Dez anos atrás, já identificávamos, aqui na CM, o limiar de uma tendência que até hoje é pouco entendida pela maioria da opinião pública: a polarização. Embora o fenômeno seja parte integrante da história do planeta, exacerbou-se de maneira soberba com o boom das redes sociais e seus likes e haters.
O século 20 marcou o protagonismo de duas superpotências antagônicas: os Estados Unidos de um lado, e o seu modelo fincado na livre iniciativa e no capitalismo, e a União Soviética de outro, com o seu modelo focado no poder do Estado e no regime comunista.
Com a queda do Muro de Berlim, em 09/11/1989, decretou-se o “fim da história”, com a retumbante vitória do capitalismo e do modelo ocidental de prosperidade. Pacificava-se o mundo e todos poderiam empreender livremente. Vivemos, sem dúvidas, os melhores anos de nossas vidas, com plena liberdade, com um mundo em paz e inovações mil – inclusive a internet. Mas essa ilusão se desfez com o ataque às Torres Gêmeas: o 11/09/2001 marcou o “fim do fim da história” e a volta ao status quo das guerras e confrontos, além do dinheiro despendido em armamentos e aparato militar.
Mais recentemente, com pandemia, lockdowns, máscaras e isolamento social, assistimos ao retorno do Estado forte, e até autoritário, na maioria das nações. As bondades perpetradas pelos governos acabaram mostrando seu lado perverso: o efeito colateral da gastança irrefreada foi a volta do fantasma da inflação, seguido pelo aumento das desigualdades entre países e classes sociais. Trata-se de um fenômeno inédito para os Millennials e a Geração Z, afinal, os países desenvolvidos haviam vivenciado seu último pico inflacionário no início dos anos 80. Irmãos siameses da inflação, os juros altos também voltaram – de forma também inédita para essas gerações.
A história volta e com força total. Enquanto vários se digladiam para prever para onde iremos no futuro, com uma série de previsões extraordinárias, muitas respostas podem ser obtidas relendo-se o nosso passado. Ele sempre reaparece com força total.
Isto posto, precisamos nos debruçar um pouco sobre outra realidade e entender os motivos das crescentes desigualdades e desequilíbrios entre povos e cidadãos. E eles residem justamente no insustentável poder e na concentração mantidos pelas big techs, mais particularmente a AMAMA: Apple, Microsoft, Amazon, Meta e Alphabet. A capacidade incomparável de coletar, armazenar e analisar dados de todo o mundo garante a essas empresas um poder de proporções incalculáveis e prejudica a maioria dos segmentos e protagonistas de mercado, inclusive os consumidores e cidadãos em geral, até pela limitação do poder de escolha e pelo tempo despendido.
Todos se tornam reféns da ditadura dos algoritmos, devidamente concebidos para direcionar ou privilegiar os campeões de audiência ou os maiores anunciantes, que compram espaço para se destacar nos mecanismos de busca. Vários estudos já comprovaram que cada avanço dessas empresas representa milhares de empregos ceifados.
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Como gigantes predadores na essência, as big techs começam a brigar entre si, à medida que as tecnologias convergem para a maior e mais disruptiva de todas: a Inteligência Artificial generativa, mais popularizada pelo advento do ChatGPT – simplesmente a maior ameaça já concebida para destronar e colocar em xeque uma empresa como o Google.
As IAs são sempre bem-vindas e é indiscutível que tecnologias como o ChatGPT podem facilitar a realização de muitos trabalhos e, principalmente, a vida de milhões. Porém, como ensina a história, o poder acumulado nas mãos de algumas big techs, de forma totalmente desproporcional e sem regulação alguma, gera um desequilíbrio brutal nas relações humanas e ameaça as estruturas econômica e social de sociedades já abaladas pelas sequelas de anos de pandemia. E esse abismo de realidades poderá ampliar ainda mais o apartheid digital que já vivenciamos hoje.
O colossal poder dessas poucas empresas unidas pode, por exemplo, resultar na evaporação pura e simples de uma série de indústrias tradicionais como: bancos, serviços financeiros, meios de pagamento, telecomunicações, mídia e entretenimento, planos de saúde, seguradoras, varejistas, comércio eletrônico e por aí afora. Tudo isso em troca de seus dados, que se transformam no grande adubo para o crescimento desses monopólios.
Caminhamos a passos céleres rumo ao “Planeta das Máquinas”, no qual IA, robôs e algoritmos ditarão as regras de nossa existência.
E ainda há quem se preocupe com a bisbilhotagem de governos…
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