O setor audiovisual foi um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19. E com a retomada das atividades presenciais, as produtoras começam a se reerguer com algumas novas práticas. Entre elas, a intensificação da migração para o ambiente online e do investimento em tecnologia e em comunicação. Contudo, o início dessa nova fase tem tudo para ser marcada por desafios.
Um deles se baseia em dados do Observatório Itaú Cultural, extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que mostram que o setor relacionado à cultura perdeu 871 mil empregos, caindo de 7.137.912 postos registrados em 2019, para 6.226.560 durante o mesmo período em 2020.
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Isso representa uma queda de 12,2%. Já para o segmento audiovisual, especificamente, o instituto determinou o índice de 43 mil vagas a menos em função da pandemia, o que significa uma queda de 39% em comparação com o ano anterior.
Além disso, de acordo com estudo da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro) em parceria com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), em 2020 os números obtidos não foram nada animadores.
● Queda de 14% no volume total de registro de obras publicitárias, igualando aos índices de volume de produção de 2018;
● 99% das produtoras sentiram impacto na redução de orçamentos;
● 56% afirmaram ter tido projetos cancelados
● 50% tiveram que reduzir o número de funcionários
● 56% não conseguiram repassar os custos relacionados ao protocolo de prevenção contra a pandemia
Diante dessas adaptações – muitas delas inesperadas – como se reerguer no pós-pandemia?
Corrida contra o tempo: mudanças necessárias para o setor audiovisual
Assim como qualquer outra empresa, as produtoras tiveram de readequar sua jornada laboral, aderir à prática das medidas de segurança e higiene sanitária, e repensar seus processos. O CEO da Prime Arte, Leandro Alvarenga, relata que os colaboradores passaram a trabalhar em home office na segunda semana de março de 2020 e, desde então, não voltaram presencialmente ao escritório.
“No início, nos preocupamos com o bem-estar da nossa equipe, se haviam se acostumado com o home office e como estava a saúde mental de todos. No quesito operacional, a liderança continuou a trabalhar da mesma forma e tentamos manter todo o time na mesma rotina, com comunicação diária e adaptando todos os processos para o remoto de uma forma que ninguém ficasse sobrecarregado”, conta.
Essas etapas foram tão bem estruturadas e ajustadas que, atualmente, a empresa não pretende voltar ao regime presencial ainda em 2021 e está definindo qual será o modelo de trabalho para o ano que vem.
“Estamos debatendo com todos os colaboradores se ficaremos no remoto indefinidamente ou se em 2022 voltaremos em modelo híbrido. Por enquanto, não vejo uma mudança. Também devemos manter nossos produtos e serviços sem alterações. A única coisa que deve ocorrer é a volta das equipes de produção para locações externas, ainda assim, só quando necessário. Do contrário, manteremos a direção remota. Creio que a maioria das produtoras pensam da mesma forma”, afirma o CEO da Prime Arte.
Como os profissionais lidaram com as transformações
O setor audiovisual brasileiro sempre trouxe alegrias, seja pelas produções inéditas e cativantes, seja pelas cifras geradas com a movimentação de investimentos. Exemplo foi a sua colocação enquanto o quinto segmento mais relevante economicamente, segundo a Ancine.
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Para se ter uma ideia, no período entre 2015 e 2018, foi observada uma redução real no produto gerado pelo setor audiovisual. A queda acumulada foi de 23% no período. Em 2018, o valor adicionado pelo setor audiovisual foi de R$ 26,7 bilhões e, mesmo assim, o setor superou indústrias relevantes, como a farmacêutica, têxtil e de equipamentos eletrônicos. As informações também são da Ancine.
Por isso, as expectativas de que o segmento surpreendesse e desse a volta por cima eram grandes. No caso da Prime Arte, a reinvenção provocada pela pandemia se deu por meio da combinação do audiovisual com a tecnologia e com investimentos em plataformas digitais. Essa feliz junção deu origem a três produtos.
