Em muitos outros países os livros e outros serviços culturais são vistos como itens de primeira necessidade. No Brasil, diferentemente, podem ser tidos como supérfluos em momentos de crise econômica ― como, por exemplo, na desaceleração iniciada em e na pandemia de coronavírus. Nestas ocasiões, livros costumam a ser um dos primeiros gastos cortados pelas famílias.
O peso do varejo físico
Esta é uma das razões pelo qual as livrarias, editoras e o mercado editorial como um todo vêm enfrentando um processo de crise nos últimos cinco anos.
As megastores Saraiva e Cultura estão em processo de recuperação judicial desde 2018, por uma somatória dos fatores da crise político-econômica e mais recentemente pela pandemia do novo coronavírus, que fechou o comércio e instalou a população em isolamento social.
Segundo uma pesquisa da Associação Nacional de Livrarias (ANL), em 2018 as vendas de livros impressos por ecommerce representavam apenas 38% do total das vendas no Brasil ― o que aponta que o varejo físico de livros ainda ainda exerce enorme influência no país.
O Book Advisor Eduardo Villela, que já teve passagem por editoras como Saraiva, Campus-Elsevier, Évora, dentre outras, comenta que pandemia foi uma verdadeira tragédia para o mercado de livros nacional. A Saraiva ― que já chegou a ser a maior livraria do Brasil ― tinha 70% da saída de livros impressos pelas lojas físicas, e apenas 30% via site, indica Villela. Logo, mesmo em marcas cujo varejo online é relevante e bem-estruturado, o peso da loja física continua sendo muito grande.
Os dados da Saraiva refletem as informações disponibilizadas pela ANL para o mercado literário geral no Brasil: antes da pandemia, 60% das vendas eram feitas em livrarias e apenas 40% via sites (o que inclui os sites das próprias redes de livrarias).
“A grande maioria das pequenas e médias livrarias não disponibilizavam esse tipo de recurso, ou não usavam de modo eficaz. Portanto, não conseguiram se manter competitivas nesse período e tiveram que fechar as portas”, diz Villela.
Lojas virtuais: salvadoras da nação?
Mesmo com o peso das livrarias digitais sendo tão modesto no país, graças a elas o mercado literário pode manter um mínimo de ânimo nos últimos meses.
Cerca de três semanas após o início do confinamento e fechamento do comércio começou um lento movimento de recuperação nas livrarias, graças, principalmente, às vendas por vias eletrônicas ou via delivery, especialmente através de sites como Submarino, Amazon e Magalu.
De acordo com Bruno Zolotar, Diretor de Marketing e Vendas da Editora Rocco, a tendência das vendas por meios não-físicos chegou para ficar. “O aumento da participação do varejo eletrônico nas vendas de livros avançou muito nessa pandemia, e as lojas físicas não vão voltar aos patamares de antes.”
Essa mudança de hábitos não retrata apenas o isolamento social e o medo do contágio em vias públicas, mas também à comodidade oferecida pela compra online, aponta Zolotar. “Muita gente que não comprava pela internet notou as facilidades e criou esse hábito.”
Para o Diretor da Rocco, depois da pandemia, a livraria física que não explorar outros canais de vendas, como o delivery ou as vendas pela internet, ficará seriamente ameaçada de sobrevivência.
“Nesse novo contexto, as livrarias físicas terão que privilegiar cada vez mais a experiência dos leitores, e também terem meios de venda via sites, redes sociais ou entrega em casa”, finaliza Zolotar.
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