O que acontece nos extremos da sociedade, fora do mainstream e o comportamento das pessoas na periferia social são os motivadores do trabalho de Tim Lucas, coach da Hyper Island e também antropólogo que fez uma apresentação muito inspiradora no New Retail Summit.
O coach explica que em um mundo em rede, o invisível torna-se visível. Isso quer dizer que todos podemos conhecer mais de alguém do que esse próprio alguém, tanto quanto alguém poderá conhecer mais de mim do que eu mesmo. Seres humanos julgam e normalmente julgam tão rapidamente que deixam de observar os fatos. Qual a diferença de interpretar e julgar?
A forma com que julgamos e interpretamos uma situação fala mais sobre nós do que sobre a situação. É o poder da diversidade. Tim exibiu uma foto e pediu aos participantes que interpretassem a cena e depois mostrou o que diversas IAs entenderam da mesma imagem.
O fato é que as máquinas passaram longe de qualquer entendimento da cena, enquanto os humanos conseguem não só imaginar o fato, como abstraem e “enxergam” além dele. Novamente, somente os seres humanos, ainda, conseguem tornar visível o invisível.
O coach mostrou o exemplo da Asda (supermercado da rede Walmart, no Reino Unido), que criou a “quiet hour” para atender consumidores autistas. A ideia veio do insight de um gerente de uma loja da rede em Manchester e que depois rapidamente se viralizou para diversas e diversas redes varejistas, não apenas na Grã-Bretanha, mas até mesmo na Austrália. A conclusão é que mesmo todos os avanços das tecnologias digitais ainda não substituem o verdadeiro sentido humano.
Segundo Verna Myers, “diversidade é ser convidada para a festa, inclusão é ser convidada para dançar”, uma citação poderosa de Tim para mostrar o quanto a vantagem competitiva se estabelece a partir da busca pelo que responde realmente às necessidades humanas.
Por isso, a Hyper Island defende sempre que a inovação parta dos extremos e dali para os grupos majoritários. “Temos de olhar para os espectros. Todos estamos inseridos em algum espectro, que espelha nossas dificuldades e falta de acesso a algum aspecto da vida”, observa o coach.
Ele cita o sensacional case da Ikea em Israel, a iniciativa ThisAble, que mostrou o esforço da rede varejista para adaptar móveis com um design inclusivo que se molda a pessoas com necessidades especiais. A partir do estudo dos extremos, Ikea ampliou o uso e alcance de seus produtos, e incluiu mais consumidores para suas lojas.
“Diversidade é ser convidada para a festa, inclusão é ser convidada para dançar”
Verna Myers, VP de Inclusão Estratégica da Netflix e fundadora do The Vern? Myers Company
Em resumo, Tim diz que a liderança deve se empenhar em buscar inovação onde e com quem não é cliente, usuário, parceiro. Buscar os pontos cegos que vão iluminar o negócio.
Empresas precisam ativar “searchers”, que identifiquem os extremos e, com eles, tragam novas ideias e insights que permitam desenhar inovação de valor. Outro exemplo, 1/3 dos indivíduos que praticam esportes radicais melhoram ou modificam produtos comerciais.
Evidente, isso traz o esforço de motivar as empresas a ir para os extremos, com pequenos problemas, co-criar com os primeiros usuários, conectar os desconectados e criar valor onde ele não existe. Em resumo: é o usuário que define o valor da inovação.
Por que a liderança precisa aprender a observar para identificar o problemas “invisível”, experimentar e testar tecnologias do passado para criar as tecnologias do amanhã?
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O coach exibiu um enorme conjunto de citações, autores e livros justamente para construir o raciocínio essencial de sua tese: buscar os extremos, gerar diversidade, incluir e criar inovação de valor que se expande para todos os consumidores.
“O que resolve o desejo? Nem sempre a resposta está em tecnologia digital, pode estar simplesmente em objetos ou ideias low tech”, enfatiza Tim Lucas. Mesmo nessa era sem fricção, há pessoas que precisam de soluções que criam fricção. Por exemplo, o app Monzo, que ajuda viciados em jogo on-line bloqueando seu acesso.
O mundo não é mais linear e é preciso que a liderança compreenda o poder das consequências não-intencionais. Por exemplo, o monitoramento de dispositivos como o Fitbit pode revelar informações extremas.
É clássico o exemplo da atleta que ao ver seus dados e consultar a rede descobriu que estava grávida. A consequência não-intencional do poder de monitoramento do dispositivo.
Serendipidade: descobrir algo que não estava sendo procurado. Basicamente, o mindset que norteia a inovação, estar aberto para descobrir o inesperado. É essa a recomendação crucial de Tim Lucas para as lideranças. O poder dos momentos, criar picos de grande experiência que simplesmente se sobressaem sobre o trivial e criam impressões sensoriais marcantes que valem por uma vida. Mais insights valiosos do New Retail Summit.