No início da tarde chuvosa de terça-feira (16), clima que afasta boa parte dos alunos das academias, a rede Smart Fit entrou com um pedido de registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários, em São Paulo. Há muito tempo se ventilava essa possibilidade, que finalmente foi confirmada. Mas não espere poder negociar as ações da empresa tão cedo.
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Quem diz isso é o próprio Edgard Corona, fundador da Smart Fit e da academia Bio Ritmo. Procurado pela NOVAREJO, o empresário afirmou que a empresa vai primeiro para o mercado de dívida antes da negociação de ações na bolsa. “Vamos emitir debêntures”, disse ele, por mensagem.
Para quem não está habituado com o termo, debênture é um título de dívida emitido por uma empresa. Negociados na própria B3 (antiga BM&FBovespa), quem compra esse título (pessoa física ou jurídica) está emprestando dinheiro à empresa em troca de juros.
Independentemente da forma de financiamento, a intenção da Smart Fit é expandir o mais rápido possível. O plano é ambicioso. Corona já afirmou ter a intenção de abrir 140 novas academias em 2017, sendo 110 próprias e 30 franquias. Pelo número de lojas próprias, vê-se a importância de conseguir dinheiro rapidamente.
Antes da abertura de capital, a empresa captava dinheiro dos seus acionistas. Além da família Corona, o fundo de private equity Pátria e o fundo soberano de Singapura GIC investiram R$ 188 milhões na rede somente no ano passado.
Vai ser um bom investimento?
Especialistas ainda não se arriscam em dizer sem olhar os números da empresa. Uma explicação é a falta de referência. Como não há histórico de empresas do setor na bolsa brasileira e o mercado de academias ainda é muito pulverizado, especialmente com pequenas redes de bairro, alguns analistas se mostram reticentes.
Os pontos positivos, no entanto, são aparentes. A empresa praticamente criou o mercado de escala no setor. Com preços a partir de R$ 69 e benefícios como a possibilidade de frequentar academias espalhadas pelo país, a rede atraiu mais de um milhão de alunos. Atualmente, a Smart Fit conta com cerca de 380 unidades, sendo 100 no exterior. A companhia possui unidades no México, Colômbia, República Dominicana, Chile e Peru. Outros países estão sendo analisados.
“O monopólio dela é certamente um diferencial, mas não quer dizer que outros players não possam entrar no mesmo posicionamento”, diz Giovana Scottini, analista da Eleven Financial.
De fato, alguns concorrentes surgem. Todos, claro, utilizando a mesma estratégia da Smart Fit e, algum momentos, nomes bem similares. Não é difícil encontrar redes de bairro com nomes como Best Fit, Marra Fit e Blue Fit – esta com abrangência nacional.
Isso, contudo, não afetou os números. Ao contrário. No ano passado, a empresa fechou com faturamento de R$ 641,2 milhões e prejuízo de R$ 21,2 milhões, por conta do alto investimento em expansão. A meta para 2017 é ultrapassar a barreira de R$ 1 bilhão de receita.
Mercado enfraquecido
Mais do que conquistar o mercado, a Smart Fit mudou a mentalidade do setor. A crise e essa mudança de comportamento, baseado em preço, prejudicou boa parte das redes tradicionais. Em São Paulo, por exemplo, a tradicional academia Runner fechou as portas de todas as academias próprias sem avisar os clientes, gerando ira nos consumidores.
De acordo com a Associação Brasileira de Academias, a receita bruta do setor caiu 14% em 2016.
Enquanto parte do setor tenta sobreviver, muito por conta da estratégia agressiva da Smart Fit, a empresa continua remontando o seu modelo de negócio. Se antes a intenção era apenas fornecer aparelhos de qualidade por uma mensalidade mais baixa, a companhia está reformando muitas academias para acrescentar aulas de danças, aparelhos para exercícios funcionais, entre outros.
Nessa toada, a concorrência vai ter que malhar muito para buscar a Smart Fit. E os investidores cobrarão lucros e ganhos tão saudáveis quanto os alunos da academia.