Novas profissões da era da IA: o bedel de cancela

Novas profissões da era da IA: o bedel de cancela

É impressionante o surgimento de novas atividades nesses tempos de IA. O problema é que elas não têm rigorosamente nada de digital.

Saio do shopping com o carro. Próximo da cancela, sempre na expectativa de a tag eletrônica funcionar e a cancela abrir “automaticamente”, vejo uma pessoa gesticulando vigorosamente, como se quisesse direcionar os veículos para andarem mais rápido na direção da saída e “orientando” para qual cancela cada veículo deveria se dirigir.

Foi um pequeno choque. A cancela é automática, muitos dos veículos têm a sua tag para entrar e sair sem a necessidade de ação adicional. Enquanto a Inteligência Artificial, agora no modo generativo, sinaliza grandes mudanças nos mercados de trabalho, vejo admirado uma das novas profissões desses tempos de mudança: o bedel de cancela.

É um fenômeno. Toda a capacidade cognitiva das IAs exige mais das pessoas, que poderão exercer sua criatividade e desenvolver novas habilidades, adicionando mais valor aos negócios e maior satisfação no trabalho. Mas, gloriosamente, assistimos à chegada do bedel de cancela! Sim, o profissional que passa seu período de trabalho gesticulando freneticamente para os motoristas saírem do shopping. É evidente que o profissional deslocado para essa função merece respeito infinito. Imagino o desconforto de passar horas absorvendo os gases dos veículos e recebendo nada mais que a indiferença de motoristas sonolentos ou aéreos fechados no ar-condicionado. Fico pensando no grau de gratificação que a atividade possa proporcionar – “hoje fiz 493 automóveis saírem mais rápido” – em busca de um propósito e de um sentido que revele a real importância de seu esforço.

Ao bedel de cancela, juntam-se outras atividades curiosas: o “mãozinha” de estacionamento, também popular nos shoppings. Sua função é acenar para o motorista dizendo para qual piso ele deve se dirigir na chegada ao centro de compras, e qual faixa ele deve ocupar já próximo da via, na saída do shopping. Temos o manobrista de cadeiras, muito popular no Judiciário brasileiro, cuja função é puxar a cadeira para que seja confortavelmente ocupada pelo magistrado. Os requisitos para essa atividade envolvem capacidade de cálculo (qual é a distância ideal da cadeira para a mesa que permita às excelências se acomodarem da melhor forma possível). Temos também o distribuidor de senhas em agências bancárias, comum em bancos públicos, que faz uma espécie de triagem para indicar em qual fila o cliente irá desperdiçar seu tempo olhando para o celular antes de ser atendido.

Mas não pensem que essas atividades criadas para dialogar com esse incrível mundo tecnológico em que vivemos são privilégio apenas do Brasil. Nos EUA, em farmácias e supermercados, nos Estados majoritariamente governados por políticos do Partido Democrata, podemos observar o “abridor de locker”. Trata-se de atividade notavelmente sofisticada. Por força de uma estranha legislação, a qual permite que qualquer pessoa entre nas lojas e pegue mercadorias sem pagar, até um limite de dólares, sem que se configure roubo, essas empresas agora fecharam os produtos em vitrines lacradas. O cliente, então, passa pela melhor experiência possível: escolhe o produto olhando para a vitrine, aperta um botão, ouve o alto-falante anunciar onde ele está e aguarda a chegada do abridor de locker, que procura a chave da vitrine, abre o display e pega a mercadoria. Uma experiência assaz diferenciada, moderna e sem fricção!

Há dezenas de atividades que, ditas dessa forma, soam completamente absurdas. Novamente, todo trabalho merece respeito e todas as pessoas que têm essas ocupações estão defendendo sua renda e se esforçando para fazer o melhor. O que impressiona é o quanto tais atividades representam respostas incoerentes a problemas absurdos ou inexistentes.

São as dores de um momento de transição que ganham colorido especial no Brasil imediatista de sempre. O hype tecnológico convive com o incoerente analógico deslocado no tempo e induz a decisões, quando não equivocadas, estranhas. Então, pilhas de artigos e análises enfocam a Inteligência Artificial de modo apocalíptico e distópico, mas ao olhar para a realidade, sempre ela, o que temos é uma mentalidade ainda orientada ao passado, a uma forma intuitiva de enquadrar e resolver problemas. E a tecnologia está aí para nos ajudar a refletir, testar e verificar possibilidades e alternativas que sejam mais inteligentes e consistentes para levar a soluções mais coerentes.

É bastante provável que a recorrência à tecnologia seja ameaçadora. Ela poderia revelar fraquezas e determinadas lacunas de formação ou até obsolescência de gestores e de qualquer profissional responsável por algum tipo de decisão mais encorpada. Só que esse é o jogo: ter humildade para entender onde existem espaços de aprendizagem e descoberta do que não sabemos. Aí está, como hipótese, uma das profissões reais da nova Era da IA: o gestor da incerteza, o “Chief Uncertainty Officer”, determinado a descobrir o que o “board” não vê, o que não sabe e o que desconhece como potencial insurgente, força transformadora e fraqueza não mapeada.

O que se projeta para o fim desse modo transitório que caracteriza nossos dias é o desapego de atividades que reduzem ou frustram o potencial humano. Somos animais que têm potencial de aprendizado permanente, ao menos enquanto as faculdades cognitivas permanecem viáveis e funcionais. Logo, direcionar mão de obra ou, melhor, mentes curiosas para abrirem lockers ou vigiarem cancelas é simplesmente um desserviço a profissionais certamente dedicados.

Ainda não inventaram máquina melhor do que a incoerência humana para tratar humanos como descartáveis, assim como é muito provável que nenhuma IA bem-treinada sugira a uma pessoa que desempenhe atividade que não resolva um problema real. Só precisamos de humildade para reconhecer que podemos exigir mais de nós mesmos. E isso implica sermos mais generosos com nossas habilidades e, principalmente, com a nossa inteligência.

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