O protagonismo negro, que por muito tempo foi subestimado, está surgindo como uma força vital na indústria do entretenimento. Na televisão e no cinema, por exemplo, nota-se uma representação racial, embora ainda muito pequena, mas que por muitos anos não se via. Nesse sentido, as crescentes demandas, diálogos e discussões por diversidade e inclusão têm impulsionado a aceleração de pessoas negras na mídia.
A busca por uma representação mais inclusiva tem sido direcionada para narrativas que reflitam a diversidade. Um exemplo dessa mudança pode ser visto no lançamento da série “Coisa Mais Linda” pela Netflix. Ambientada no Brasil dos anos 1950 e 1960, a série não apenas apresenta uma trama envolvente, mas também aborda questões cruciais relacionadas a raça e gênero. Ao investir em produções que exploram a riqueza das experiências negras.
No entanto, um estudo recente da Gestão Kairós, intitulado: “Estudo Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023“, revelou que, apesar desse progresso visível nas telas, o protagonismo negro nas agências de publicidade ainda enfrenta desafios. Embora a presença de pessoas negras em propagandas tenha aumentado nos últimos anos, a realidade nas agências de publicidade é outra. O estudo revela que 68% dos profissionais que atuam nessas agências são brancos, enquanto apenas 30% são negros (considerando pretos e pardos). Essa diferença é especialmente acentuada quando se analisa a liderança nas agências.
Já para os cargos de liderança (nível gerencial e acima), o estudo aponta que apenas 10,3% dessas posições são ocupadas por profissionais negros. Esse número é oito vezes menor em comparação com profissionais brancos na mesma posição. Além disso, o cenário se agrava quando se trata de mulheres negras, representando apenas 4,6% das lideranças.
Os dados também evidenciam que a falta de diversidade nas lideranças de agências de publicidade é um caminho que dificulta a abertura de outras frentes para negros, por isso, é tão necessário o diálogo à inclusão. Essa lacuna pode resultar em estratégias de marketing e publicidade que não refletem as experiências diversas do consumidor, limitando a capacidade das marcas de se conectarem com seus clientes.
O poder da influência negra no consumidor
Para exemplificar a notoriedade de negros em campanhas de publicidade, um outro estudo recente, dessa vez realizado pela Kantar, analisou 95 mil inserções publicitárias realizadas no ano passado. O estudo mostrou que entre as celebridades negras mais presentes na mídia, destacam-se nomes como Iza, Menor Nico, Paulo Vieira, Rebecca Andrade, Taís Araújo e Lázaro Ramos, ilustrando uma diversidade de áreas de atuação.
A presença dessas celebridades negras e a representação diversificada têm um impacto positivo na percepção do consumidor. O público, ao se ver representado de maneira mais autêntica, tende a criar uma conexão mais forte com as marcas, contribuindo para uma relação mais positiva e engajada.
Ao destacar celebridades negras em campanhas publicitárias, as marcas não apenas agregam valor às mensagens, mas também contribuem para a desconstrução de estereótipos. Por isso, é essencial a promoção da diversidade para ampliar a representatividade.
Um mercado bilionário
O estudo aponta ainda que 41% dos negros têm o hábito de seguir marcas nas redes sociais. Esse dado ressalta a importância crescente dessas plataformas como canais de marketing eficazes para atingir esse público e mostra as preferências de consumo. Já a televisão ainda mantém seu lugar como uma poderosa ferramenta de comunicação; o levantamento aponta que 43% dos negros realizam buscas na internet sobre produtos anunciados durante a programação televisiva.
O mercado publicitário brasileiro é promissor. Só no primeiro semestre deste ano, o setor registrou investimentos de mais de R$ 9 bilhões, de acordo com um levantamento pelo Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário. O estudo mostra que uma parcela significativa de 43%, totalizando R$ 3,9 bilhões, foi direcionada para anúncios em TV aberta. Este dado indica que, mesmo em um cenário cada vez mais digital, a televisão continua a ser um meio poderoso para as estratégias publicitárias das empresas, mantendo sua capacidade de alcance em massa.
Sem dúvida, ter negros nas frentes dos principais meios de comunicação é um marco importante que abre possibilidades para tantos outros. Pessoas pretas terem referências de outras pessoas em cargos estratégicos, principalmente no meio do entretenimento, é fundamental para todos que lutam e sonham por um país mais igualitário hoje e também para as futuras gerações.