A via-crúcis da Saraiva no mercado livreiro continua. A varejista anunciou o fechamento de mais três de suas lojas, duas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro, dois dos principais mercados onde a empresa ainda opera.
As lojas que serão fechadas são algumas das mais importantes que a rede manteve aberta depois de encerrar as operações de cerca de 20 unidades no ano passado, quando a crise apertou. As lojas são as de Copacabana, no Rio de Janeiro, e as da rua São Bento e do shopping Pátio Higienópolis, na capital paulista.
A Saraiva fechou o mês de janeiro deste ano com um prejuízo de R$ 10,6 milhões. Em janeiro de 2018, quando a situação já era delicada, o desempenho foi de lucro de R$ 5 milhões.
A varejista aponta como motivos de seu inferno astral a crise econômica brasileira e o fato de que o varejo livreiro está se convertendo em um mercado on-line. A preferência na Black Friday e no Dia do Consumidor pelas compras de livros on-line subsidiam essa resposta.
Além disso, o movimento da Amazon para fora das lojas e para dentro da internet é talvez o exemplo mais eloquente de revolução no mercado livreiro. A Amazon, que começou como livraria, apela hoje às lojas físicas muito mais para vender comida e itens eletrônicos.
A tempestade perfeita
Ao longo dos anos 2000, as grandes redes de livro resolveram arriscar tudo no varejo físico. A Livraria Cultura abriu lojas nababescas e a Saraiva comprou a Siciliano, que era a segunda maior livraria na época, enquanto vendeu a sua mina de ouro, a Editora Saraiva, especializada em livros de Direito.
A combinação de erros de gestão e apostadas malfadadas no mercado financeiro foram somadas à crise do setor. A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro apontou que houve uma retração de 21% no mercado editorial como um todo nos últimos 12 anos e uma perda de faturamento de R$ 1,4 bilhão.
Editoras puxadas pelo turbilhão
As grandes varejistas são o centro do furacão que atingiu o setor editorial brasileiro e que está arrastando outros players.
Com o crescimento da Saraiva e da Cultura na década passada, as editoras resolveram privilegiar contratos com as gigantes em detrimento das pequenas redes. Esses contratos garantiam que as varejistas pagassem as editoras em esquema de consignação, com prazos que iam até seis meses. O faturamento das redes de varejo acabava sendo empregado em jogadas no mercado financeiro e outros investimentos antes de as editoras receberem suas partes. Até que já não havia mais dinheiro para pagar as editoras e outros compromissos.
Quando pediu recuperação judicial ao fim do ano passado, a Saraiva tinha uma dívida de R$ 674 milhões, sendo boa parte disso com as editoras. Só a Companhia das Letras é credora de quase R$ 19 milhões, segundo levantamento do jornal O Estado de S.Paulo. O calote deu o impulso que faltava para que a Companhia das Letras, uma das maiores do País, fosse vendida ao grupo inglês Penin em dezembro do ano passado, logo depois do pedido de recuperação judicial da Saraiva.