As perspectivas do mercado de luxo no Brasil foram discutidas em painel mediado pela jornalista de moda Angela Klinke, com representantes de marcas que atuam no mercado brasileiro discutiram como tem sido esse ano para o setor, atípico em função da Copa e das Eleições. Debate aconteceu no último dia 30, durante o maior evento de varejo da América Latina, o BR Week.
Angela ressaltou que a oportunidade é interessante por reunir empresas de diversos segmentos do mercado de luxo, que passa por uma grande transformação em um cenário de desaceleração econômica, variação cambial, encarecimento do crédito e a ‘concorrência’ das companhias aéreas.
O diretor da Daslu, Sylvio Jorge Mandel, abordou esse tema prontamente. “Nossos maiores concorrentes são a Tam e a American Airlines, que levam todo mundo para Miami e Nova York”, disse. A maior acessibilidade a viagens ao exterior provocadas pela ascensão e abertura da economia brasileira nos últimos anos afetou diretamente as varejistas de luxo, que perderam a condição de ser a única possibilidade de o consumidor ter acesso a uma marca internacional.
Mandel diz que a saída é partir para a diferenciação em todos os níveis. Na Daslu, uma personal stylist vai até a casa da cliente para contextualizá-la de como e em que ocasião deverá usar cada roupa. A empresa também passou a fabricar suas próprias roupas, com estampas registradas por dois anos, garantindo a exclusividade de suas coleções.
A ascensão da classe C também criou na Daslu as clientes de liquidação que recorrem à marca para complementar seu guarda-roupa em determinadas datas. Mesmo caso das ‘clientes de passagem’ do Studio W, as quais já representam 15% do total de seus atendimentos. A sócia da rede de salões de beleza, Rosângela Barchetta, conta que a realidade de 14 anos atrás, quando seu público era composto apenas de celebridades e famílias ricas, mudou.
“Hoje tenho clientes assalariadas que conseguem organizar suas contas para se dar de presente um corte de cabelo de R$ 400 ou um serviço de manicure de R$ 110. Existe também o atrativo de que ela estará fazendo a unha ao lado da Cláudia Raia, da Guilhermina Guinle”, comenta.
Bem mais raro é o cliente do Presentes Mickey, que oferece vasos Baccarat por R$ 40 mil. No entanto, até mesmo eles estão buscando diversificar seu público. “Antes trabalhávamos com baixelas de 24 peças para seis pessoas. Reduzimos os conjuntos para seis peças. Eu quero atingir também aquele casal que compra apartamento de 100 metros quadrados”, diz o sócio-diretor, Carlos Cimerman.
Outra evolução da empresa foi a participação da Internet no negócio, que passou de 4% para 30%. Se por um lado houve mudanças no foco, a expansão é algo ainda visto com cuidado por CImerman. “Para nós, sair de são Paulo é assustador. Talvez Brasília, que tem uma vida social intensa com seus Consulados ou Minas, onde o mercado é mais formal, mas continuamos ainda muito ‘pé no chão'”, responde.
A Montblanc luta hoje contra a redução do tíquete médio trazida pela tempestade de retração econômica no horizonte. Mesmo assim, não tem apresentado redução nas vendas, segundo a diretora de Marketing, Juliana Pereira. “A curto e médio prazo, o Brasil é mercado estratégico por se consolidar como uma vitrine local onde as pessoas têm criado o amor e o interesse pela marca”, conta.
Assim como os anteriores, a estratégia da marca no Brasil também tem sido focada no público aspiracional, para tirar o ‘receio’ das pessoas com a marca. “O extenso portfólio e parcelamento que oferecemos nos tem dado possibilidade de vender o primeiro item de luxo da vida desse consumidor”, explica.
O dono da Moldura Minuto, Antonio Carlos Viegas, nunca imaginou faturar tanto com molduras. Influenciado pelo mercado imobiliário, pelo valor agregado e a procura de arquitetos por seus produtos, a loja atingiu 76 unidades. “Com o País evoluindo e mais pessoas ganhando dinheiro, fomos obrigados a começar a oferecer artigos exclusivos. As serigrafias são assinadas e quando o cliente compra um quadro emoldurado, não o fazemos mais igual”, diz.
Outro salto no negócio foi quando Viegas descobriu o gap entre a Arte e o pôster, que são as fotografias artísticas de baixa tiragem. “As fotos que imprimimos apenas cinco unidades ficam muito caras. Mas as que imprimimos cem não saem tanto e tem uma certa exclusividade, agregam ainda alto valor à decoração da casa”, completa.
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