Com o coração verde e amarelo, milhares de pessoas se reuniram para ouvir Rebeca Andrade, bicampeã olímpica e maior medalhista olímpica do Brasil, no encerramento do CONAREC 2024, o maior evento de experiência do cliente (CX) do mundo. Com carisma e simplicidade, Rebeca mostrou como o esporte e o mundo corporativo têm muito em comum, especialmente quando o assunto é superação, trabalho em equipe e resiliência.
Hoje, com 25 anos, Rebeca entendeu o poder da autoconfiança, do autoconhecimento e do espírito coletivo, e como esses fatores são capazes de romper barreiras. A atleta, que brilhou nas Olimpíadas de Tóquio e Paris, destaca a importância de competir para si mesma, sem se deixar pressionar pelas expectativas dos outros.
“A única coisa que podemos controlar somos nós mesmos. Quando essa ideia se fixou na minha cabeça, o peso das coisas se tornou muito mais leve. Todos nós erramos e acertamos, mas se eu der o meu melhor, isso é tudo o que importa. E a minha equipe também compreende isso”, diz Rebeca.
Entre a leveza e a disciplina
Rebeca conta que tudo mudou quando ela conseguiu encontrar o equilíbrio diante da pressão por bons resultados. “Faço terapia com minha psicóloga desde os 13 anos. Sempre quis orgulhar minha equipe, mas também tinha medo de decepcioná-los após uma competição ruim”, diz. Essa angústia, segundo ela, foi superada com o tempo: “Hoje, posso treinar com alegria, amor e paixão. Se eu der o meu melhor, isso é o que realmente importa.”
No ambiente corporativo, esse equilíbrio entre responsabilidade e leveza também é desafiador. Como explica a jornalista da ESPN, Daniela Boaventura, que conduziu a conversa com a atleta, muitas vezes confundimos leveza com irresponsabilidade, quando, na verdade, ambos podem coexistir de forma saudável e produtiva.
“Todo mundo tem uma medalha de ouro para perseguir”
Sonhos, desejos e ambições fazem parte da vida de quem escolhe uma carreira para trilhar. Durante sua trajetória, Rebeca aprendeu a importância de viver o presente e se conectar com os momentos. A experiência em Paris foi única para ela, especialmente pela presença do público, algo que não aconteceu em Tóquio.
“Foi uma Olimpíada em que me permiti curtir mais. Conversei com outros atletas e aproveitei cada instante”, conta, ressaltando que, apesar das dores físicas e desafios, essa competição teve um significado especial para ela.
Esse aprendizado é valioso para quem busca o sucesso, seja no esporte ou no mundo corporativo. Segundo Rebeca, todos têm uma “medalha de ouro” para perseguir, mas é essencial saber onde essa ambição se encaixa na vida e como equilibrá-la com o bem-estar físico e mental.
Ao longo da sua jornada no esporte, que começou aos quatro anos de idade, por meio de um projeto social, a ginasta teve muitos pontos de virada de chave, lições que podem ser aproveitas para além do universo corporativo e aplicadas para todos que têm um sonho a ser alcançado. São elas:
Confiança e colaboração
Um dos principais pilares da carreira de Rebeca é a confiança, tanto em si mesma quanto em sua equipe. Ela afirma a importância da comunicação aberta com seu treinador e o valor de reconhecer seus limites. “Tem dias em que eu estou com dor e preciso falar com o meu treinador. Ele sabe que não estou mentindo, e esse respeito mútuo é essencial”, afirma, reconhecendo que as dores fazem parte do processo, mas que saber seus limites é fundamental.
Esse tipo de relação de confiança é importante também no ambiente de trabalho, onde a colaboração é chave para o sucesso. Outro ponto de virada da jornada de Rebeca Andrade foi ao conhecer sua nutricionista, que ensinou muito mais sobre alimentação e a importância de fazer algo por você mesma.
“Eu sentia que muitas pessoas estavam controlando minha rotina, e percebi que precisava fazer algo por mim mesma. Pensei: ‘Você precisa tomar as rédeas da sua vida. O que você quer? O que espera? Minha nutricionista é muito ‘humana’, e senti que realmente queria me ajudar. Começamos a trabalhar juntas, e esse apoio foi essencial, pois eu tinha muitos problemas com alimentação”, relembra.
Resiliência: um caminho de superação
O percurso de Rebeca Andrade até o título de bicampeã olímpica não foi fácil. Ela enfrentou três lesões graves no ligamento cruzado anterior (LCA), que poderiam ter encerrado sua carreira. No entanto, essas dificuldades a tornaram ainda mais forte e resiliente. “Depois de tudo o que passei, hoje posso dizer ‘não’ quando algo não está bem, e isso não diminui minha trajetória”, afirma.
Rebeca também revelou que por enquanto não se dedicará às competições em solo individuais, pois sente fortes dores pelo corpo. “Eu me dedico muito a essa modalidade e exige muito do meu corpo, tanto que começo a me preparar dois, três meses antes. Mas se, amanhã ou depois, minha equipe precisar, eles sabem que podem contar comigo.”
Saúde mental no esporte e na vida
A pressão por resultados é uma realidade tanto no esporte quanto no mundo corporativo. Rebeca cita o exemplo de Simone Biles, que renunciou à competição olímpica em Tóquio para priorizar sua saúde mental. “Simone foi muito forte e corajosa. Nós nos apoiamos fora das competições, e sua decisão inspirou muitas pessoas”, ressalta.
Essa discussão é extremamente relevante no cenário atual, em que a saúde mental vem ganhando mais atenção. A pressão constante, seja no trabalho ou no esporte, exige que as pessoas aprendam a desacelerar e a cuidar de si mesmas. “Com Simone, apesar de sermos rivais nas competições, fora delas nos apoiamos. Nos Estados Unidos a cobrança é muito alta”, pontua.
Legado e inspiração
Ao ser questionada sobre como lida com a idolatria, Rebeca foi clara: “Sou filha da Rosa, irmã de sete, e mantenho os pés no chão. Isso não diminui o que conquistei, mas me lembra de quem eu sou.” Para ela, o verdadeiro legado é mostrar que ninguém tem o direito de dizer que você não pode alcançar seus sonhos.
Rebeca encerrou sua participação no CONAREC 2024 com uma mensagem inspiradora: “Se eu consegui, por que você não pode? Todo mundo tem uma medalha de ouro que persegue. Acredite em si mesmo e siga em frente”.
No fim do painel, Rebeca Andrade jogou bonés autografados para a plateia e levantou o público