A primeira morte por COVID-19 no Brasil causou grande espanto. Vinte dias depois de um Carnaval com zero distanciamento social, os brasileiros correram para casa. Porém, não demorou muito para que começasse uma discussão sobre a viabilidade do isolamento. Criou-se inclusive uma dicotomia entre saúde e economia – como se, para cuidar de um, fosse necessário abrir mão do outro – e bastaram alguns dias para que as pessoas voltassem às ruas, mantendo sempre o índice de isolamento abaixo de 59%. Este número, o mais alto desde o início da medição, foi alcançado em alguns domingos.
Dentro desse cenário, em 1º de junho, o Governo do Estado de São Paulo apresentou o Plano São Paulo, no qual está baseado a estratégia de retomada econômica das cidades paulistas. Ele se divide em cinco fases – sendo a primeira (chamada Alerta Máximo) a mais rígida; a quinta (Normal controlado), a mais branda. Para definir o status de cada região, são considerados cinco indicadores: taxa de ocupação de leitos de UTI por casos de COVID-19; número de leitos de UTI por casos de COVID-19 por 100 mil habitantes; número de casos de COVID-19; número de internações pela doença; e número de óbitos ligados a essa mesma causa.
Fase amarela
Depois de um mês e cinco dias desde o início da reabertura gradual, em 6 de julho a cidade de São Paulo entrou na fase amarela, que considera, entre outros pontos, a reabertura de restaurantes – que devem, é claro, seguir protocolos rígidos de higiene. Para a coordenadora do Comitê Econômico do Estado de São Paulo, Ana Carla Abrão, a análise regular dos dados é um dos diferenciais do Plano São Paulo, pois permite flexibilizar e endurecer o isolamento social de acordo com a necessidade, a partir de análises semanais.
Fernando Reinach, biocientista, professor da Universidade de São Paulo e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, porém, tomar como base dados publicados no presente é um equívoco. “Todos esses dados refletem o que aconteceu 3 ou 4 semanas atrás (…) com os dados de hoje estamos totalmente no escuro sobre o que está acontecendo no presente. Imagine que hoje o vírus tenha chegado com força total em uma comunidade qualquer, ele vai se espalhar sem que seja percebido por algumas semanas até atingir o sistema de saúde. É por isso que na Itália, na Espanha, na Inglaterra e em Manaus a situação passou da calmaria total a um caos inimaginável em duas ou três semanas”, escreveu em artigo.
+ REABERTURA
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Tecnologia
Apesar disso, Ana Carla (que além de coordenadora do Comitê Econômico do Estado de São Paulo é também head do escritório da Oliver Wyman no Brasil e sócia nas práticas de Finanças & Risco e Políticas Públicas), revela que o Plano São Paulo foi desenvolvido com base em uma tecnologia chamada Navegador, utilizada em outros 40 países, desenvolvida pela própria Oliver Wyman.
“Desenvolvemos um modelo de predição da curva epidêmica, com dados e experiência de mais de 40 países”, diz. “A Oliver Wyman tem uma capacidade analítica muito reconhecida, uma equipe de modelagem muito sólida”. O desenvolvimento da tecnologia começou já no momento em que o surto surgiu na China. “O Navegador foi oferecido pro bono ao Governo do Estado de São Paulo para contribuir com as ações de resposta à pandemia”, explica. A tecnologia foi usada para a construção do Plano São Paulo, desenvolvido em uma parceria entre o Centro de Contingência de saúde e o Comitê Econômico.
Adaptação
Além de possibilitar a flexibilização e o endurecimento do isolamento, Ana Carla destaca que o Plano São Paulo se diferencia por oferecer uma visão regional, o que possibilita uma separação mais adequada do que simplesmente por cidades. Ela aponta também para a importância de seguir os protocolos, que são segmentados – agora, por exemplo, é o momento em que bares, restaurantes e salões de beleza estão testando essa adaptação.
O cumprimento de tais regras, contudo, estão trazendo preocupações para diferentes negócios, pois não é fácil cumpri-las e, em muitos casos, também custa caro. Além disso, a limitação de horários (bares e restaurantes só podem funcionar durante o dia, por seis horas diárias, e devem fechar as portas até 17h) tem prejudicado, por exemplo, as pizzarias, que tem no período noturno a sua maior demanda.
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