Seja acém, coxão duro, contra filé ou a picanha, não importa; o que vale é que o preço da carne segue em alta no mercado. Mas, porque será que esses valores estão subindo tanto?
Antes de responder a essa pergunta, vale ressaltar que, em outubro de 2024, certamente, os preços das carnes apresentaram a maior elevação mensal em quatro anos, com um aumento de 5,81%. Como resultado, esse incremento ultrapassou a média da inflação dos últimos 12 meses, que foi de 4,76%. As projeções apontam que os preços devem subir até 16,1% em 2025, afetando também a carne suína e o frango. No que tange a esse último, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço do frango congelado aumentou 8,10%. Enquanto isso, o frango resfriado teve uma alta de 7,65%.
Carne em alta
Já na pecuária, o setor apresenta um momento de grande aquecimento, segundo pesquisadores do Cepea, da Esalq/USP. Nos últimos três meses, os preços de todas as categorias de animais (boi, fêmeas e reposição) têm registrado aumento constante. A exportação atingiu um recorde em setembro, superado em outubro, e os preços da carne em novembro já estão acima dos meses anteriores, o que favorece a continuidade de grandes volumes de exportação.
No mercado interno, a equipe do Cepea observa que os indicadores macroeconômicos indicam que o consumo dos brasileiros permanece robusto, mesmo com os preços elevados. De acordo com as pesquisas do Centro, o preço (ajustado pela inflação) da carne com osso no atacado da Grande São Paulo atinge o maior nível em 3,5 anos.
Refletindo a dinâmica acelerada do setor, informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) recentes mostram que o abate de animais está em ascensão. Nos meses de julho, agosto e setembro, a produção de carne bovina cresceu 6,3% em relação ao trimestre anterior e 14,3% se comparado ao mesmo período do ano passado. Inclusive, a alta da carne contribuiu para a elevação da inflação em outubro com o percentual de 0,56%.
Inflação
Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou 0,44%. O resultado do último indicador foi incentivado sobretudo após aumento nos preços da energia elétrica residencial (4,74%), e no grupo alimentação e bebidas (1,06%), impulsionado pelo aumento das carnes (5,81%). No ano de 20245, a inflação acumulada é de 3,88% e, nos últimos 12 meses, de 4,76%.
Alguns cortes se destacaram, como o acém (9,09%), a costela (7,40%), o contrafilé (6,07%) e a alcatra (5,79%). “Analogamente, o aumento no preço das carnes pode ser atribuído à redução na oferta desses produtos. Isso por conta do clima seco. E, por consequência, a diminuição no número de animais abatidos. O alto volume de exportações também é outro fator preponderante”, explica André Almeira, gerente do INPC e IPCA. Essa foi a maior variação mensal dos preços das carnes desde novembro de 2020, quando a variação foi de 6,54%.
A convergência de fatores climáticos adversos, como secas e períodos de chuvas intensas, tem impactado negativamente a produção de grãos que servem como ração animal, encarecendo o custo da criação de gado. O aumento nos preços dos insumos, como fertilizantes e rações, também é outro fator interessante a ser considerado, uma vez que esses custos são repassados ao consumidor final.
Trata-se da maior variação mensal de carnes desde novembro de 2020, quando foi de 6,54%. Alguns cortes se sobressaíram, caso do acém (9,09%), costela (7,40%), contrafilé (6,07%) e alcatra (5,79%).
Índice Nacional de Preços ao Consumidor
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou uma alta de 0,61% em outubro. O percentual superou em 0,13 pontos percentuais o resultado de setembro, que foi de 0,48%. No acumulado do ano, o INPC apresenta uma elevação de 3,92%. Enquanto que nos últimos 12 meses, a alta é de 4,60%, acima dos 4,09% verificados nos 12 meses anteriores. Em outubro de 2023, a taxa foi de 0,12%.
Os preços dos produtos alimentícios, incluindo a carne, aumentaram 1,11%, marcando a segunda alta consecutiva, acelerando de 0,49% em setembro para 1,11% em outubro. Por outro lado, a variação dos preços dos produtos não alimentícios foi de 0,45%, abaixo do resultado de setembro, que foi de 0,48%.
Analisando os índices regionais, Goiânia apresentou a maior alta, com 0,94%, influenciada pelo aumento do preço do tomate (26,88%) e da energia elétrica residencial (9,76%). Por sua vez, Aracaju teve a menor variação, com apenas 0,09%, beneficiada pela queda nos preços do transporte urbano (-6,22%) e da gasolina (-2,88%).
O IPCA considera as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC se aplica às famílias com rendimentos de 1 a 5 salários-mínimos. Essas famílias são residentes nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju. O próximo resultado do IPCA e INPC, referente a novembro, será divulgado em 10 de dezembro.
Tendência
Assim como a carne de boi, há a elevação de preços no frango e nos suínos. O aumento está atrelado também ao preço do boi gordo, cujo crescimento foi de 10,47% em novembro, de acordo com o Cepea. Com o boi mais caro, o consumidor tende a buscar alternativas, levando a um aumento na demanda por outras proteínas e, consequentemente, elevando os valores.
Apesar da queda no preço do boi gordo no início de dezembro, o Cepea prevê que a demanda por frango permaneça forte nas próximas semanas, impulsionada pelas festas de final de ano, período em que as vendas geralmente aumentam.