Da Geração Prateada à GenZ: o engajamento multigeracional
- Por Danielle Ruas
- 11 min leitura
Um dos grandes desafios da experiência do consumidor contemporânea está na multiplicidade de gerações que passaram a conviver simultaneamente, cada uma com seus comportamentos, preferências e afinidades específicos – e bastante diferentes uns dos outros. Da Geração Prateada aos Baby Boomers e à Geração Z, as empresas precisam criar conexões cada vez mais próximas com diferentes públicos, respeitando as diferenças e atendendo às necessidades de cada um deles.
Essa diversidade vem redefinindo as interações e a forma como as marcas se relacionam com os consumidores. Faz-se necessário ir além da compreensão das características de cada geração, repensando a experiência do cliente por meio da empatia, do propósito e da hiperpersonalização.
“Além dos Baby Boomers, Millennials e Geração Z, já estamos falando de novas gerações como Alpha e Beta”, lembra Beto Almeida, CEO da Interbrand. “Hoje, o consumidor está construindo as marcas mais do que as próprias empresas. É uma via de mão dupla. Implementar soluções personalizadas e significativas pode transformar a interação com o cliente, mas o que funciona para um público pode não ressoar com outro”, reforça.
Nesse sentido, Sany Silveira, CEO da CNP Seguros Holding Brasil, destaca que lidar com as diferenças geracionais e ser totalmente assertivo é desafiador, mesmo com ferramentas disponíveis. “O foco atual é criar experiências intuitivas que agradem tanto a perfis conservadores quanto a nativos digitais.”
Exemplo disso é o banco digital next, surgido dentro do tradicional Bradesco. Seu objetivo é a evolução contínua em direção à transformação digital, focando em oferecer produtos de qualidade. Segundo Jeferson Honorato, diretor do banco, a simplicidade no acesso é fundamental. Com uma gama diversificada de produtos, o next utiliza tecnologia para personalizar ofertas e experiências conforme o perfil de diferentes gerações.
“A personalização é enriquecida pelo uso de dados do consumidor e por estudos comportamentais, que ajudam a entender as relações financeiras e a promover a educação financeira”, conta Honorato.
O Víssimo Group é outro exemplo. A organização conta com uma multiplicidade de produtos que se distinguem em marcas diferenciadas, como a Grand Cru – que oferece uma experiência muito mais física e sensorial nas lojas da rede – e a Evino – com uma jornada digital e um modelo de assinatura. “Entendemos que as duas marcas não podem acessar cada público com a mesma qualidade”, explica Ari Gorenstein, co-CEO do Víssimo Group. Assim, uma das estratégias da organização é analisar a geração de valor para os diferentes demográficos que deseja privilegiar dentro de cada uma das marcas.
Por sua vez, a Wellhub, liderada por Priscila Siqueira, recebe feedbacks valiosos de usuários e empresas, especialmente das áreas de Recursos Humanos e Saúde. No aplicativo, os usuários têm a oportunidade de sugerir novos serviços ou parceiros, atendendo às suas necessidades. A equipe de credenciamento encarrega-se de avaliar essas propostas. “Embora seja desafiador oferecer constantemente todas as novidades e serviços em alta, baseamo-nos nas sugestões e demandas dos usuários para direcionar as ofertas”, conta.
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A Geração Z
Formada pelos nascidos entre 1997 e 2012, a Geração Z tem ganhado a atenção das marcas principalmente por estar se tornando economicamente ativa e ser nativa digital – exercendo influências importantes também nas outras gerações.
No entanto, o que essa geração espera das marcas? Como atrair a atenção e manter a relevância perante esse público tão cobiçado quanto incompreendido? O primeiro passo é renunciar aos estereótipos, afinal, trata-se de um grupo heterogêneo que espelha as desigualdades regionais, sociais e econômicas vigentes no País.
“São cerca de 51 milhões de pessoas com origens, aspirações, comportamentos e estilos de vida totalmente diferentes”, afirma Luiz Menezes, fundador da Trope, consultoria especializada nas Gerações Z e Alpha. “Não cabem rótulos como ‘geração TikTok’ ou ‘geração mimimi’.”
Luiz, um legítimo representante da Geração Z, pondera que a fluidez é uma característica marcante desse grupo. “Essa geração muda de visão e opinião sobre diversos assuntos, e isso inclui as marcas”, afirma.
Nesse contexto, Stella Brant, VP de Marketing e Sustentabilidade da Afya, empresa que tem como principal público a Geração Z, ressalta a necessidade de falar menos e ouvir mais, entender o cliente e as suas reais necessidades para, a partir disso, pensar em novos produtos e serviços realmente necessários.
No caso da Afya, tecnologia e Inteligência Artificial vêm contribuindo significativamente nesse sentido. Um exemplo é a Afya Whitebook, ferramenta on-line que auxilia médicos e estudantes de medicina na tomada de decisões clínicas.
“Não é sobre produto, é sobre conhecimento”, acredita Stella Brant. “Entender o que o público precisa, estabelecer uma conexão emocional e trazer soluções reais para problemas reais”, afirma Brant.
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Comunicação assertiva
Engana-se quem pensa que criar conexões com as diferentes gerações é ficar focado em faixa etária. A comunicação assertiva e ágil é essencial. “É isso que faz com que os consumidores expressem suas necessidades e expectativas de maneira clara, facilitando a interação”, pontua Luiz Menezes. Ele acredita que uma boa comunicação pode evitar mal-entendidos, com expectativas atendidas e melhora da satisfação do cliente.
