Mesmo em um ano de crise, o número de startups no país cresceu 30% em 2015, ultrapassando a marca dos quatro mil empreendimentos inovadores. De uma vez por todas, o Brasil se consolidou como um polo referência para startups, reunindo importantes fatores que são essenciais para o fortalecimento do ecossistema empreendedor.
Apesar do cenário promissor, ainda temos uma barreira fortíssima para que os novos negócios se multipliquem ainda mais. A atual legislação não compreende a realidade das startups. Em outras palavras, as startups possuem dinâmicas e processos muito particulares, mas precisam se adequar a leis que só fazem sentido para empresas tradicionais, que vivem uma rotina bem diferente.
A abertura de uma Sociedade Anônima, os custos e impostos cobrados, a dificuldade no fechamento de empresa e outros processos burocráticos fazem uma diferença enorme na vida de novos empreendimentos. As startups precisam ser enxutas e ágeis, mas isso é impraticável com a regulamentação atual. Dessa forma, uma das principais causas que desanima os empreendedores brasileiros é justamente a burocracia.
Isso não tem consequências negativas apenas para essas empresas, mas também para o desenvolvimento do país. Diante das dificuldades que encontram aqui, os empreendedores procuram resolver seu problema lá fora. Por exemplo, a contratação de mão de obra ou a busca por investimento estrangeiro é muito menos burocrática do que procurar talentos e aportes nacionais. Dessa forma, estamos gerando inovação dentro do Brasil, mas pagando para o exterior, já que as maiores oportunidades estão lá fora.
Não é esse cenário que queremos. Nosso objetivo é ajudar o país a crescer, inovar e se tornar referência mundialmente. Para isso, precisamos da aproximação do poder público. Os governantes devem entender que as startups têm particularidades que são diferentes de qualquer outro empreendimento. Mais do que isso, é importante conversar com os empreendedores, ouvir o nosso ponto de vista. É ótimo que algumas decisões já estejam sendo tomadas em prol do empreendedor, mas raramente somos convidados para expor nossas ideias.
Startups, poder público e população têm o mesmo desejo: ver o Brasil crescer e ter a inovação como fator fundamental para resolver nossos problemas. Estamos alinhados no pensamento, mas separados por um abismo na execução. Se houver maior aproximação entre startups e governo, certamente o Brasil só tem a ganhar.
*Rafael Ribeiro é gerente executivo da Associação Brasileira de Startups