● ZapBrand: voltada aos times de marketing e comercial de grandes empresas, que possibilita a autonomia e agilidade aos setores na criação de peças customizadas;
● ZapMusic: primeira plataforma de streaming por assinatura voltada aos profissionais e fãs do violão do Brasil;
● Vitrine ZapMusic: primeira rede social para profissionais do violão de todo o Brasil, com espaço voltado para a divulgação de seus trabalhos e promoção de intercâmbio de conhecimento, experiência e networking qualificado.
A automação da inteligência artificial e a direção remota também foram algumas das ferramentas encontradas e que acabaram se transformando em um novo modelo de negócios. A aposta em animação se tornou essencial. Para as empresas, as produções audiovisuais foram fundamentais para manter o fluxo contínuo de campanhas, comunicação interna e endomarketing.
Isso acabou demandando mais das produtoras nesse período. Porém, foi preciso uma transformação do setor para garantir a sobrevivência – pelo menos para aqueles que desejaram sair da área conservadora.
“Produtoras que não possuíam outros meios para realizar suas produções, fora a tradicional, foram deixadas de lado quando tudo passou a ser on-line. Todos precisaram de uma segunda opção. Como os vídeos se tornaram tanto escapatória de entretenimento, quanto uma forma de interlocução e conexão entre empresas e seus colaboradores, além de método de educação, os profissionais de audiovisual tiveram que se adaptar a essa realidade e aprenderem a trabalhar nessas novas áreas”, coloca Leandro Alvarenga.
“Novos players, principalmente os de tecnologia, podem brigar nesse mercado, pois há um leque maior de oportunidades, até para aqueles que não possuem um background relevante de cinema ou de TV, mas dispõem de ferramentas tecnológicas capazes de sobrepor a qualidade da produção audiovisual. Muitas vezes, tornando-a algo secundária”, frisa.
Dessa forma, desde junho de 2020, a equipe da companhia dobrou de tamanho e hoje conta com mais de 50 colaboradores, todos trabalhando de forma remota. Para auxiliar o time e evitar uma série de problemas de logística, foi implementada a virtualização de workstation das ilhas de produção, armazenamento e gestão de assets, o que possibilitou a economia de cerca de R$1,5 milhão em aquisição de novas máquinas, manutenção e logística para suportar o seu crescimento descentralizado.
Além disso, houve a adoção de um sistema de assinatura com os clientes no início da pandemia, fechando pacotes customizados semestrais e anuais, o que ajudou na expansão e em uma maior previsibilidade de crescimento. Com as paralisações de todas as filmagens e qualquer tipo de produção externa, uma das melhores soluções encontradas para os funcionários que precisavam se locomover para outras cidades e estados foi a captação de vídeos com equipes remotas locais.
O comportamento do consumidor inspira novas experiências
As expectativas de Leandro Alvarenga consideram que o investimento no setor audiovisual deve aumentar cada vez mais. E isso ocorre, segundo o especialista, porque os vídeos se tornaram um meio muito viável para todas áreas, seja no entretenimento, nas redes sociais, seja na área corporativa. Além disso, há um boom do streaming, o que leva à conclusão de que o pós-pandemia será digital.
A própria Netflix, por exemplo, tem apostado em produções originais que geraram resultados positivos, como as 24 indicações ao Oscar do ano passado. Além disso, o modo que se consome conteúdo nessas plataformas é diferente de tudo que o cinema já vivenciou: o consumidor escolhe quando, onde e por meio de qual dispositivo quer assistir um filme ou série.
Essas possibilidades viabilizadas pela internet evidenciam, para o CEO da Prime Arte, que a comunicação atual demanda tecnologia. “Cada vez mais os consumidores querem ver conteúdos personalizados, que sejam direcionados para os seus interesses, e as empresas já entendem isso. Acredito que no futuro as maiores empresas de produção audiovisual serão as de tecnologia”, revela.
E como o streaming já entrega justamente isso – e no conforto da casa do cliente – priorizar a experiência do cliente (CX) e suas necessidades no pós-pandemia é a saída. Um movimento que bem exemplifica isso e que tem sido observado nos últimos meses é o lançamento simultâneo de filmes no cinema e na plataforma on-line. Basta o usuário pagar uma taxa além da assinatura para obter o acesso premium a essas novidades.
