSW 2023, o fundador do Waze, contou sobre como sua paixão por problemas o levou a criar o aplicativo de mobilidade que ajuda milhões de motoristas a encontrar melhores caminhos em seu cotidiano.
E Levine não parou. Algum tempo depois, ele criou o Moovit, o app de mobilidade urbana mais conhecido globalmente. O que é fascinante na trajetória de Uri Levine é sua dedicação em buscar soluções para problemas comuns, que afetam milhões de pessoas.
Com o Moovit, por exemplo, este empreendedor inquieto e vibrante colabora para que os cidadãos nas mais diversas cidades, saibam como escolher entre ônibus, linhas de metrô, trens, ciclovias, aplicativos de transporte e táxis para que a mobilidade urbana seja mais eficiente e acessível para todos.
“Startups valiosas têm mais chances de ganhar mercado e valor quando conseguem enquadrar problemas comuns, que afeta milhões de pessoas, de uma forma criativa e consistente”
Criando unicórnios de sucesso
Sim, Uri Levine construiu dois unicórnios. O Waze foi vendido ao Google em 2013 por cerca de US$ 1,15 bilhão, enquanto o Moovit, após registrar mais de 800 milhões de usuários em 100 países, foi vendido para a Intel em 2020 por US$ 900 milhões.
Em sua carreira, Levine está empenhado em disseminar o pensamento empreendedor para que outros fundadores, gerentes e equipes no espaço tecnológico possam construir suas próprias empresas de alto valor, mesmo nesses tempos de restrições para startups (O Silicon Valley Bank foi à lona há alguns dias, agravando ainda mais a situação de captação e rodadas de investimentos em novas empresas).
Para Levine, o fracasso traz lições valiosas, pois sempre mostra que o problema não foi enquadrado corretamente. Startups valiosas têm mais chances de ganhar mercado e valor quando conseguem enquadrar problemas comuns, que afeta milhões de pessoas, de uma forma criativa e consistente.
Agora, o Levine quer se dedicar a inspirar mais empreendedores a construir a próxima onda de tecnologias e empresas de solução de problemas. Durante o painel, inspirado no seu livro: “Apaixone-se pelo problema, não pela solução: um guia para empreendedores” (em tradução livre), Levine fala sobre sua técnica e as lições que os times de inovação podem assimilar quando se dedicam obsessivamente pela resolução de problemas.
Enquadramento e a jornada do problema
Segundo Levine, comece com o problema: adote a jornada de descoberta do problema. Toda startup precisa começar com um problema que afete muitos usuários. O problema é um norte, um guia, uma direção segura e é a base de uma história forte.
A jornada do problema é comumente um caminho cheio de falhas. Antes do triunfo, os empreendedores falham e falham muito. Temos de criar uma cultura de tentativa e erro, e quando errarmos, quantos nossos filhos errarem, não os julguemos, não os critiquemos. Assim deve ser com os empreendedores e com nossos times que estão realmente tentando fazer o possível para aprender com os erros.
“Não devemos ser perfeitos, devemos ser bons os suficientes. Quanto antes errarmos, mais cedo aprendemos como fazer melhor”, afirma Levine. Na jornada do problema, muitas vezes “atravessamos um deserto”, um caminho sem ideias e sem luzes, que pode ser frustrante. Mas essa jornada é necessária para encontrarmos o “produto market fit”, ou seja o que realmente vai ser amoldável às reais necessidades do mercado.
Levine aponta que o problema central é o principal objetivo. Essa “coisa” deve sempre ser o foco do foco (exagero é intencional). Uma vez enquadrado o problema, é o momento de captar investimento, causar uma grande primeira impressão, contar uma história. E uma história e sempre ter em mente que os investidores são clientes também. Sim, falar com investidores é um aprendizado. Esses encontros ajudam você a refinar sua história e a melhorar o enquadramento do problema, seu foco principal.
“O CEO, o empreendedor, é ele quem vai para a primeira reunião com o investidor. É ele quem tem que dar a cara a tapa. Não é hora de mostrar times e competências e, sim, o momento de contar a história real, que emocione e que apaixone”, defende Uri Levine.
A paixão intensa pelo problema permitiu à empresa entender como mapear caminhos e tornar a ferramenta colaborativa para que fosse aprimorada pelos próprios usuários
Backgrounds são impotantes
No desenvolvimento do Waze, Levine conta como foi complicado aprender a lógica do tráfico em Tel-Aviv, sua cidade natal. “Pegamos todos esses dados de GPS e construímos o software que converte os pontos revelados e visíveis no GPS e percebemos que precisávamos da ferramenta de edição de mapas para que as pessoas pudessem nos fornecer o nome da rua e o número da casa e dos pontos de interesse para fazer o mapa funcionar”, relembra.
Mapear caminhos de modo quase manual foi o princípio. O algoritmo veio depois. O Waze foi concebido como conceito em 2009 e a mágica só aconteceu em 2012, e a disrupção que ele causou veio no mesmo ano, ao superar mais de 30 milhões de usuários globais.
Mas tudo começou com o background de uma base de estudo de caminhos por GPS, analisados por cientistas de dados. A paixão intensa pelo problema permitiu à empresa entender como mapear caminhos e tornar a ferramenta colaborativa para que fosse aprimorada pelos próprios usuários.
Isso porque o Waze não funcionava a contento por si. A evolução do app dependeu da iteração constante com os usuários em todas as cidades possíveis. Logo, o grande background foi a abertura do app e a disposição em falar continuamente com sua comunidade de usuários para que a tecnologia encontrasse sua melhor versão e com menos falhas.
O fator “legal”
Toda startup de sucesso real contempla um fator “legal”, oferece algum elemento que torne o app, o negócio, o produto “muito legal”, lúdico e amigável. O Waze, evidentemente tem esses elementos em sua interface, da mesma forma que o TikTok, o Airbnb, a Tesla, a Netflix. O modelo de negócio se consolida com esse elemento e ajuda a empresa nascente a ganhar escala e a crescer velozmente.
E esse fator “legal” só pode ser incorporado quando o empreendedor e sua empresa sabem quem são os usuários, e quais são seus problemas. Exatamente por isso que as startups de sucesso não são perfeitas, são boas o suficiente, erram rápido e sabem que “feito é melhor que perfeito”. Coletam o feedback dos usuários constantemente e não têm medo de experimentar ideias e caminhos com os próprios usuários. Eles adoram fazer parte da solução.
Finalmente, Uri Levine comenta sobre como construir times capazes de levar uma startup adiante. O grande problema quando alguém fala que o “time não funcionou” é normalmente a palavra de um líder que evitou tomar decisões severas e difíceis rapidamente. Os bons colaboradores, os talentos sempre irão deixar empresas nas quais os líderes evitam tomar decisões difíceis. “Contratar é fácil, demitir é sempre complicado”, diz Levine. “Porém, uma organização de sucesso prioriza transparência e honestidade em cada momento com cada colaborador”, observa o empreendedor.
E assim, com empatia e paixão, Uri Levine deixou sua mensagem para ajudar empreendedores a criar empresas inovadoras. Ele acredita que esta é a sua grande missão agora: ajudar aqueles que querem inovar e criar empresas úteis e que ganhem escala a partir de seus ensinamentos. Que suas lições sejam aprendidas e ajudem o mundo a ganhar empresas capazes de resolver grandes problemas, com paixão, vibração e sem medo de errar.
+ Notícias
No SXSW 2023, metaverso e cinema estão juntos, misturados e insanos
Com a palavra, o idealizador do ChatGPT, direto do SXSW 2023