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Produtos de “segunda mão” caem no gosto dos consumidores

Produtos de “segunda mão” caem no gosto dos consumidores

Crise econômica gerada pela pandemia e conscientização crescente sobre consumo consciente impulsionam compra e venda de itens usados

A pandemia do novo coronavírus tem levantado questões que vão muito além da saúde. Com a crise econômica provocada pelas recomendações de isolamento social, pessoas de todo o mundo se viram obrigadas a encontrar novas fontes de renda. Muitas delas descobriram que podiam transformar a própria casa em uma mina de ouro, por meio da revenda de roupas e objetos usados.

Mercado em ascensão

Uma pesquisa da GlobalData mostrou que o mercado de “segunda mão” deve atingir US$ 64 bilhões nos próximos cinco anos, ultrapassando o segmento de vendas tradicionais até 2024. Segundo o estudo, a expectativa é que o segmento de revendas quintuplique nos próximos cinco anos, enquanto o varejo deve encolher: em 2029, o mercado total de produtos usados ​​deve crescer quase duas vezes o tamanho do fast fashion.

De acordo com a pesquisa, que ouviu 3,5 mil mulheres americanas, quatro em cada cinco pessoas afirmam estar abertas a comprar de segunda mão quando o dinheiro fica curto. 79% dos consumidores planejam cortar seu orçamento de vestuário nos próximos 12 meses, e duas em cada três pessoas que nunca venderam suas roupas, agora, estão dispostas a fazê-lo. A principal motivação para isso? Ganhar dinheiro!

“Alguns fatores são relevantes para quem compra itens usados ou seminovos, como preço mais vantajoso e oportunidade. Para quem vende, muitas vezes é a chance de gerar renda com algo que está parado em casa”, diz o CEO da OLX Brasil, Andries Oudshoorn.

Os dados não mentem: o número de mulheres que compraram produtos de segunda mão passou de 56 milhões em 2018 para 62 milhões no ano passado. O crescimento das compras de segunda mão tem sido impulsionado especialmente pela geração Z (pessoas com até 24 anos de idade). O estudo da GlobalData indica que esses compradores estão adotando o consumo de segunda mão mais rapidamente do que qualquer outra faixa etária.

A pandemia do novo coronavírus também tem colaborado para esse crescimento: segundo um levantamento nacional que considerou todas as categorias da OLX,  38% dos usuários fizeram sua primeira compra na plataforma depois de maio de 2020. Entre os vendedores, 41% começaram a anunciar na plataforma durante a pandemia.

Com o mercado de marketplaces caminhando na contramão da crise, a OLX lançou, em julho, a sua própria solução de pagamentos: a OLX Pay. “O recurso contribui para ampliar a confiança nas transações virtuais e também atender às demandas feitas pelos nossos usuários, como as possibilidades de parcelar o pagamento e contratar frete na compra de itens novos, seminovos e usados”, explica Oudshoorn.

Sustentabilidade em foco

Os motivos para o crescimento da economia de segunda mão vão além da crise financeira. Cada vez mais pessoas estão prezando, também, pelo consumo sustentável. “A relevância que a sustentabilidade ganhou nos últimos anos também é uma importante parte dessa equação, com usuários que passam a enxergar o consumo de forma mais inteligente e ecologicamente amigável”, destaca Oudshoorn. Esse movimento tem, inclusive, influenciado os investidores, que têm levado cada vez mais a sério as marcas que prezam pela responsabilidade social e ambiental.

A moda é uma das indústrias mais poluentes do mundo, e à medida que os problemas ambientais crescem, cresce também a consciência sobre a necessidade de consumir menos e reutilizar mais, preservando os recursos naturais do planeta. Para se ter uma ideia, a produção de um par de calças jeans consome, em média, 35 kg de CO2. A confecção de uma camiseta de algodão, por sua vez, gasta cerca de 2,5 mil litros de água. O relatório da GlobalData  destaca que, se este ano, cada pessoa comprasse um item usado em vez de um novo, seria possível economizar cerca de 2,6 bilhões de kg de CO2 e 95 bilhões de litros de água.

O estudo Second Hand Effect, encomendado pela OLX Brasil, revelou que as transações feitas em 2019 por meio da plataforma pouparam a emissão de 6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. O volume representa o mesmo que parar completamente o tráfego de veículos na cidade do Rio de Janeiro por 14 meses ou interromper 5,4 milhões de voos de ida e volta entre a capital fluminense e Nova Iorque, nos EUA. “Ao adquirir um item usado ou seminovo, a compra de um produto novo é evitada, e consequentemente,  as emissões associadas à sua produção também. Além disso, o item usado vendido não será descartado e as emissões de gases relacionadas à gestão de seus resíduos também serão poupadas”, conclui Oudshoorn.


Moda de segunda mão

A consultora de imagem Carol Fajardo fala sobre as vantagens de investir em comprar e vender peças semi-novas.

Como promover uma moda mais consciente?

“Como consultora de imagem, eu entendo pouco sobre os processos de produção, como tingimentos, lavagens etc, mas posso falar sobre o que acredito ser uma moda consciente. Primeiro, é ter realmente consciência do que se está consumindo, ter propósito no vestir, vestir-se com intenção. Em termos de marca, acho que promover uma moda consciente é pensar em todo o impacto da cadeia produtiva, desde danos à natureza até o pagamento justo de todos os funcionários envolvidos no processo. Se existe terceirização de parte da produção, é dever da marca acompanhar se os fornecedores também estão de acordo com as práticas da empresa.”

Quais as vantagens de comprar e vender roupas de segunda mão?

“Eu adoro roupas de segunda mão. Acredito que existe muita roupa no mundo, e quando compramos de segunda mão, evitamos que sejam produzidas novas peças. Além disso, eu acho muito mais exclusivo. Roupas de brechó têm história e muitas vezes são peças únicas, que não existem mais. Também adoro a sensação de estar vestindo um ‘achado’, algo de qualidade muito boa, pagando um preço muito inferior do que se estivesse na arara de um shopping.”

Quais as dicas para quem quer vender roupas usadas?

“Para vender eu acho que vale sempre pensar: “Eu compraria essa peça?”. Há que existir respeito com quem vai comprar: a roupa tem que estar em boas condições, limpa e se por um acaso tiver alguma avaria, é obrigação de quem está vendendo, sinalizar. Se a roupa não estiver tão legal, é melhor doar do que querer ‘enganar’ o comprador.”

A pandemia mudou nossa relação com o consumo?

“Não tenho certeza, ainda mais vendo tanta gente ansiosa para voltar às compras e aos shoppings, mas na minha opinião, deveria. Estar em casa tanto tempo deveria ter nos mostrado que precisamos de bem menos do que temos. Não usar todo o potencial do nosso armário, agora perdeu o sentido. Roupa estraga mais guardada do que sendo usada, então acho que a pandemia deveria nos mostrar que não vale a pena ficar “economizando” roupa bonita. Espero que, no fim, tudo isso nos mostre que as nossas peças prediletas fazem a gente se sentir mais feliz, animada e bonita!”


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