A robotização da vida é uma tendência que já se faz presente em nossas vidas. Usamos assistentes virtuais para facilitar tarefas do cotidiano, usamos cada vez mais a voz — para ativar o GPS, enviar mensagens no WhatsApp, tocar músicas — e já começamos a usar eletrodomésticos ligados à internet.
A Consumidor Moderno conversou com Rebeca de Moraes, sócia-fundadora da consultoria Trop.Soledad e embaixadora do arco Robotização da Vida no Projeto Identidades, evento promovido pelo Grupo Padrão para comemorar os 25 anos da revista Consumidor Moderno e apresentar tendências de consumo contemporâneas.
Na entrevista, Rebeca fala sobre nosso desejo de humanizar a tecnologia para a tornar mais palatável, sobre as mudanças que a robotização da vida gera no consumo e a relação dessa tendência com a crise gerada pelo novo coronavírus; Confira:
Consumidor Moderno: Ao mesmo tempo em que a gente permite que as máquinas entrem em massa nas nossas vidas, nós as queremos de forma humanizada, com uma linguagem cada vez mais próxima da nossa. Isso não é um paradoxo?
Rebeca de Moraes: Nós precisamos que as tecnologias vão se tornando quase imperceptíveis nas nossas vidas. O celular é um exemplo disso. Ele foi evoluindo para virar quase uma parte do nosso corpo.
Quando surge uma novidade falamos que aquilo é uma tecnologia nova. De repente, isso vira tão parte da nossa vida, de quem nós samos, que deixamos de chamar de tecnologia para chamar pelo nome, o que mostra como nós nos acostumamos com algo.
É por esse tipo de processo que todas as tecnologias precisam passar — assistentes virtuais, internet das coisas. Precisamos que isso se integra às nossas vidas.
Quando encontramos uma tecnologia nova, temos dificuldade de entender para quela serve e qual o sentido disso para nossas vidas. Mas à medida que usamos aquilo fica mais natural.
Então humanizar vai ao encontro dessa ideia, de naturalizar a tecnologia de forma imperceptível e usar aquilo como uma resposta para algum problema.
CM: Com a tecnologia mais presente nas nossas vidas o que muda no consumo? O que passamos a exigir das empresas que antes não demandávamos?
RM: Quando falamos em robotização da vida, falamos em considerar novas camadas de tecnologia que já usamos. Você usa o assistente pessoal do celular, algo que não usava antes.
Em um primeiro momento, essas são ferramentas para basearmos o consumo dos nossos produtos. Então se você já vendia em uma loja virtual, pode fazer com que esse e-commerce responda á tendência do uso da voz e acrescentar essa interação.
CM: Como a pandemia do novo coronavírus impacta o uso da tecnologia e o consumo?
RM: Essa pandemia acelerou loucamente a nossa vida virtual. Fazíamos cursos online, mas não com tanta frequência. Não nos exercitávamos dentro de casa ou fazíamos call com nossos amigos e agora isso acontece.
Este é mais um ingrediente que faz com que a gente interaja mais com o celular. A aceleração da nossa vida virtual será determinante para a robotização da vida.
Estamos vivendo um momento muito difícil para falar de futuro. E a população está convivendo com essa realidade. O que foi dito em janeiro já não serve mais para março.
Não vamos sair disso como entramos. O mundo vai mudar. Eu não tenho dúvidas de que o jeito como trabalhamos vai mudar. Muitas empresas vão descobrir que não precisam de escritório.
Não vamos sair disso como entramos. O mundo vai mudar
E isso tem relação com a robotização da vida, que é uma tendência que fala sobre a voz. A voz é sobre urgência, é mais fácil, mais rápido.
CM: Durante seu painel online do projeto Identidades, você disse que ainda queremos ter o controle sobre os assistentes virtuais, que ainda olhamos para eles funcionando apenas sob demanda. O que falta para entrarmos na próxima fase de interação com a IA e que fase é essa?
RM: Em um primeiro momento ficaremos até dois anos usando essa tecnologia querendo ter controle sobre ela. Depois, quando isso for totalmente incorporado a nossas vidas, vejo que aceitaremos mais sugestões.
As sugestões passam a ser bem-vindas na medida em que entendemos que os aparelhos nos conhecem. Vamos confiando mais nesse tipo de tecnologia. Faço um paralelo com o Instagram, que te oferece algumas coisas; você pode achar estranho, mas se acostuma e por vezes aquilo é útil.
As sugestões passam a ser bem-vindas na medida em que entendemos que os aparelhos nos conhecem
Na medida em que vamos nos adaptando à tecnologia vamos nos acostumando e até desejando que as máquinas façam sugestões.