Outro fator que reforça essa temática são os dados que os próprios consumidores estão produzindo acerca do que desejam das marcas: cerca de 82% deles gastam mais com empresas que oferecem uma boa experiência. E considerando que 55% das pessoas utilizam os vídeos para basear e determinar suas compras, de acordo com o Think With Google, cuidar do atendimento ao cliente é o próximo passo para uma jornada fluida e satisfatória.
Boas práticas de atendimento ao cliente
O atendimento ao cliente é, muitas vezes, responsável por reduzir os índices de churn e por mudar a visão que o consumidor tem da organização. Seja pela agilidade ao resolver problemas que podem ocorrer no meio do processo de venda, entrega ou pagamento, o setor audiovisual não passa ileso.
Brainstorm, linha editorial, definição de locação e prazos são alguns dos elementos que compõem o contato inicial de qualquer companhia com produtoras de conteúdo audiovisual. Além disso, solicitações de alterações de ambas as partes podem ocorrer durante o período de execução até a finalização do material e, por isso, a Opinion Box elencou cinco premissas que podem auxiliar nesse processo:
1. Conheça o cliente a fundo
Qualquer estratégia de marketing e de relacionamento de sucesso começa com um bom estudo do público-alvo. Conhecer os hábitos e o comportamento do consumidor permite agir de forma acertada. Assim, é possível saber com quem está falando, o que os consumidores buscam nas marcas, como gostam de ser abordados e o que os faz escolher uma companhia ao invés da outra.
2. Faça o planejamento da experiência como um todo
Nos dias de hoje, é impossível saber como será a jornada do cliente com a sua marca. Isso quer dizer que a empresa não tem como prever se o primeiro contato será pelo site, Instagram, telefone, WhatsApp ou loja física.
Por isso, a experiência tem que ser positiva em todos os canais. Coloque-se no lugar do cliente, entenda quais são as dores ou desejos que o levaram até você e foque em atender a sua demanda oferecendo sempre a melhor experiência possível.
3. Se algo sair errado, aja rápido para corrigir
Vai ser impossível agradar a todos sempre. Por isso, é necessário estar preparado para identificar o problema rapidamente e agir rapidamente para contorná-lo. Dessa forma, consegue transformar uma experiência negativa em positiva ou, pelo menos, evitar que o problema de um cliente se transforme em uma crise.
4. Invista em treinamento
Não adianta ter o site mais rápido ou o melhor produto com o preço competitivo se o time não estiver focado na experiência do cliente. Uma estratégia de CX de sucesso, que invariavelmente envolve o atendimento ao cliente, precisa do esforço de todos para elevar a empresa a outro patamar.
5. Faça o customer experience ser parte da rotina
Implantar a estratégia de CX só não é mais importante do que mantê-la. Por isso, para melhores resultados, garanta que todos os envolvidos nas ações focadas na experiência absorvam a importância de mantê-las ao longo do tempo.
Expectativas para os próximos meses
Com a vacinação avançando e os números de casos e óbitos por Covid-19 diminuindo no país, já é possível traçar projeções para o setor audiovisual. Leandro Alvarenga pontua as duas principais: a necessidade de implementar tecnologias e a efervescência de conteúdos voláteis e criativos.
“O setor precisa caminhar conforme as outras áreas. A tecnologia precisa ser predominante e ultrainserida nessa ótica. Não dá para o audiovisual pensar que ficará intacto, que os seus clientes não vão buscar mudanças. É importante que as empresas comecem a arriscar e acompanhar a transformação digital, modificando seus processos, soluções e produtos. Não vejo mais perspectiva na forma tradicional com que o audiovisual foi consagrado, principalmente porque acredito que já estava em um processo de commodities, com muitos players e guerra de preços desde antes da pandemia”, explica o CEO da Prime Arte.
Isso porque agora, além da qualidade de um vídeo não ser o mais importante, e sim, a mensagem que ele traz, qualquer um com um celular na mão, um programa mediano de edição e um bom olho pode produzir algo eficiente.
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