Mesmo que você não assine plataformas de streaming ou jogue xadrez, é bem possível que já tenha ouvido nos últimos meses sobre um tipo de abertura do jogo que utiliza o peão, o gambito da rainha. A culpa é da série de mesmo nome que estreou no final de outubro na Netflix e se tornou a produção mais assistida da plataforma em todo o mundo, com 62 milhões de expectadores em apenas 28 dias, segundo a própria empresa.
E a audiência não se movimentou apenas para maratonar a série ambientada durante a Guerra Fria e protagonizada por uma jovem prodígio no xadrez. As buscas no Google por termos relacionados ao jogo mais que dobraram em novembro. E o comércio sentiu a febre. A Ri Happy, maior varejista de brinquedos do país, viu as vendas de itens de xadrez crescerem 200% em relação a novembro de 2019.
A J’adoube, especializada no jogo, teve um crescimento de 114% no número de pedidos e 103% nas receitas depois do lançamento da série. Nos Estados Unidos, o livro no qual se baseia a produção entrou na lista dos best-sellers do The New York Times, quase 40 anos após o seu lançamento.
O sucesso de O Gambito da Rainha não é o primeiro e, com certeza, não será o último a impactar o comportamento dos consumidores. As plataformas de streaming de vídeo estão cientes disso e o mercado precisa ficar atento para poder aproveitar o movimento assim que ele surge.
Plataformas de streaming cresceram durante a pandemia
Atualmente, de acordo com uma pesquisa da Nielsen Brasil em parceria com a Toluna, 42,8% dos brasileiros assistem a conteúdos de streaming diariamente, enquanto outros 43,9% adotam a prática pelo menos uma vez por semana.
A Netflix, líder global no número de assinantes, viu sua hegemonia cair no Brasil durante a pandemia. De acordo com uma pesquisa da NZN Intelligence, 30% dos brasileiros agora assinam a Amazon Prime Video, contra 24% da gigante mundial. Completam o top 5, a Globoplay com 7% dos assinantes, Telecine e HBO Go, com 4% cada.
A chegada da Disney Plus ao país, em meados de novembro, deve alterar os números nos próximos meses. E outras plataformas de streaming, como o Hulu, devem chegar ao Brasil em 2021, consolidando o modelo de comercialização de entretenimento que já é o favorito dos brasileiros.
Pelo levantamento da Nielsen, 73,5% dos entrevistados afirmaram preferir as plataformas, enquanto 63,8% disseram usar serviços como o YouTube e Vimeo, 61,5% a TV aberta e 54,9% TV a cabo.
A ficção influenciando a vida real
Assim como aconteceu com o cinema e as produções de televisão durante o século XX, atualmente as séries – bem como os games – mexem diretamente com o imaginário da audiência no mundo todo. E isso, não raramente, se traduz em consumo.
Não existe um padrão. Grandes sucessos recentes como Breaking Bad ou Game of Thrones levaram hordas de fãs a comprar tudo o que podia fazer referência às séries: livros, pôsteres, camisetas, canecas, bonecos colecionáveis e até fantasias.
Mas outras vezes a moda é diretamente impactada. O êxito da espanhola A Casa de Papel, lançada em 2017 pela Netflix, transformou o vermelho (cor dos macacões usados pelos principais personagens da série) em tendência no vestuário e no look feminino. O corte de cabelo da personagem Tokio, vivida por Úrsula Corberó, foi outra influência da série que, literalmente, fez a cabeça de mulheres no mundo todo.
O universo masculino viu algo parecido com a inglesa Peaky Blinders, lançada em 2014 pela Netflix e ainda em exibição. A série sobre gangsters da década de 1920 influenciou cortes de cabelo e o gosto por boinas, ternos e casacos escuros bem cortados.
Influência das séries não é uma coincidência
Você pode não notar, mas muitas produções adotam estratégias diretamente ligadas ao consumo. A mais utilizada é o chamado product placement (algo como posicionamento do produto, em português). Trata-se da inserção de uma marca dentro da história através do uso natural dos personagens.
O irish whiskey Jameson bebido por Don Draper na já clássica Mad Men, a cerveja Estrella Galicia, favorita dos ladrões da já citada A Casa de Papel ou os agasalhos Adidas de vários estudantes da série adolescente Thirteen Reasons Why, da Netflix, são exemplos.
O consumo de algo que aproxima as pessoas da obra admirada é um comportamento comum e as oportunidades para o mercado vão além do óbvio, por isso é preciso prestar atenção para poder surfar a onda.
Voltando ao exemplo de O Gambito da Rainha. Não era possível prever que uma série de época sobre uma garota que joga xadrez fosse fazer tanto sucesso. Mas aconteceu e empresas e profissionais que atuam em diferentes segmentos – mesmo aqueles que não possuem nenhuma relação com o jogo – podem aproveitar o momento.
É possível dialogar com a série através de objetos de decoração, peças de vestuário e produtos beleza, entre outros. É preciso usar a criatividade e usar elementos da história para despertar uma conexão emocional com o consumidor.
Outros sucessos virão, é preciso ficar atento
Como o aumento do número de plataformas de streaming no mercado e o gosto do brasileiro cada vez mais voltado para esse modelo de entretenimento, oportunidades não devem faltar. As próprias plataformas apostam mais em algumas produções do que em outras e é possível perceber isso pela movimentação no ambiente digital.
Por isso na hora da maratona do final de semana é bom manter um bloco de anotações por perto e não deixar de conferir as redes sociais, principalmente as mais “rápidas” como o Twitter, TikTok e Instagram. Elas costumam apontar tendências que podem se transformar em ótimos negócios.
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