Ademais, a comunicação possibilita que os consumidores façam escolhas informadas, levando em consideração suas preferências e seus valores. Quando os consumidores se sentem à vontade para se expressar, eles interagem e se conectam com mais naturalidade.
Entretanto, para gerações acostumadas com o digital, qualquer fricção na jornada pode gerar ansiedade. “Antes a comunicação levava tempo, hoje é instantânea. O cliente vê e registra no ato, especialmente o da Geração Z”, afirma Marcus Piombo, CEO da Necxt. “É preciso se comunicar bem, de forma assertiva e respeitosa. Caso a marca se comunique de forma errada, isso será amplificado rapidamente.”
O mesmo vale para as gerações mais antigas, como a Prateada, que prefere, muitas vezes, os canais tradicionais como o telefone. A dificuldade em contatar um atendimento humano, imposta por URAs digitais que colocam a jornada em looping, pode gerar atritos importantes para o relacionamento com a marca.
Além disso, a prática da comunicação assertiva tem implicações diretas no comportamento de compra e na experiência do consumidor, independentemente da geração. Ambientes de consumo nos quais a comunicação é valorizada tornam-se mais acessíveis e convidativos, contribuindo para um ciclo positivo que beneficia tanto o consumidor quanto o fornecedor.
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O marketing de empatia
Buscando compreensão profunda das necessidades e emoções dos consumidores, e querendo se conectar de maneira mais significativa com seu público-alvo, as marcas estão, cada vez mais, apostando no “marketing de empatia”. Afinal, ao utilizar a técnica, as empresas conseguem criar campanhas que ressoam genuinamente com os consumidores.
Mas o que é exatamente marketing de empatia? Nas palavras de Tati Gracia, analista comportamental, especialista em marketing de empatia e autora, trata-se do marketing que aplica o conceito de empatia e traz o ser humano para o centro da estratégia. Dessa forma, o marketing deixa de ser focado em produtos e serviços para preocupar-se em construir conexões relevantes.
Para tanto, conhecer as características geracionais é fundamental. Tati Gracia as destaca da seguinte forma:
Geração dopamina: corresponde aos nascidos entre 1995 e 2010 (20% da população brasileira). Trata-se de uma geração para se pensar não por um conjunto de características, mas por um conjunto de tensões. São os primeiros nativos digitais, que querem, sobretudo, ser ouvidos.
Geração sanduíche: enfrenta o desafio de equilibrar as responsabilidades com os pais idosos e os filhos jovens. Essa geração aprendeu a transitar entre o mundo analógico e o digital. Burnout é um grande tema para essas pessoas, as quais, em sua maioria, usam as redes sociais para buscar informações sobre saúde e bem-estar.
Geração Prateada ou 50 mais: corresponde a 25% da população brasileira. De forma geral, essas pessoas reclamam da falta de produtos e serviços que atendam às suas necessidades e de acessibilidade nos pontos de venda e embalagens. Elas também não se veem representadas na comunicação das marcas e na experiência digital.
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O valor do propósito
Para as gerações mais novas, principalmente a GenZ, o propósito das marcas é algo valorizado e considerado diferencial competitivo. Para além da qualidade do atendimento, dos produtos e dos serviços, o legado das empresas passa a ser percebido.
Nesse sentido, Hamilton dos Santos, diretor-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), defende o “equilíbrio entre o lucro e a responsabilidade social”. Na prática, isso pode ser feito de diversas formas.
Higo Lopes, head de Marketing da Granado/Phebo, conta que a marca, com mais de 150 anos, busca manter isso no DNA. “O grande investimento nos últimos cinco anos foi na perfumaria, mas sempre mantivemos nosso propósito social”, diz ao destacar a parceria com a Unicef, que enviou produtos de higiene a comunidades vulneráveis durante a pandemia. Não à toa, o rebranding da marca está sendo muito bem-sucedido.
No ramo alimentício, o propósito também está presente. Segundo Marcelo Bronze, diretor de Marketing da Danone, a marca tem impacto social desde 1970. “Nos últimos anos, começamos a comunicar nosso posicionamento ESG, que já existia, através da plataforma ‘Tudo de Bom, Tudo de Bem’. O propósito é mostrar ao público o impacto positivo que geramos em nossa cadeia de produção e aumentar o engajamento.”
Um exemplo de como o propósito pode fazer a diferença para uma marca é a Conta Black. Fernanda Ribeiro, CEO da fintech, reforça a importância do negócio social, focado na inclusão financeira de pessoas das Classes C, D e E, majoritariamente negras e periféricas. “Nosso objetivo vai além do lucro. Queremos gerar impacto social. A comunicação não é nossa prioridade, mas os próprios clientes acabam divulgando nossos serviços através do esquema ‘boca a boca’, o que reflete o impacto que causamos”, conta.
Dessa forma, o propósito vai além da mera transação comercial, conectando marcas e consumidores por meio de valores compartilhados. Quando um consumidor se identifica com o propósito de uma marca, a decisão de compra torna-se mais significativa, gerando um laço emocional. E isso vale para todas as gerações.
Essa conexão é especialmente relevante em um mercado saturado, no qual a diferenciação se torna um desafio. O consumidor atual busca mais do que produtos – experiências que reflitam suas crenças e seus valores, mas que também façam sentido para a sua vida.
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