“A vida é o que acontece quando você está ocupado fazendo outros planos”. Essa frase é atribuída a John Lennon, o que a torna ainda mais pungente. Obviamente, não era parte dos planos do artista encontrar seu assassino no dia 8 de dezembro de 1980. A frase provavelmente é anterior a ele, mas o importante é o que ela demonstra: a realidade sempre pega você de surpresa.
Neste ponto, eu gosto de assumir um ponto de vista paradoxal para um futurista: graças a Deus! É ótimo que a realidade nos pegue de surpresa. E há muitas razões para isso.
Em primeiro lugar, se fosse realmente possível fazer planos em que a realidade não nos surpreenderia, sempre saberíamos o que esperar. Venhamos e convenhamos: isso seria muito chato! Essa é uma das premissas da indústria de jogos e loterias: as pessoas jogam porque podem ser surpreendidas. Você pode, é claro, planejar suas economias até chegar ao primeiro milhão. No entanto, seria mais divertido ganhar um milhão na Mega Sena a qualquer momento. Eu não tive essa sorte. Bons amigos me dizem que o pré-requisito para vencer na Mega é comprar os bilhetes. Talvez seja por isso que jamais ganhei…
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Em segundo lugar, pode ser bom algumas coisas nos pegarem de surpresa. As pessoas hoje em dia são impacientes, nosso ritmo acelerado nos faz querer que as coisas mudem rapidamente. Nas palavras do poeta dinamarquês Piet Hein: “Antigamente, os velhos tempos tinham acontecido há cem anos. Hoje, aconteceram ontem”. Por outro lado, algumas coisas levam tempo para amadurecer. Leva tempo entre uma tecnologia ser inventada e ser efetivamente transformada em um produto que funcione e possa estar no mercado.
Seu colunista conheceu pessoas inteligentes de TI – sim, elas existem! – que afirmam que muitas das descobertas dos anos 1990 saíram conforme o esperado, mas o sucesso das mensagens de texto por telefone os pegou completamente de surpresa. A nanotecnologia e a biotecnologia provavelmente oferecem oportunidades para produtos que não podemos nem imaginar. Provavelmente acontecerá o que aconteceu com alguns apps: de repente, tornam-se parte da nossa realidade.
Em terceiro lugar, um futuro eficiente e planejado significa que ninguém terá lucros extraordinários. Se as coisas são previsíveis e planejadas, todo mundo seguirá na mesma linha e ninguém ganhará muito dinheiro. Não há nada de errado com altos lucros, se eles forem investidos em crescimento e empregos ou em caridade e cultura. Nesse caso, tornam-se uma fonte importante de impostos, ao mesmo tempo que é irrelevante saber se esse recurso elevado será investido pelo governo ou pelo cidadão a título de filantropia. Lucros excessivos tornam-se um problema quando compram Rembrandts e outros itens do gênero, que beneficiam somente ao dono.
E então? Devemos dispensar os planos e parar com estudos futuros? Não! Devemos planejar, tanto quanto possível, usando estudos sobre o futuro. Nós só precisamos lembrar que bons planos não servem apenas para atingir objetivos, mas para aguçar nossa consciência de que a realidade pode ultrapassar o que planejamos. O que nos dá a chance de, talvez, reagir a tempo.
*Peter Kronstrom é head do CIFS