A criação de tecnologias inovadoras acontece mais rapidamente do que imaginamos, mas há casos que demoram para cair no gosto popular. O smartphone, por exemplo, não foi criado pela Apple. Na década de 1990, o primeiro conceito de telefone inteligente foi lançado pela IBM. Chamado de Simon, fez até um certo sucesso entre empresários por conta de facilidades como o envio e-mails e acesso à agenda, mas a bateria e o preço na época (cerca de US$ 900) o levaram rapidamente a cair em desuso.
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A produção em escala é fundamental para que um produto consiga ficar mais barato. Essa é exatamente a missão da fintech Saffe, criada na Inglaterra por dois brasileiros. A Visa está apostando no sucesso da companhia – a startup foi uma das escolhidas por um programa de aceleração da companhia. O grande diferencial não é a confirmação do pagamento em si, mas a forma como isso ocorre.
A pessoa não precisa nem estar munida do smartphone para fazer uma compra. O próprio estabelecimento, por meio de um celular comum, digita o valor da conta e tira uma foto do cliente para confirmar a transação. Tudo fácil e rápido.
E essa facilidade é a meta principal do fundador André Coelho, um dos fundadores da Saffe, que vai além: ele quer que as câmeras de smartphones causem uma verdadeira revolução na vida das pessoas, especialmente as mais pobres.
“Enxergamos a câmera como uma ferramenta importante de inclusão nos meios de pagamentos”, afirma. “Queremos criar um grande impacto e criar ações como emitir créditos através de uma simples selfie”.
A Saffe, que recebeu US$ 700 mil em aportes até agora, está atuando em três países, mas de maneira tímida. Por enquanto, há restaurantes em Londres e Barcelona utilizando a tecnologia, assim como um piloto no Brasil, em um posto de gasolina da Shell. Recentemente, a empresa conseguiu uma licença de instituição financeira em Londres, o que pode abrir portas no futuro.
Mais do que facilidade, segurança
Tirar uma selfie já virou um hábito recorrente na vida de milhões. Estender essa prática para pagamentos, portanto, é um passo lógico. Um exemplo perfeito de como unir o útil ao agradável. Mais do que facilitar a vida dos usuários, ela esse hábito pode tornar a vida dos usuários mais segura.
É por isso que outras empresas estão apostando nesta tecnologia. A brasileira Stefanini é uma delas. Não é à toa que a companhia se aliou à Rafael, empresa israelense considerada uma autoridade no desenvolvimento de armas e tecnologia de segurança militar.
“A vantagem do produto militar frente aos outros é a tecnologia mais avançada em comparação ao que vemos no mundo civil”, diz Marco Stefanini, CEO e fundador da Stefanini.
A análise da Stefanini Rafael é profunda: até mesmo os vasos sanguíneos dos olhos passarão pelo crivo da ferramenta. Os movimentos também poderão ser considerados na análise de segurança.
Por exemplo, se o usuário piscar uma vez, ele pode ter acesso a conta corrente do banco. Se piscar com apenas um olho, pode ser o sinal de que algo está errado: um sequestro, por exemplo. Todos os comandos, claro, são previamente cadastrados.
Outra ação da Stefanini é com a startup Full Face, especializada em reconhecimento facial. Um dos mais importantes clientes é a Gol, que lançou o Selfie Check-in em junho deste ano. De acordo com a empresa, a ferramenta garante 99% de precisão do reconhecimento facial, após um cadastramento prévio. Até agora, segundo a Gol, 500.000 usuários já utilizaram a ferramenta.
Questão de segurança
A japonesa NEC é outra que enxerga o futuro por meio do reconhecimento facial. Aliás, o presente da empresa também está bem conectado ao sistema. A subsidiária brasileira estima que 20% do seu faturamento em 2018 será relacionado a esse tipo de tecnologia. No ano passado, a receita da companhia por aqui ficou na casa dos R$ 500 milhões.
A NEC está entrando aos poucos no setor financeiro com as suas soluções. Antes disso, fez um vasto portfólio em segurança. Em meio a diversos atentados terroristas, se especializou em identificação de pessoas em locais de grande movimento.
No ano passado, por exemplo, foi a empresa responsável por toda tecnologia presente dentro e fora do Estádio Nacional de Gales durante a final da Liga dos Campeões da Europa, entre Real Madrid e Juventus. Aeroportos como o de Dulles, na capital americana Washington, também possuem tecnologia de reconhecimento facial da NEC.
Por aqui, é a principal fornecedora da tecnologia para a Receita Federal – está presente em 14 aeroportos internacionais para prevenir possíveis contravenções.
Agora, a companhia quer popularizar as soluções em diversos setores da economia. O varejo é uma das principais metas. Imagine a situação: o cliente entra em uma loja e logo é identificado. Automaticamente, ele recebe em seu celular diversas promoções de artigos do seu interesse e até mesmo de produtos que ele pesquisou na internet.
Do lado do varejista, ele terá informações preciosas sobre o seu cliente, o que poderá resultar em uma maior fidelização. “Enxergamos um potencial de crescimento global acima dos 500% ao ano para essas ferramentas”, diz Wagner Coppede, diretor de soluções e engenharia da NEC no Brasil. “De fato, reconhecimento facial é uma das tecnologias que chegaram para ficar.”
Esta é a segunda de uma série de três reportagens sobre reconhecimento facial. Clique aqui para ler as outras