Nos últimos dias, uma das frases de Pedro Herz circulou pelas redes sociais: “Viver é passar e deixar passar”. Ele, no entanto, está entre as pessoas que fizeram muito mais do que apenas passar pela vida. Pedro esteve à frente da Livraria Cultura no auge da história desta, que se tornou uma referência, um ícone cultural.
É impossível contar a história de Pedro sem mencionar a mãe, Eva Herz, que veio de Berlim para o Brasil em 1938, pouco antes de a vida se tornar insustentável para o povo judeu naquele país. No Brasil, ela encontrou um refúgio. Pedro nasceu em 1940 e, em 1947, Eva lançou um serviço de aluguel de livros na sala de sua própria casa, no bairro dos Jardins, em São Paulo. A ideia surgiu como uma alternativa para complementar a renda do lar.
Em 1950, Eva passou a vender livros, além de alugá-los e, aos 19 anos, Pedro tornou-se sócio da mãe. Em 1969, o serviço de aluguel foi definitivamente substituído pela livraria que, então, ficava em um sobrado na rua Augusta – também era lá que a família morava.
Também em 1969, Pedro Herz assumiu a gestão dos negócios. Assim nasceu a Livraria Cultura, instalada no Conjunto Nacional, na esquina da mesma Rua Augusta com a Alameda Santos. Mais do que uma loja, Pedro liderou a criação de um modelo de negócio transformador, com um atendimento personalizado, uma variedade de obras incomparável – tanto de livros quanto de DVDs, discos de vinil e CDs.
A Livraria Cultura transformou-se em um espaço de conforto, segurança e bem-estar para quem ama livros, assim como Pedro amava. Da mesma forma como Eva encontrou refúgio no Brasil, o brasileiro encontrou na Livraria Cultura um refúgio. A experiência da livraria resgatava o espírito de compartilhamento de livros: havia quem passasse por lá com extrema frequência apenas para ler.
Além disso, a loja tornou-se um ponto de encontro e uma referência no cenário cultural de São Paulo. Especialmente na unidade do Conjunto Nacional, foram realizadas inúmeras atividades culturais e inúmeros lançamentos literários – acompanhados muitas vezes por debates envolvendo os autores das obras. Tais atividades culturais eram feitas no Teatro Eva Herz, que segue como palco de diferentes peças teatrais.
A Livraria Cultura chegou a empregar 1300 pessoas e alcançou um faturamento de R$ 230 milhões. Desde 2015, entretanto, enfrenta desafios que se iniciaram devido a mudanças estruturais do mercado editorial e foram intensificados pelo cenário pandêmico, a partir de 2020.
Sabe-se que, em 2023, a Livraria Cultura passou por um duro processo, mas o desfecho foi positivo: as lojas de São Paulo e Porto Alegre estão abertas. Foi imensa a comoção do público diante da possibilidade de fechamento – especialmente do espaço no Conjunto Nacional –, deixando claro que a Livraria Cultura não começou como uma loja e, ainda hoje, é muito mais do que isso.
Pedro desenvolveu o negócio de Eva Herz para transformá-lo em uma referência cultural e alcançou esse objetivo: a primeira loja ainda é e sempre será parte da história de São Paulo, dos paulistanos e, é claro, da experiência do cliente no Brasil.
A vida pode até passar, mas o legado e a lembrança de Pedro Herz ficarão.