O aumento do número de mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas é evidente. Porém, a equidade com os homens pode levar até 80 anos. A informação é do Relatório Global de Equidade de Gênero, do Fórum Econômico Mundial. Para tentar diminuir esse tempo, uma pesquisa feita com líderes de 400 empresas ao redor do mundo indicou três medidas prioritárias para serem tomadas: ?iluminar o caminho para a liderança feminina, acelerar a mudança na cultura empresarial com políticas corporativas progressistas, e construir um ambiente de apoio?.
A pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar? GPTW Brasil aponta que embora seja nítida a ascensão feminina nos postos de trabalho dessas companhias, há espaço para evoluir mesmo nos ambientes corporativos reconhecidos pela excelência na gestão de pessoas ? sobretudo na questão salarial.
De acordo com análises do GPTW Brasil, em 1997 ? ano da primeira edição da pesquisa ? 25% dos colaboradores das Melhores Empresas para Trabalhar eram mulheres, sendo que 11% ocupavam cargos de gestão; em 2014, esse índice subiu para 47% nos postos de trabalho e 40% na gestão. ?Mesmo em um cenário de ascensão feminina nos ambientes corporativos, vemos que é preciso aumentar a participação das mulheres na alta gestão. No ano passado, a pesquisa registrou apenas nove mulheres como presidentes?, avalia Ruy Shiozawa, CEO do Great Place to Work Brasil.
Se as mulheres hoje são 58% dos formados em curso superior no país, pesquisa revela que, além de difícil a inserção nos altos cargos, os números são inexpressivos: 14% dos executivos eram mulheres, 4% presidentes de empresas e 3% integravam conselhos de administração. Realmente um disparate, pois hoje contamos com um número expressivo de mulheres ingressantes nas universidades, de acordo com o senso de 2012, cerca de 55% dos matriculados são mulheres?, conta a professora Brigitte Bedin – Coordenadora Geral da Pós-graduação Lato Sensu da Universidade Guarulhos.
Apesar disso, a edição 2014 do estudo mostrou que nos cargos executivos e de gestores seniores das empresas premiadas, as mulheres ganham em torno de 71% do salário dos homens.
Mas por que ganhamos menos?
Em uma cultura em que gravidez é punida com demissão ou redução da autonomia no ambiente de trabalho, a maternidade é, obviamente o maior tabu para o mercado de trabalho.
Para a Professora Ligia Pinto Sica, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Direito e Gênero da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dois motivos ajudam a explicar os salários menores das mulheres.
Ela cita a cultura patriarcal, que valoriza mais o trabalho do homem, e a questão reprodutiva – empregadores enxergam perdas produtivas quando funcionárias grávidas saem de licença maternidade.
?É um traço cultural. O Brasil mantém o estereótipo de gênero no qual o salário do homem vale mais do que o da mulher, e isso é reforçado pelo fato de que a licença maternidade, de até seis meses, é muito maior do que a paternidade, de apenas cinco dias. Passa-se assim a ideia de que cuidar do filho é responsabilidade única da mulher?, afirma a pesquisadora.
Sica diz que uma possível medida para mudar tal percepção seria aumentar o período de licença paternidade. ?A sociedade precisa perceber que num dado momento o homem pode entrar em campo para que a mulher não tenha que necessariamente perder sua posição no mercado de trabalho?.
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